Dezenas marcharam contra aumento dos combustíveis em Luanda
14 de julho de 2018"Se o combustível subir, quem sofre é o povo," foi uma das frases usadas por dezenas de cidadãos, entre taxistas, ativistas cívicos e estudantes, que marcharam, este sabádo (14.07), em Luanda, contra a pretensão em estudo pelo Governo angolano de subir os preços dos combustíveis.
Exibindo cartazes com dizeres como "o povo diz basta", os cidadãos manifestaram-se com cânticos na avenida Deolinda Rodrigues, uma das principais ruas da capital angolana. Ao longo da marcha, muitos cidadãos, como as zungueiras, juntaram-se ao protesto.
A marcha foi uma iniciativa da Associação Nacional dos Taxista de Angola.
"Estamos aqui a manifestar o nosso descontentamento sobre a pretenção da subida dos combustíveis, que dizem ser uma recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI)," disse Geraldo Wanga, presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA).
Falta de consulta pública
O líder associativo disse ser necessário ouvir-se os parceiros sociais do Estado, antes de o Governo tomar qualquer medida que afete a vida do cidadão, como a subida dos combustíveis em Angola.
"Como o nosso silêncio é entendido da parte de quem governa como um consentimento para a subida dos preços dos combustíveis - e quando não há manifestação pública da parte dos cidadãos, compreendem como aceitação - decidimos fazer esta manifestação para fazer diferente," avaliou Wanga.
"Toda vez que houver qualquer assunto que interfira directamente nas nossas vidas sem consulta, nós vamos nos manifestar," acrescentou.
Isaias Kalunga, Presidente do Conselho Provincial da Juventude de Luanda (CPJ), uma das figuras que participaram na marcha, louvou a iniciativa e também defende uma consulta pública.
"A subida dos preços dos combustíveis vai fazer com que [os preços de] todos os principais produtos básicos subam: vai alterar o preço do pão e das propinas," afirma.
"Sempre que as autoridades quiserem tomar uma decisão do genéro, em querer alterar o preço do combustível, façam um processo de auscultação ads plataformas sociais," apela Isaias Kalunga.
Aumento ainda não foi confirmado
O Governo angolano já disse que ainda está em estudo a possibilidade da subida dos preços dos combustíveis. Ainda assim, Geraldo Wanga avisa: "se subir, assumo publicamente que haverá uma manifestação em todo território nacional".
Os transportes públicos em Angola são dificientes. São, quase sempre, os serviços de táxi - ou "candongueiros", como são conhecidos - que cobrem a carência e dão resposta à demanda. Diariamente, são milhares de pessoas, entre trabalhadores e estudantes, que se socorrem destes seviços para os levar aos seus respectivos destinos.
Manuel António é um dos taxistas de Luanda e falou à DW sobre o seu dia-a-dia.
"Eu gasto oito mil Kwanzas (cerca de 27 euros) diários para encher o depósito do meu carro. No preço actual, já é um transtorno. Se o combustível subir, as coisas estarão piores porque se subir poderá ser o doubro disto que pagamos. Por isso é que estamos aqui e quero agradecer à Nova Aliança por essa iniciativa. Se sobe o preço do combustível, o sofrimento do povo será maior," desabafa.
Ao longo do percuso, muitos participantes mostraram-se descontes com a organização da marcha. Alguns deles queriam que a marcha passasse pelo Largo da Independência.
Sobre este incidente, Geraldo Wanga explicou que “infelizmente alguns colegas não tiveram contato com o roteiro, por isso, verificou-se algum descontentamento da parte de alguns participantes, que alegavam que tinhamos que passar pelo Largo Primeiro de Maio”.
Ainda assim, "cumprimos com aquilo que estava estabelecido no nosso roteiro," contenta-se Wanga.
Polícia não reprime
Normalmente, as manifestantes realizadas em Luanda são reprimidas pela Polícia Nacional. Mas, este sábado, não não foi o caso. O corpo de ordem e segurança destacado no terreno para proteger os manifestantes cumpriu com o seu papel, afirma a organização da marcha.
"Desde já, agradecer o bom serviço prestado pela Polícia Nacional," diz Geraldo Wanga.
Isaias Kalunga do CPJ de Luanda também dá nota positiva à atuação da polícia.
"A atitude da polícia é louvável e aplaudível, porque fez um bom trabalho, ajudou na organização. A marcha decorreu de forma pacífica e ordeira e a polícia ,com o seu cordão de segurança, está a proteger os manifestantes e também a fazer com que haja uma boa circulação rodoviária", conclui.