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"Diamantes de Sangue – Corrupção e Tortura em Angola"

16 de setembro de 2011

No seu novo livro, o jornalista angolano Rafael Marques expõe a situação da exploração e do comércio de diamantes na região das Lundas, Angola. Lá, os garimpeiros são submetidos a condições de escravatura.

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Rafael Marques diz que o seu livro é um contributo para que outros angolanos possam desfrutar dos seus direitos de cidadania
Rafael Marques diz que o seu livro é um contributo para que outros angolanos possam desfrutar dos seus direitos de cidadaniaFoto: privat

O livro de Rafael Marques, "Diamantes de Sangue – Corrupção e Tortura em Angola" já está nas livrarias e a apresentação pública acontece esta noite (15.09.) no Chiado, Lisboa. O centro desta publicação, que reúne trabalhos iniciados em 2004, está na província angolana da Lunda Norte, onde se concentram as principais áreas de exploração aluvial diamantífera do país e onde grande parte dos habitantes vive em regime de escravatura. O livro, com 230 páginas, reflete a situação dos direitos humanos em Angola e concentra a abordagem em torno da corrupção.

Rafael Marques vê o seu trabalho como uma investigação sobre os esquemas de corrupção no setor diamantífero e "a institucionalização da violência quer por parte das Forças Armadas Angolanas (FAA) quer por parte da principal empresa de segurança privada no país, a Teleservice, que é, por sua vez, propriedade de generais de topo do exército".

Onde está a justiça angolana?

Diz o livro que os diamantes são uma enorme fonte de riqueza em Angola e os cidadãos não retiram benefícios dessa riqueza. Nas zonas de garimpo, as populações são subjugadas e brutalizadas pelas forças militares e de segurança ao serviço do Estado e das empresas diamantíferas. O relato é enriquecido com investigações recentes e, pelas palavras do autor, a divulgação da obra impunha-se "pela urgência da situação: pelas mortes e pelos casos de tortura". Por outro lado, diz Rafael Marques, esta é uma forma "de pressionar as autoridades a fazer valer o papel da justiça em Angola".

Já que as autoridades não processam os generais ou as empresas por crimes contra a humanidade, o jornalista angolano já espera ser processado como autor desses relatórios para ter a oportunidade de ir a tribunal apresentar provas e suscitar uma maior discussão pública no país sobre o conteúdo do livro. A escolha do local para o lançamento (Lisboa) prende-se, segundo o ativista com a censura: "o último relatório que tentei publicar em Angola sobre as Lundas, em 2006, pronto para impressão, foi retirado da gráfica", lembra.

Portugal fomenta corrupção em Angola

O jornalista de investigação também faz referências a Portugal, onde os dirigentes angolanos investem parte do dinheiro que vem das Lundas. Marques aponta o dedo ao Estado português, que, como sócio da empresa Endiama, está igualmente envolvido no negócio dos diamantes. Aos olhos do autor, "Portugal é um dos países que mais apoia e mais legitima o estado de corrupção em Angola".

A única instituição que tutela o livro é a Editora Tinta da China, diz Rafael Marques, porque não quis envolver ou comprometer nenhuma figura pública portuguesa. A obra, que será também publicada em inglês, é, para Rafael Marques, um contributo seu para que outros angolanos possam realizar os seus direitos de cidadania.

Autor: João Carlos (Lisboa)

Edição: Marta Barroso/António Rocha