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China-África: Pequim quer ter mais influência no continente

Yuan Dang | Lusa | mjp
22 de janeiro de 2024

O interesse e influência da China continuam a aumentar no continente africano. Pequim, apontam analistas ouvidos pela DW, "compra" apoio político e acesso a matérias-primas com enormes investimentos em infraestruturas.

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O slogan do caminho de ferro Mombaça-Nairobi: "Nações unidas - Povos prósperos"
O slogan do caminho de ferro Mombaça-Nairobi: "Nações unidas - Povos prósperos"Foto: Wang Guansen/Xinhua/IMAGO

Estados Unidos e China estão esta segunda-feira (22.01) de olhos postos em Cabo Verde: o país acolhe uma visita de Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, e outra de uma delegação chinesa ligada a um fundo de capitais.

A deslocação do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento China - Países de Língua Portuguesa, até quarta-feira (24.01), visa fortalecer a cooperação entre a China e Cabo Verde em matéria de investimento e negócios.

Na semana passada, o Governo cabo-verdiano reiterou o compromisso com o princípio de "uma só China", após as eleições de dia 12, em Taiwan, que levaram à presidência William Lai, considerado um "agitador" por Pequim. E o interesse e influência da China continuam a crescer também no resto do continente: Pequim, dizem analistas ouvidos pela DW, "compra" apoio político e acesso a matérias-primas com enormes investimentos em infraestruturas.

Ligação histórica

Já é mais do que uma tradição, é quase uma regra: há 34 anos que a primeira viagem internacional do ano do ministro chinês dos Negócios Estrangeiros tem como destino África. 2024 não foi exceção. Wang Yi visitou o Egito, a Tunísia, o Togo e a Costa do Marfim, antes de partir para a América do Sul. Além da crise no Médio Oriente, a agenda incluiu a cooperação económica e o diálogo com a sociedade civil.

Wang Yi e o homólogo egípcio Sameh Shoukry, no Cairo, a 14.01
Wang Yi e o homólogo egípcio Sameh Shoukry, no Cairo, a 14.01Foto: Amr Nabil/AP Photo/picture alliance

África tem um papel cada vez mais importante para a China, que precisa cada vez mais de energia e matérias-primas.

Após a II Guerra Mundial, a China comunista promoveu uma cooperação intensiva com os países africanos. Pequim acabou por se posicionar como porta-voz dos países menos desenvolvidos que, mais tarde, viriam a integrar o que agora é conhecido como "Sul global".

Desde o início da política de reforma e abertura da China, há 45 anos, África tem sido um fornecedor fiável de recursos naturais. Em troca, a China investiu em infraestruturas e em setores sociais como a educação e a saúde.

Nos anos 1970, por exemplo, a China financiou a linha ferroviária de 1.860 quilómetros entre a cidade portuária de Dar es Salaam, na Tanzânia, e Kapiri Mposhi, na Zâmbia.

A Autoridade Ferroviária Tanzânia-Zâmbia (TAZARA, na sigla em inglês), também conhecida como a Ferrovia Uhuru, atravessa a mais importante região mineira de África. Desta forma, a China recebe cobre da Zambia através de uma linha ferroviária que ela própria construiu.

TAZARA liga os portos da Tanzânia às matérias-primas da Zâmbia
TAZARA liga os portos da Tanzânia às matérias-primas da ZâmbiaFoto: DW/F. Wan

Todos ganham - mas há outros interesses em jogo

A China tem princípios normativos distintos, diz Philipp Gieg, especialista em Relações Internacionais da Universidade de Würzburg, na Alemanha. O analista frisa que Pequim não diz a África o que fazer, mas a sua ajuda baseia-se nos interesses chineses. "É dito abertamente. Quando a China diz que 'todos saem a ganhar', significa África mas também a China", resume o politólogo e sociólogo.

"E isso é, por vezes, um pouco mais honesto, quase diria, do que aquilo que por vezes se apresenta no Ocidente e talvez também contribua para o facto de a ajuda ao desenvolvimento ser sempre vista de forma um pouco negativa, como se os países ocidentais estivessem a dar presentes", acrescenta.

