Eleições no Ruanda: Kagame deverá seguir no poder
22 de julho de 2017No dia 4 de agosto, Paul Kagame poderá iniciar o seu terceiro mandato na presidência do Ruanda. A oposição não tem chances, porque o Governo domina quase todos os meios de comunicação social. E estes só têm espaço de antena para Kagame e seu partido Frente Patriótica Ruandesa (FPR).
As autoridades autorizaram apenas mais dois candidatos: Frank Habineza, lider dos Verdes e Philippe Mpayimana, um ex-jornalista independente. Nenhum deles tem a menor hipótese de ganhar, diz o autor Gerd Henkel, que se especializou no Runada.
"A constituição diz que o Ruanda é uma democracia, mas na verdade trata-se de um país governado autoritariamente por Kagame. Este teve êxito económico, mas apresenta graves défices no contexto dos direitos humanos", analisa.
Mudança na legislação
Em outubro de 2015, o Parlamento aprovou maioritariamente uma alteração constitucional para que Kagame pudesse concorrer a um terceiro mandato. Mais tarde a alteração foi aprovada pelo Senado e por um referendo popular. Teoricamente Kagame pode agora ficar no poder até 2024.
O especialista Henkel considera que o risco é grande que Kagame se perpetue no poder. "Também no passado", explica, "ele prometeu varias vezes não ir além de dois mandatos, ou seja, 14 anos, porque até lá conseguiria assegurar a paz no país. Mas não cumpriu a promessa".
Henkel vê o perigo de um vácuo no poder se um dia no futuro longínquo Kagame for obrigado a deixar a presidência. Esse vácuo poderia pôr em perigo a estabilidade do país.
Política económica de Kagame
Apesar da crítica à situação dos direitos humanos no Ruanda, muitos elogiam a política económica do Presidente. Há anos que a economia cresce uma média de sete por cento, 95% da população tem acesso à internet, e mais de 95% têm acesso a cuidados médicos pelo menos rudimentares.
Em entrevista à DW, o analista congolês Jean-Claude Mputu admite que houve conquistas importantes no país, mas adverte que o êxito económico não oculta os problemas do país.
"O Ruanda não se desintegra por causa dos êxitos económicos e do desenvolvimento das infraestruturas. Mas isso é algo passageiro. Por outras palavras: Kagame construiu castelos na areia", disse Mputu, que também acusa o ocidente de fechar os olhos às violações dos direitos humanos no Ruanda, por causa do desenvolvimento económico do país pacificado.