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PolíticaPortugal

Eleições em São Tomé : A votação na diáspora

25 de setembro de 2022

Cerca de oito mil são-tomenses recenseados em Portugal votaram pela primeira vez para a escolha dos deputados à futura Assembleia da República. A DW África acompanhou a votação em Lisboa.

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San Tome und Prinz
Foto: João Carlos/DW

De acordo com a Comissão Eleitoral Nacional (CEN-STP), o ato decorreu sem sobressaltos, apesar de se ter registado uma fraca afluência às urnas em Lisboa, Porto, Guarda, Aveiro, Nazaré e Coimbra. Entre as reclamações, há eleitores que criticam a falta de informação, o que levou muitos dos são-tomenses registados a não comparecerem nos locais de votação. 

Herlander Rosário, radicado há quase 20 anos em Portugal, foi o primeiro a exercer o seu direito de cidadania na circunscrição nº 3, na Junta de Freguesia de Amora, sensivelmente pelas 8 horas de Lisboa, quando abriram as 15 assembleias de voto. Congratula-se com o facto desta ser a primeira vez que os são-tomenses na diáspora votam nas legislativas, a exemplo do que já acontece com as presidenciais. 

O imigrante são-tomense, que diz ter votado em consciência, admite que, desta forma, contribui para o reforço da democracia em São Tomé e Príncipe, onde têm lugar neste domingo as eleições legislativas, autárquicas e regional. "Espero que sejam eleições livres e justas e que o partido vencedor tente unir todos são-tomenses, no interior e no exterior do país", afirma Rosário. 

Legalização dos imigrantes 

O eleitor considera que a nova governação deve preocupar-se mais com a questão da legalização dos imigrantes são-tomenses, incentivando também o envio de remessas em dinheiro e bens materiais para o país sem custos aduaneiros elevados. A este pedido junta a situação dos doentes em Portugal cuja condição deve ser melhorada, mas sem especificar as propostas.

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A eleitora Eva Tomé votou em Sacavém e acredita que há muito a fazer para que o seu país continua a prosperarFoto: João Carlos/DW

Eva Tomé, que votou na circunscrição nº 1, em Sacavém, diz que exerceu o seu direito e cumpriu o seu dever cívico "para que São Tomé e Príncipe continue a prosperar". Acredita que há ainda muito a fazer. "O leque é enorme", acrescenta, indecisa em elencar as prioridades.  

"Acho que, em relação à diáspora, falta o Estado são-tomense olhar mais para os cidadãos do país, e tomar em consideração as suas várias necessidades, por exemplo na área da saúde, da educação e do civismo". Espera do novo governo essa consciência. 

"Vivemos cada um à sua sorte"

Hermenegildo Barroso, a viver há 7 anos em Portugal com o estatuto de doente, acha que fez a escolha certa ao votar nestas eleições. "Quero que um dia, quando eu voltar, o meu país esteja melhor em relação àquilo que deixei", desabafa. 

Mas, também lamenta, a falta de atenção por parte da governação em relação aos imigrantes. "Porque nós aqui vivemos cada um à sua sorte". Pede aos próximos governantes mais iniciativas para que o são-tomense a residir em Portugal não se sinta abandonado. 

Entretanto, Barroso critica a falta de informação da parte das instituições responsáveis pelo processo eleitoral. "Eu, por exemplo, vim votar por vontade própria, por ser filho da terra", explica, discordando do recurso às redes sociais onde nem sempre circulam informações credíveis. "Faltou um bom trabalho de informação e de sensibilização", reage a propósito da pouca afluência às urnas, principalmente no primeiro período do dia. 

"Vivo aqui em Sacavém, mas não vi durante os 15 dias de campanha eleitoral alguém a passar na minha porta para informar sobre o processo eleitoral", lamenta. 

