Detetado em Angola primeiro caso de encefalite japonesa
15 de abril de 2017De acordo com o artigo científico publicado pela equipa liderada pelo investigador Etienne Simon-Loriere, o jovem em causa foi internado em março de 2016, no pico da epidemia de febre-amarela que assolou a capital, com sintomas que incluíam febre, cefaleia e icterícia, nunca tendo viajado para o estrangeiro.
O caso clínico, publicado na revista científica "The New England Journal of Medicine", refere que a amostra do sangue do paciente deu positiva para uma variante da febre-amarela relacionada com o surto da doença em 1971 em Angola, ainda no período colonial português.
No entanto, os cientistas ficaram surpreendidos numa fase posterior da análisa durante a sequenciação do ARN, o ácido ribonucleico de alto rendimento, feito em Paris, ao descobrirem a presença de um genoma de encefalite japonesa relacionado com variantes asiáticas da doença.
A encefalite japonesa é uma doença inflamatória do sistema nervoso central e é considerada a principal causa de infeções agudas no cérebro - as encefalites - evitáveis na Ásia e no Pacífico Ocidental.
A forma mais grave da doença pode provocar a morte em 30% dos casos, embora já existam no mercado vacinas disponíveis.
É preciso maior vigilância
Embora a transmissão local do vírus da encefalite japonesa nunca tenha sido documentada no continente africano, a equipa liderada pelo investigador Simon-Loriere refere que a presença em Angola de mosquitos vetores, nomeadamente da espécie "culex tritaeniorhynchus", e de animais hospedeiros como suínos, implica uma vigilância mais apertada.
"O aumento dos níveis de movimento da população entre a Ásia e África pode fornecer oportunidades para agentes patogénicos expandirem a sua área geográfica", alertam os investigadores do Instituto Pasteur de Paris.
Os cientistas frisam ainda que o vírus da encefalite japonesa pode estar já a circular por outros países africanos.
Epidemia de febre-amarela
Na mais recente epidemia de febre-amarela em Angola, em dezembro de 2015, foram reportados casos em todas as 18 províncias do país e casos de transmissão local em 12 províncias, naquele que foi o pior surto da doença em 30 anos.
No entanto, em fevereiro deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o fim da epidemia de febre-amarela em Angola e na República Democrática do Congo, classificando-a como "uma das maiores e mais difíceis" de sempre.
Esta epidemia fez mais de 400 mortos só em Angola.
A febre-amarela é uma doença hemorrágica viral transmitida pelo mosquito "Aedes aegypti", também transmissor de outros vírus, como o zika ou o dengue.
A vacinação é a principal medida de prevenção contra esta doença que é fatal em cerca de 50% dos casos.