Pouco depois das eleições presidenciais em Taiwan, que deram vitória e William Lai, um crítico da China, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês encontrou solidariedade na sua viagem a África. Pequim considera Taiwan território chinês, que um dia será "reunificado" com o continente.

A questão de Taiwan

"O Togo apoia a reunificação da China", disse o primeiro-ministro Victoire Tomegah Dogbe. "Só há uma China no mundo. Taiwan é uma parte integral da China", afirmou Alassane Ouattara, Presidente da Costa do Marfim.

Também o Governo de Cabo Verde reiterou o compromisso com o princípio de uma só China, na semana passada. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional, Rui Figueiredo Soares, recebeu na terça-feira (16.01) o embaixador da China em Cabo Verde, Xu Jie, que levou para o encontro as eleições de sábado, em Taiwan. Além das palavras recíprocas de amizade, cooperação e solidariedade, o governante cabo-verdiano "reafirmou o firme compromisso do Estado de Cabo Verde com o princípio de uma só China". 

Biden e Xi Jinping reforçam as relações entre China e EUA

O ministro dos Negócios Estrangeiros; Rui Figueiredo Soares, "reconheceu os esforços da China para salvaguardar a sua soberania e a integridade territorial, privilegiando as vias pacíficas a fim de manter uma situação estável e manter a paz e estabilidade na região e entre os dois lados do estreito".

A estratégia de Pequim para Taiwan inclui isolar a ilha no palco internacional. Atualmente, apenas 11 países têm relações diplomáticas formais com Taiwan.

Criar dependência

A cooperação económica com África está a ser intensificada no âmbito da Nova Rota da Seda, ou 'Belt and Road Iniciative' (BRI), uma iniciativa lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping: um pilar da política externa chinesa que se traduz em empréstimos para grandes projetos de infraestruturas nos países em desenvolvimento.

A cada três anos, realiza-se uma cimeira entre líderes chineses e africanos, o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC, na sigla em inglês). O mais recente teve lugar no Senegal, em 2021. Numa mensagem de vídeo na ocasião, Xi Jinping disse que as relações sino-africanas eram um exemplo para a comunidade internacional porque "ambas as partes forjaram uma amizade fraterna indestrutível na luta contra o imperialismo e o colonialismo".

Hoje, a amizade entre China e África baseia-se na reciprocidade, diz Marina Rudyak, especialista do Instituto de Estudos da Ásia Oriental da Universidade de Heidelberg, na Alemanha.

Xi Jinping na abertura do Fórum da Nova Rota da Seda, em Pequim, em 2023
Xi Jinping na abertura do Fórum da Nova Rota da Seda, em Pequim, em 2023Foto: Ng Han Guan/AP/picture alliance

"Os países africanos recebem apoio da China em forma de investimento, comércio e ajuda ao desenvolvimento. Em contrapartida, a China recebe apoio político nas correlações entre fluxos financeiros e no sentido de voto dos países africanos nas Nações Unidas, no que toca a questões relevantes para a China", considera.

Capital político

Segundo um estudo da Fundação alemã Friedrich Naumann, a China construiu ou renovou mais de 15 edifícios parlamentares em África. A manutenção a longo prazo destes edifícios dá à China acesso a decisores interpartidários no processo legislativo.

"A China tornou-se um interveniente fundamental na (re)formação das instituições políticas em África", diz Marina Rudyak. "É claro que a China também está interessada em construir capital político".

No entanto, Pequim rejeita críticas do Ocidente, que acusa de impor condições políticas à ajuda ao desenvolvimento, como a boa governação, a promoção da democracia e os direitos humanos.

"A China acredita que África não precisa de nada disto", acrescenta a especialista.

Ainda assim, os países africanos não veem qualquer competição entre a China e o Ocidente. A China constrói estradas e o Ocidente traz outros bens, diz Rudyak. E África fica com o que precisa.

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