Diáspora deve organizar-se melhor 

Natália Umbelina vive agora em São Tomé, mas antes tinha feito o registo eleitoral em Portugal, onde se encontra neste momento. Por não ter havido atualização dos cadernos eleitorais e porque a ocasião foi propícia, a ex-governante são-tomense acabou por votar no Centro Cultural da Quinta do Mocho (Sacavém). Uma vez que mora em Benfica, devia votar perto da sua área de residência, mais precisamente na circunscrição nº 2, na Amadora.  

Tal facto criou algumas dificuldades à cidadã são-tomense, que não revela o seu sentido de voto. No entanto, exorta: "o que eu gostaria, de facto, é que se ouvisse a diáspora". Mas, ressalva, "a diáspora também precisa de se organizar".  

Concorda com a ideia de criação de um Conselho da Diáspora, que sirva de veículo de opinião sobre os destinos da Nação são-tomense. "Da parte do Governo deve haver um maior interesse pela diáspora uma vez que ela existe, ela está instalada um pouco por todo o lado e tem uma força intelectual, económica, entre outras, que pode ser aproveitada pelo país", defende a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros. 

Por outro lado, Natália Umbelina sugere que a diáspora deve organizar-se melhor por forma a posicionar-se como um interlocutor direto na relação com o Estado são-tomense. 

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A assembleia de voto em AmoraFoto: João Carlos/DW

Renovar a classe política 

Abdulai da Costa Cravid ainda não tinha votado. Antes, adiantou à nossa reportagem que os novos partidos devem apostar mais nos jovens como forma de renovar a classe política. "Estar no poder há mais de 30 ou 40 anos para mim não conta", afirma o imigrante que agora vive na Quinta do Mocho, em Sacavém.  

"Acho que um jovem são-tomense, mesmo tendo nascido em Portugal, na Alemanha, Bélgica ou Luxemburgo ou outra parte do mundo, devia igualmente ter a possibilidade de concorrer ao cargo de governante em São Tomé e Príncipe". Costa Cravid entende que estes jovens também podem ter competência para assumir cargos a esse nível e dar a sua contribuição para o desenvolvimento do país. 

A DW também esteve na circunscrição nº 4, que funcionou na Embaixada de São Tomé e Príncipe em Lisboa. Ao meio do dia, o presidente da mesa, Kaunda Boa Morte, deu conta que a votação decorria "com normalidade", mas reconheceu "a fraca adesão das pessoas" nas primeiras horas da manhã, porque "há quem trabalha aos fins de semana". Outra das razões prende-se com a recente mudança das instalações da Embaixada para um novo edifício na capital portuguesa, o que criou algum embaraço a vários eleitores desinformados. 

No entanto, Boa Morte admitiu haver, no segundo período do dia, um aumento da afluência dos eleitores recenseados, sobretudo entre os que trabalham aos fins de semana. 

Contagem dos votos 

Pouco antes da 18h, tempo definido para o fecho das urnas em Portugal, Nilson Lima confirmou a pouca afluência dos eleitores, se comparado com as últimas eleições presidenciais, em 2021. "Ainda é prematuro dizê-lo, mas acredito que o número da abstenção vai aumentar", diz à DW o presidente da Comissão Eleitoral Diáspora Portugal. 

Lima não entende quais os fundamentos desta abstenção, porque a CEN aplicou o mesmo método usado nas presidenciais, no ano passado, tanto na primeira como na segunda volta. "Os locais de votação são os mesmos", reafirma, à exceção da Embaixada que mudou de instalação recentemente.  

Por outro lado, adianta, "não houve nenhum contratempo". A comunicação do ato eleitoral correspondeu ao mesmo método. "A falha de comunicação só poderia existir se mudássemos as assembleias de voto", explica. 

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Depois do fecho das urnas e sob o olhar dos fiscais, as assembleias de voto, integradas por representantes dos partidos mais expressivos no xadrez da política são-tomense, fazem a contagem dos boletins para apuramento dos resultados. Os respetivos editais serão depois comunicados pelos coordenadores e encaminhados à CEN em São Tomé e Príncipe para apuramento final total.

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