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Desaparece o rosto da independência da Argélia

António Rocha
12 de abril de 2012

A Argélia está de luto. Faleceu esta quarta-feira (11.04), em Argel, aos 95 anos, Ahmed Ben Bella, o primeiro presidente do país. O atual Chefe de Estado Abdelaziz Bouteflika decretou oito dias de luto nacional.

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Ahmed Ben Bella, primeiro presidente da ArgéliaFoto: AP

Foi em Maghia, na região ocidental argelina, que nasceu Ahmed Ben Bella, em dezembro de 1916 no seio de uma família de camponeses. Depois de estudar na escola francesa, Ben Bella foi alistado no quinto regimento de atiradores durante a Segunda Guerra Mundial, tendo recebido várias condecorações do exército francês.

Contudo, logo a partir do fim da guerra, Ben Bella engaja-se na luta clandestina contra a ocupação colonial francesa da Argélia, tendo-se tornado num dos principais líderes dessa luta.

De acordo com Rachid Ouaissa, professor e especialista do Próximo e Médio Oriente, na Universidade de Marburg, na Alemanha, Ben Bella é “uma figura de destaque da luta anticolonial e, em segundo lugar, uma grande personalidade do conflito norte/sul, ou seja, na luta pelo desenvolvimento dos povos”. Ben Bella conviveu de perto com outras personalidades, “foi amigo de Che Guevara, de Nelson Mandela, de Nasser e de tantos outros”, esclarece Rachid Ouaissa.

Em novembro de 1956, Ben Bella, então responsável pelas relações externas da Frente de Libertação Nacional (FLN), foi preso pelo exército francês. Este intelectual de esquerda conheceu as prisões francesas durante cinco anos e meio.

“Uma das minhas referências de juventude”

Pedro Pires
Para Pedro Pires, ex-presidente de Cabo Verde, Ben Bella é um referência incontornável na história da Argélia e de ÁfricaFoto: AP

“Ben Bella foi uma das minhas referências durante os tempos da minha juventude”, recorda Pedro Pires, ex-Presidente de Cabo Verde e galardoado em 2011 com o Prémio Mo Ibrahim por boa governação em África.

Aos microfones da DW-África, Pedro Pires evocou a libertação de Ben Bella das prisões francesas: “assisti à sua libertação, quando foi recebido em Marrocos, em 1962. Nós todos, nessa altura em que decorriam as negociações e em que Ben Bella e o grupo que com ele estava preso em França, fizemos atividades no sentido de forçar a libertação deles. De facto, estava-se no fim do acordo entre a Argélia e a França que decorria em Évian”, lembra o ex-presidente cabo-verdiano.

Na sequência da independência da Argélia, Ahmed Ben Bella é designado presidente do Conselho e depois eleito, em 1963, primeiro presidente da Argélia independente. Seria derrubado do poder três anos mais tarde pelo seu ministro da Defesa, o Coronel Houari Boumédiéne, que ordenou a sua prisão até 1980.

Ben Bella terá cumprido um total de 24 anos nas prisões francesa e argelina. A sua passagem fugaz pela chefia do novo Estado africano deixou contudo marcas, nomeadamente no apoio concedido à luta dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, como nos disse Pedro Pires.

Ben Bella inspirou libertação de ex-colónias portuguesas

Ahmed Ben Bella
Ahmed Ben Bella, o primeiro presidente da Argélia, faleceu aos 95 anos, dia 11 de abril de 2012Foto: picture-alliance/dpa

Segundo o antigo Chefe de Estado de Cabo Verde, “enquanto presidente da República da Argélia [Ben Bella] foi um grande apoiante das lutas de libertação nacional, particularmente nas colónias portuguesas, apoiou bastante o PAIGC [Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde], Amílcar Cabral", conta.

Pedro Pires lembra que “os dirigentes do PAIGC visitaram, na altura, a Argélia, receberam apoio entusiástico de Ben Bella, para o avanço e desenvolvimento nessa luta de libertação nacional”.

Argelinos guardam o espírito de valentia de Ben Bella

Dado o seu percurso, a morte de Ben Balla, aos 95 anos de idade, “significa o desaparecimento, é claro físico, de uma das referências, de um dos combatentes mais ilustres da luta de libertação nacional de África e da Argélia em particular”, afirma Pedro Pires.

Der algerische Präsident Abdelaziz Bouteflika
O atual presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, decretou 8 dias de luto nacional a partir desta quinta-feira (12.04)Foto: picture-alliance/dpa

O ex-presidente cabo-verdiano acredita, contudo, que a ação de Ben Balla perdura na história: “espero que o seu espírito, a sua valentia, a sua determinação e o seu apego à libertação da Argélia que sirvam de referência aos argelinos. Sobretudo agora que irão ter lugar as próximas eleições legislativas, espero que Ben Bella inspire os argelinos para que votem da melhor maneira e para que dêm um novo impulso à construção de um estado democrático argelino”.

Recorde-se que Ben Bella se manteve politicamente ativo até ao fim da sua vida, dividindo o seu tempo entre Paris e Argel. Presidente desde 2007 da Comissão dos Sábios de África, encarregue da prevenção e solução dos conflitos em África, Ben Bella dirigiu uma última reunião nos finais do ano transacto, na capital argelina.

As exéquias daquele que foi o primeiro presidente da Argélia independente e que marcou a história contemporânea do país e da África terão lugar na sexta feira (13.04).