Desmobilizados da RENAMO obtêm oficialmente suas terras
16 de abril de 2022Ha alguns dias, circulavam rumores em Moçambique de que a convivência entre membros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) em Mocuba, na província da Zambézia, era espetacular e exemplável para a democracia - incomparável com outros cantos do país, onde as relações entre estas duas formações políticas não são boas.
Com a garantia de terras dada pelo conselho municipal da autarquia de Mocuba aos ex-guerrilheiros da RENAMO, recentemente desarmados e desmobilizados no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), os laços de amizade ficaram fortificados, apesar das ideologias políticas diferentes.
Área total
Em entrevista a DW África, o presidente do conselho autárquico de Mocuba, Geraldo Sotomane, disse este sábado (16.04) que a área total de terra que a edilidade ofereceu à RENAMO corresponde a um hectare, numa área de expansão não muito distante da vila.
Os terrenos não serão exclusivamente habitados pelos ex-combatentes da RENAMO, recentemente desmobilizados, mas também pelos deslocados de Cabo Delgado.
Entretanto, ainda é preciso expandir os serviços, como fontes de água e energia no local, e este é um processo que vai durar muitos dias, devido aos problemas no fornecimento de água.
"Recebemos a solicitação da RENAMO e respondemos com maior urgência possivel. Fornecemos 16 terrenos para igual número de ex-combatentes e, neste momento, estamos a emitir títulos de uso e aproveitamento de terra; de acordo com a lista que recebemos", disse o edil de Mocuba.
Mocuba
O secretário-geral da RENAMO, André Madjibire, que este sábado visitou a cidade de Mocuba, lamentou o fato das outras estruturas governamentais moçambicanas não seguirem o mesmo exemplo do presidente da autarquia de Mocuba.
A entrega dos terrenos aos ex-guerreiros da RENAMO, em Mocuba, na Zambézia, foi requerido pela RENAMO ao Governo da província há mais de oito meses. Apenas a autarquia de Mocuba deu uma resposta satisfatória e a tempo. Outras autarquias ou distritos não responderam, argumentou a delegada da RENAMO, Elisa Cipriano.
"Há muito tempo solicitamos as atribuições de terra para os nossos guerrilheiros recentemente desarmados, mas só Mocuba respondeu à nossa solicitação pelo intermédio do executivo da província da Zambézia", disse.
Encontros
"Mantivemos encontros novamente com o governador para explicar a situação e até agora a situação se mantém [a mesma] noutros distritos da província da Zambézia, inclusive na região sul, nomeadamente Chinde, Mopeia, Luabo, Morrumbala onde também há combatentes da RENAMO", disse.
Os ex-guerrilheiros dizem que estão satisfeitos com a iniciativa enquadrada no processo de pacificação do país, mais que ainda não têm condições para a sua estabilização social. Denunciam falta de materiais para construir suas habitações, alimentação e subsídios mensais.
Entretanto, estas alegações foram refutadas pelo secretário-geral da RENAMO, André Madjibire. "Todos os ex-guerreiros da RENAMO já receberam quites de material de construção no ato da sua desmobilização. Não há nenhum desmobilizado que não tenha recebido material de construção", disse.