Eleições presidenciais adiadas pela quarta vez na Somália
28 de dezembro de 2016Apesar dos sucessivos adiamentos, não significa que o processo eleitoral somali tenha falhado definitivamente, afirmam alguns especialistas, que dizem que as eleições possivelmente poderão ter lugar já em janeiro.
Segundo Michael Keating, enviado especial das Nações Unidas à Somália, o processo eleitoral até registou alguns avanços relativos, embore o país continue numa situação difícil, com uma parte do território muito instável e controlada pela milícia radical Al Shabab. "O mais importante é que se dê prosseguimento ao processo eleitoral. Muitas pessoas continuam a duvidar que esse processo seja possível e que seja possível haver eleições neste país", diz Michael Keating.
O enviado especial da ONU não nega as falhas no processo eleitoral e fala mesmo de corrupção maciça. Mas há que ter em conta a realidade do país, defende o diplomata. "Realmente surgiram suspeitas de compra de votos, de pressão contra eleitores e de manipulações. São casos sérios que devem ser investigados. Só investigando se conseguirá que estas eleições, de facto, se realizem e sejam credíveis", afirma.
Corrupção ameaça país
Hassan Sheikh Mohamud, de 61 anos, é o atual chefe de Estado da Somália. O Presidente, que pertence aos "Hawyes", o clã dominante no país, conseguiu convencer a comunidade internacional de que a Somália não está condenada a ser um Estado falhado e de que vale a pena continuar a acreditar no país.
Mas a verdade é que Hassan Sheikh Mohamud não conseguiu combater a corrupção que ameaça asfixiar o país. Ahmed Soliman, investigador do instituto britânico de pesquisa Chatham House, lembra que o próprio chefe de Estado esteve envolvido em vários casos de corrupção.
"Agora tudo terá de ser feito para que o processo não perca credibilidade. As instâncias internacionais que fiscalizam o processo não podem perder credibilidade. Por outro lado, é certo que as decisões finais terão que ser tomadas pelos próprios somalis", afirma o especialista.
O atual Presidente é, sem dúvida, o favorito numas próximas eleições, mas o atual primeiro-ministro, Omar Abdi Rashid Ali Shermarke, também tem hipóteses, se bem que reduzidas, de reunir o apoio dos delegados com direito de voto no país.
Votação não é para todos
Se se vierem a realizar nos próximos tempos, as eleições na Somália estarão longe de poderem ser consideradas eleições democráticas, segundo os critérios ocidentais.
Apenas 14.025 delegados, representantes dos clãs mais relevantes da Somália, poderão exercer esse direito de voto.
É um número muito pequeno de eleitores, tendo em conta que na Somália vivem cerca de 11 milhões de potenciais eleitores. Mas esses potenciais eleitores, por enquanto, não podem votar, sobretudo por motivos logísticos.
Está tudo em evolução e é preciso dar tempo ao tempo, afirma o enviado especial das Nações Unidas à Somália.
"Estou otimista, apesar de cauteloso, de que em 2020 poderá haver eleições na Somália em que todos os cidadãos terão voto igual e universal. Com isso não quero dizer que vai ser fácil implementar esse processo num país como a Somália", reconhece Michael Keating.