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Desrespeito à alternância de poder causa desconforto na Nigéria

14 de abril de 2011

Em disputa eleitoral, PDP do presidente cristão Goodluck Jonathan endossou candidatura do líder, quando concorrente deveria ser do norte muçulmano. Frustração poderá dar vantagem a Muhammadu Buhari.

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Eleição parlamentar nigeriana no Estado de Kano (9/4)
Eleição parlamentar nigeriana no Estado de Kano (9/4)Foto: DW

Na corrida eleitoral rumo às presidenciais de 16/4 na Nigéria, o norte muçulmano discute especialmente o fato de o PDP (Partido Democrático Popular) do presidente Goodluck Jonathan, ter deixado de respeitar o princípio de rotação, segundo o qual a presidência na Nigéria se alterna entre um presidente do norte muçulmano e um do sul cristão.

Também no interior do PDP, uma regra não-escrita prevê uma rotação do candidato à presidência, entre o norte e o sul, a cada dois mandatos. O antecessor de Jonathan, o muçulmano Umaru Musa Yar’Adua, morreu há cerca de um ano atrás, durante o primeiro mandato. Foi substituído pelo então vice-presidente cristão Goodluck Jonathan. Yar’Adua tinha, portanto, direito a mais um mandato, e o fato de Goodluck Jonathan ter sido designado candidato do PDP às legislativas provocou críticas de várias vozes no norte da Nigéria.

“Eles deveriam ter cumprido o acordo”, diz o cientista político Abubakar Isah Hassan, no Estado de Jigawa, no norte do país. “É uma questão de honestidade. Mas, infelizmente, o acordo foi rompido. Com isso, o princípio de rotação foi anulado. E o resultado é a situação política atual”, critica Hassan, para quem a eleição presidencial também será pautada pela questão religiosa – assim como o foram as eleições prévias no interior do PDP.

De acordo com Hassan, os eleitores ficarão voltados para as próprias comunidades, avaliando os candidatos apenas pelo fato de serem cristãos ou muçulmanos.

Também a jornalista Eunice Bosua, que vem da região central da Nigéria, critica esse desenvolvimento. “Temos tantos problemas econômicos, de educação, o desemprego piora cada vez mais. Deveríamos votar naquele que vai solucionar os problemas, e não na religião que ele segue”, afirma Bosua, uma das poucas cristãs que vivem em Jigawa, Estado majoritariamente muçulmano da Nigéria.

Muhammadu Buhari poderá beneficiar de cenário político atual

Muhammadu Buhari, do CPC, fala durante debate presidencial, em março
Muhammadu Buhari, do CPC, fala durante debate presidencial, em marçoFoto: AP

A frustração com a atitude do PDP poderá dar vantagem especialmente a Muhammadu Buhari, ex-chefe da junta militar da Nigéria (1984/85). No norte da Nigéria em particular, ele é considerado uma espécie de salvador. “Saúde, construção de estradas, escolas, eletricidade, água – beneficiamos de tudo isso quando Buhari era chefe do PTF (Petroleum Trust Fund, no início dos anos 1990)”, lembra a também jornalista Zainab Abdullahi.

Ela também recorda que Buhari conseguiu realizar esses projetos de infra-estrutura sob o poder de Sani Abacha, que chefiava a junta de governo e é tido como corrupto. Em 2003 e em 2007, Buhari tentou em vão chegar à presidência.

Durante as legislativas de 9/4, o PDP sofreu alguns reveses, e de acordo com os resultados disponíveis até o momento, corre risco até de perder a maioria de dois terços na Assembleia nacional.

Porém, o PDP ainda pode contar com divisões no interior do partido de Buhari, o CPC (sigla inglesa para Congresso para Mudança Progressiva). Especialmente em Katsina, terra natal de Buhari e também do falecido presidente Yar’Adua, mas também no Estado vizinho de Kano, os membros do CPC estariam lutando mais uns contra os outros que se unindo contra os demais partidos.

Menos violência e mais “conteúdo” na disputa eleitoral

Muhammad Yahaya, do Democratic Action Group: "Menos violência durante as legislativas"
Muhammad Yahaya, do Democratic Action Group: "Menos violência durante as legislativas"Foto: DW

Durante as eleições parlamentares (9/4), o ativista democrático Muhammad Mustapha Yahaya viu grandes progressos no Estado de Kano, no norte, considerado chave para as eleições. “Houve menos violência que há quatro anos atrás”, avalia. “Talvez isso seja devido ao empenho de atores importantes, como forças de segurança, a sociedade civil, líderes tradicionais e talvez até os chefes dos partidos, que também se empenharam. A corrida eleitoral se baseou muito mais em conteúdos, desta vez”, acha Yahaya, para quem os partidos se concentraram no trabalho político dos adversários. Tentaram, portanto, mostrar em que aspectos são uns melhores que os outros.

Um dos motivos, de acordo com o ativista, é o fato de existirem mais partidos fortes no cenário nigeriano. Em Kano, por exemplo, além do PDP e do CPC, há a ANPP (sigla inglesa para Partido de Todos os Povos da Nigéria).

Por outro lado, as mulheres não tiraram vantagens do novo pluralismo partidário. Ainda menos que no sul da Nigéria, no norte, as mulheres têm pouca esperança de conseguir um assento parlamentar – mesmo nas assembléias regionais.

Autor: Thomas Mösch (DW Hausa)

Revisão: Renate Krieger / António Rocha

Presidente nigeriano Goodluck Jonathan durante as primárias do PDP, antes de ser escolhido candidato da agremiação
Presidente nigeriano Goodluck Jonathan durante as primárias do PDP, antes de ser escolhido candidato da agremiaçãoFoto: AP