Em Roma, ministro angolano faz acordos e quer ONU mais forte em Bissau
20 de junho de 2012Além das eleições gerais, o crescimento econômico que Angola alcançou nos últimos anos foi tema do encontro entre o ministro angolano das Relações Exteriores, Georges Chikoti, e seu homólogo italiano, Giulio Terzi.
Chikoti fez um balanço positivo da visita. "Acho que tudo isso abriu ainda mais as possibilidades que existem entre Angola e a Itália”, afirma.
Otimista com os resultados que o encontro pode gerar, o ministro angolano destaca ainda a assinatura do acordo bilateral para a supressão de vistos.
A facilitação de entrada de investidores italianos, em Angola, também foi debatida, mas ainda não foi assinado nenhum documento. “Tenho certeza de que criamos as condições para relançar as boas relações entre os dois países”, avalia Chikoti.
Na entrevista concedida à DW África, Georges Chikoti comenta ainda os principais aspectos da atualidade angolana. Sobre as eleições de 31 de agosto, o ministro considera essencial concentrar-se em algo positivo que não remeta ao passado de guerras.
Para ele, "todos querem a paz e por isso temos certeza de que essas eleições vão reforçar a democracia que já temos e também a própria reconciliação nacional”.
O futuro da Guiné-Bissau
O golpe de Estado de 12 de abril na Guiné-Bissau afetou diretamente as relações do país com Angola. O ministro Georges Chikoti questiona a presença da missão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em Bissau.
Ele diz ter dúvida sobre se a CEDEAO "insiste, da mesma maneira que nós insistimos, de que tendo havido um golpe de Estado não reconheceríamos outras entidades que aquelas que foram golpeadas no dia 12 de abril, no meio de um processo eleitoral". Para ele, é muito difícil "prever um cenário para a Guiné-Bissau que não passe por uma eleição credível”.
No próximo mês de julho, acontece, na capital de Moçambique, a cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A este respeito, Chikoti deve pedir apoio às Nações Unidas para encontrar "uma saída aceitável para todos os guineenses".
Ele considera haver um problema de legitimidade, uma vez que o PAIGC, que é o vencedor das eleições anteriores, não esteja representado no governo atual. "Existe, não só da nossa parte como também da União Africana, uma rejeição automática das atuais entidades de transição na Guiné-Bissau”, pontua.
Desempenho da Missang
O chefe da diplomacia angolana comentou ainda o processo que levou à saída da Missang da Guiné-Bissau. A missão angolana estava no país para apoiar o processo de reforma das Forças Armadas Guineenses.
Georges Chikoti diz que as relações da Missang com o governo golpeado da Guiné-Bissau eram transparentes e revela o empenho da missão em dar um tratamento igual aos militares guineenses: "conseguimos garantir os salários, pagar os tratamentos e providenciar alimentação para os militares".
O político comenta ainda a questão da reconstrução dos quartéis, que não chegou a ser feita, justificando que o trabalho aconteceria em etapas e durante um período de cinco anos. Mas o ministro admite um fracasso da Missang: "uma das questões era desencorajar que durante este período houvesse golpes militares e, infelizmente, aconteceu este golpe que de algum modo nos leva um pouco para trás”.
Contudo, Chikoti destaca a possibilidade de continuidade do processo que já foi iniciado junto às Forças Armadas Guineenses. “No momento existem alguns policiais do Burkina Faso, do Senegal e da Nigéria que vão dar – esperamos – continuidade àquilo que estávamos a fazer ou, eventualmente, outro trabalho", avalia.
O ministro angolano das Relações Exteriores considera que as Forças Armadas Guineenses deveriam passar por uma transformação, como estas mesmas haviam previsto: uma parte delas continuariam, eventualmente, no Exército e outra seria desmobilizada e entraria para a vida civil.
Portanto, seria possível "retirar a parte daqueles que iriam ser o futuro exército a continuarem a serem selecionados e, depois, selecionar outros que também fariam parte do exército guineense”, considera.
Autor: Rafael Belincanta (Roma)
Edição: Cris Vieira/António Rocha