Chimanimani - Moçambique
11 de abril de 2011Baco Ramambo é o mercado central do ouro que corre de mão em mão em Chimanimani. É para lá que Neto António Coco e muitos outros, como ele ainda jovens, se dirigem. O mercado fica longe, para lá do Monte Binga, o ponto mais alto de Moçambique, para lá de subidas e descidas e outras subidas e descidas que iludem pernas inexperientes. É na cabeça que, durante todo o percurso, os jovens balançam a mercadoria que abastecerá os garimpeiros que lá estão em cima.
Só à noitinha, quando a luz se esconde no fundo do planalto, já lá no cimo, todos se permitem a primeira pausa desde o almoço – lá, onde começam as cavernas. É aqui que carregadores e garimpeiros moram. Aqui cozinham, aqui se aquecem com lenha do mato e aqui dormem.
No dia seguinte, Neto chega a Baco Ramambo. Desde que foi agredido por bandidos e as dores lhe limitam os movimentos da mão esquerda, já não extrai ouro. Agora tem constantemente três rapazes a vender produtos na zona do mercado.
Um quilo de farinha: um ponto, 70 meticais, 1,60 euros
Em dias de chuva como hoje, poucos são os garimpeiros que ousam entrar nos riachos – nestas condições impiedosas, a água provoca febres. Assim, só os carregadores faturam.
É certo que os produtos estão baratos no mercado – uma dose de peixe salgado está a dois pontos, que correspondem a 140 meticais ou 3,20 euros; um maço de cigarros são 70 meticais, em pontos: um ponto, sendo que dez pontos equivalem a um grama de ouro – mas por cada dia de chuva que os carregadores passam na montanha, mais um dia alimentam os trabalhadores do ouro.
A verdadeira fortuna não cabe aos que carregam a farinha
Só depois de vendidos todos os produtos, os carregadores descem a montanha. Regressam pelo mesmo caminho, entre a vegetação molhada pela chuva, sobem e descem os montes, entram nos rios, na floresta e correm até à paragem de chapa da localidade da Máquina.
De lá, dirigem-se sem desvios ao mercado do ouro da cidade de Manica. É um mercado legal, do conhecimento das autoridades. Mas lá, também eles, que têm o ouro que, aos olhos dos fiscais, da polícia e do Governo, é ouro sujo, lá, também eles, os filhos perdidos de Chimanimani, podem vender as suas preciosidades embrulhadas nas notas sem valor do Zimbabué.
Vendem-nas aos libaneses, aos americanos e aos sul-africanos que por eles esperam. São estes que fazem as verdadeiras fortunas vindas de Chimanimani – o "El Dorado" que nunca pisaram.
Marta Barroso conheceu estes jovens, acompanhou-os e comeu com eles, ouviu as suas histórias. Tal como eles, percorreu o caminho até Baco Ramambo e dormiu numa caverna de Chimanimani.