Eleições municipais na África do Sul, um teste ao ANC
20 de maio de 2011"Campanha eleitoral com Mandela", titulou o Süddeutsche Zeitung que fala dos sentimentos mitigados que produzem as imagens do velho herói no momento em que colocava o seu voto na urna.
De um lado, os sul-africanos estão contentes em constatar que Madiba está bem melhor depois da sua infeção respiratória aguda em janeiro... e, por outro, sentem um certo incómodo porque têm a impressão que Nelson Mandela é utilizado como um bom "trunfo" pelo ANC, o seu partido mas também o do atual presidente Jacob Zuma e principalmente o partido que dirige a África do Sul sem dividir o poder desde 1994, data das primeiras eleições multiraciais.
"Votaremos ANC pelo menos até à morte de Mandela"
Alguns analistas pensam que cedo ou tarde, o omnipresente Congresso Nacional Africano vai ter alguns problemas no futuro e acabará por vacilar. É uma questão de tempo, dizem muitos sul-africanos que acrescentam, por exemplo, é preciso ouvir os habitantes de Qunu, a aldeia de infância do ex-chefe de Estado: " Votaremos no ANC pelo menos até à morte de Mandela".
O ANC cujo slogan eleitoral é sempre o mesmo há 17 anos, ou seja,"uma vida melhor para todos", nota o Frankfurter Rundschau...Uma vida melhor para alguns e uma vida de miséria para os outros, corrige um jovem habitante do "township" de Ficksburg, entrevistado pelo jornalista. Aqui, brancos e negros têm um inimigo comum: os funcionários do ANC... incompetentes, corruptos e insensíveis.
"As pessoas lamentam que não tem água potável", dizia estupefato o presidente da camara municipal de Ficksburg a um jornalista, antes de abrir o seu frigorífico cheio de garrafas de água mineral. E isso o que é... não é água ???
Neste tipo de bairro, é provável que os resultados das eleições sirvam de lição ao Congresso Nacional Africano.
Presidente Ouattara investido oficialmente no sábado
A Costa do Marfim e a investidura oficial de Alassane Ouattara neste sábado, como Presidente do país, foi também tema na imprensa escrita alemã. O semanário der Freitag, interroga-se sobre o poder real deste novo presidente que cognominou de "Americano em África", uma referência ao cargo que ocupou no Fundo Monetário Internacional (FMI).
Com 69 anos de idade, Alassane Ouattara, vai dirigir um país profundamente dividido e um país que vive mais das suas recordações do que com a realidade. Uma das prioridades de Ouattara deve ser a renúncia do conceito da
"ivoirité" (marfinidade), o mesmo que o impediu de entrar na corrida presidencial em 2000. Mas isso não será tarefa fácil pois o veneneo ainda está muito ativo: os opositores de Alassane Ouattara não lhe perdoarão fácilmente o fato de ter corrido da cadeira do poder e mais tarde preso o presidente cessante Laurent Gbagbo .
É muito provável que esta herança seja a maior ferida da éra Ouattara, uma ferida que nunca ficará completamente cicatrisada,conclui o semanário der Freitag.
Autor: António Rocha
Revisão: Carlos Martins