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Eleições em Angola: Medo dos mortos? Ou da alternância?

22 de agosto de 2022

MPLA confia na vitória a 24 de agosto e diz à UNITA para não ter medo dos mortos, que "não vão sair do cemitério" para ir votar. UNITA desconfia do processo, mas acredita que chegou a sua hora de entrar na Presidência.

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Líder do MPLA, João Lourenço (esq.), e cabeça de lista da UNITA, Adalberto Costa Júnior
Líder do MPLA, João Lourenço (esq.), e cabeça de lista da UNITA, Adalberto Costa JúniorFoto: AFP/Getty Images

Continuidade ou alternância - em Angola, tudo parece resumir-se a isto nestas eleições.

De um lado está o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), equipado com uma mochila pesada de 47 anos de governação. O cabeça de lista do partido, João Lourenço, continua de espada em riste. Aponta para as "obras feitas" e promete continuar a lutar contra a corrupção no país.

"Nós saímos muito mais fortes pelo facto de termos tido a coragem de sermos nós a tomar a medida que se impunha, de dizer um 'basta' à promoção da corrupção", disse Lourenço durante esta campanha.

Do outro lado está a oposição, que, noutras eleições, tem sido esmagada pelas maiorias do MPLA, mas este ano também diz 'basta'.

O candidato da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) à Presidência da República refere que as "obras feitas" de João Lourenço não o convencem.

"Não há democracia sem alternância. Não há. 47 anos depois, chegou a nossa hora", afirmou Adalberto Costa Júnior.

Angola Wahl 2022
Comício da UNITA em Luanda, esta segunda-feira (22.08)Foto: Julio Pacheco Ntela/AFP

Picardia entre JLo e Costa Júnior

Este ano, a UNITA criou uma frente unida contra o partido no poder, juntando pesos-pesados de outros movimentos políticos e da sociedade civil. Com a popularidade da UNITA, sobretudo nas zonas urbanas, a confiança do partido cresceu.

Num vídeo que correu as redes sociais, Costa Júnior desafiou o rival João Lourenço para um debate entre candidatos presidenciais. Fez o convite com um sorriso no rosto, em tom irónico. Para quebrar os costumes.

"O povo angolano está desejoso de ouvir e assistir a um verdadeiro debate eleitoral. Porque é que nos está deixando nesta espera? O que nos divide? Porque tem medo dos resultados das eleições? Não tenha medo! Venha!"

Debate não houve. Mas João Lourenço não esqueceu Adalberto Costa Júnior e, nos comícios do MPLA, respondeu a todas as alegações da UNITA de se estar a preparar uma fraude eleitoral.

"Quando um político, líder de um partido político concorrente, vem a público descredibilizar instituições como a Comissão Nacional Eleitoral ou o Tribunal Constitucional, o que é que ele pretende? Se ele sabe que essas instituições não são credíveis, porque é que o partido concorreu?", questionou João Lourenço em Benguela.

Comício do MPLA em Luanda, julho de 2022
MPLA quer ficar mais tempo no poderFoto: JULIO PACHECO NTELA/AFP

Os mortos nas listas

A UNITA queixa-se que, entre os 14 milhões de angolanos nos cadernos eleitorais, há mais de dois milhões de nomes de mortos que não foram apagados das listas. E teme que esse seja um dos ingredientes usados para fabricar os resultados da votação de 24 de agosto, usando a identidade de eleitores já falecidos.

O cabeça de lista do MPLA ri-se dos medos da UNITA: 

"Eles estão tão mal preparados que até estão com medo dos mortos. Eles acham que os mortos se vão levantar das campas para ir votar no dia 24 de agosto. Isso é possível? Deixem de ter medo dos mortos, que não vão sair do cemitério no dia 24."

Pelo sim, pelo não, Adalberto Costa Júnior mobilizou os militantes.

"Aqueles que estão lá sentados no poder estão a dizer que já têm o resultado, que já ganharam. Vocês vão aceitar? Vão aceitar? Vão deixar roubar o vosso futuro?"

Em resposta, João Lourenço afiou as críticas. Acusou Costa Júnior de acicatar a instabilidade, chamou "burros" a todos os que citam irregularidades no processo e pediram para impugnar as eleições, e criticou quem quer "votar e sentar" no dia do escrutínio para controlar os boletins. 

"A assembleia de voto agora é uma esplanada, onde a pessoa fica horas e horas, pede um café e depois pede uma cerveja?… A assembleia de voto não é isso", comentou o cabeça de lista do MPLA.

Porta-voz da CNE, Lucas Quilundo
Porta-voz da CNE, Lucas Quilundo, está contra a campanha "Votou, Sentou", que considera "imoral". Vários partidos também se opõem à iniciativaFoto: A. Cascais/DW

E os outros partidos?

No fim, o que João Lourenço pede é mais tempo. No manifesto eleitoral, o MPLA promete continuar o combate que começou contra a corrupção e a impunidade. Quer ainda prosseguir com a reforma do Estado, reduzir, no mínimo, para 25% a taxa de desemprego e erradicar a fome e pobreza extrema. 

A UNITA também promete uma "Angola sem fome". No manifesto eleitoral, não diz quanto é que a taxa de desemprego vai baixar, mas garante que apostará no "empreendedorismo", dignificará os trabalhadores informais e aumentará a qualidade dos empregos. Além disso, promete "acabar com todos os tipos de corrupção" e "punir exemplarmente" quem lese o Estado.

Com todos os holofotes virados para este duelo de titãs, as outras seis formações políticas que concorrem às eleições têm ficado na sombra. Todos querem mudanças, incluindo mais empregos, reformas no aparelho de Estado e melhorias na educação e na saúde.

Por outro lado, a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) disse que, depois destas eleições, o ideal seria ter um Parlamento mais equilibrado, com o MPLA a perder a maioria absoluta e a ser obrigado a "negociar com a oposição". O P-NJANGO pede uma "transição tranquila", ganhe quem ganhar. A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) apela a uma votação pacífica no dia 24.

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