Eleições em Moçambique na imprensa alemã
18 de outubro de 2019A instabilidade política e a violência, os efeitos dos desastres naturais, além dos conflitos em Cabo Delgado foram alguns dos temas mencionados por veículos de comunicação alemães como potenciais problemas para estas eleições em Moçambique. Na terça-feira (15.10), 13,1 milhões de eleitores foram chamados a votar nas sextas eleições gerais do país.
Além da instabilidade política e dos mencionados problemas, destacou-se também o perfil deste país africano, de população e democracia jovens, com potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural em poucos anos.
A DW África fez um resumo das principais notícias, com destaque para o dia das eleições, que concentrou o maior número de artigos publicados na internet pelos principais veículos de comunicação alemães.
Observadores eleitorais
Nesta quinta-feira (17.10), as agências de notícias Deutsche Presse Agentur (dpa) e Evangelischer Pressedienst (epd) destacaram as críticas dos observadores eleitorais da União Europeia em Moçambique. Citando o chefe da missão de observadores, Nacho Sánchez, a epd menciona "que a campanha eleitoral moçambicana foi caracterizada pela violência, pelo atentado aos direitos fundamentais e por dúvidas sobre a qualidade do registo eleitoral."
Apesar da campanha eleitoral ofuscada pela violência, as eleições foram bem organizadas do ponto de vista dos observadores da UE, destaca a agência de notícias dpa. Numa declaração distribuída esta quinta-feira, enfatizaram que os arranjos logísticos para a eleição eram apropriados.
Spiegel online: "Situação política é tensa"
No dia das eleições (15.10) o periódico Spiegel ressaltou que o "medo da violência é grande" em Moçambique. A instabilidade política no país africano, os desastres naturais (ciclones Idai e Kenneth) e o terror foram mencionados como aspetos a dificultar as eleições moçambicanas. Isso, naquelas que "são as primeiras eleições desde que o partido no poder FRELIMO e o atual partido da oposição RENAMO assinaram um acordo de paz, em agosto. Por isso, o pleito é considerado extremamente importante para a paz no país", escreveu o Spiegel online.
O Süddeutsche Zeitung também destacou a instabilidade política em Moçambique nestas eleições, com um título provocativo: "A única certeza é incerteza". O jornal online destacou como ponto alto da violência no país o assassinato do observador eleitoral Anastácio Matavel, que aconteceu apenas cerca de uma semana antes das eleições.
RENAMO no poder?
O periódico de esquerda liberal TAZ destacou o cenário político que pode suceder a estas eleições, em que não só o Presidente e o Parlamento são eleitos, mas também os governadores das dez províncias - até agora nomeados pelo Governo. Isso abriria mais possibilidades para membros do partido da oposição, RENAMO, ocuparem cargos, escreve o jornal.
Entretanto, o TAZ termina o artigo acrescentando que o maior desafio para a eleição moçambicana vem de uma direção diferente: os terroristas islamistas que desde 2017 estão ativos na província de Cabo Delgado, rica em recursos.
Os periódicos Zeit online e Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) veicularam, no dia das eleições, que pela primeira vez o Governo da FRELIMO "enfrenta concorrência de verdade". Citando Zenaida Machado, da organização Human Rights Watch (HRW), escrevem que "as chances são boas de que a RENAMO ganhe em várias províncias".
Deutschlandrundfunk: "Nem livres nem justas"
"Nem livres nem justas" foi o título usado pelo veículo alemão Deutschlandrundfunk ao publicar um texto sobre as eleições em Moçambique na sua página online. Segundo o veículo, Moçambique é um dos dez países mais pobres do mundo, mas pode tornar-se um dos maiores exportadores de gás natural em poucos anos. As eleições são por isso ferozmente disputadas, escrevem. "O resultado determinará quem beneficiará do boom esperado".
Já a emissora Zweite Deutsche Fernsehen (ZDF) destacou o papel dos jovens moçambicanos nestas eleições. Salientam que muitos jovens pedem mais acesso à educação e querem mais empregos. "O país, localizado no sudeste africano, não é apenas uma jovem democracia, mas também tem uma população muito jovem. Três quartos dos cerca de 27 milhões de moçambicanos têm menos de 25 anos".
Entretanto, eles seguem esperando "propostas concretas sobre como criar empregos a longo prazo, como melhorar a qualidade da educação e como viver uma vida normal com uma família e um lar". Entretanto, todos estes pontos permanecem vagos para muitos políticos, conclui a emissora alemã, num artigo no seu site.