UNITA pede "medidas urgentes" contra a seca no sul de Angola
5 de setembro de 2019A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) vai realizar as suas VII jornadas parlamentares nas províncias da Huíla e do Cunene para alertar para a emergência que se vive na região devido à seca.
"Estamos a ir à Huíla e ao Cunene pela especificidade que esta região está a ter, particularmente devido à gravíssima seca que atinge populações, atinge gado" e cujos impactos negativos não estão a ser minimizados, disse o presidente do grupo parlamentar da UNITA, Adalberto da Costa Júnior em entrevista à agência de notícias Lusa.
Costa Júnior salientou que o problema já atinge cinco províncias angolanas (Huíla, Cunene, Cuando Cubando, Namibe e Benguela) e que os deputados pretendem, no terreno, "debater o que se passa com a sociedade e as instituições", e identificar eventuais soluções para dar resposta "ao sofrimento extraordinário" daquelas populações.
O líder da bancada parlamentar da UNITA disse ainda que o apoio humanitário é importante, "mas não é solução". "Há uma responsabilidade extraordinária assente no poder central, assente em quem governa, em encontrar respostas imediatas e de médio e longo prazo", adiantou, salientando que o agravamento dos problemas comprova "que o Governo não está a fazer bem o seu trabalho".
"Estado de emergência"
A deslocação para uma área de emergência servirá "para alertar ainda mais para a necessidade de medidas urgentes", vincou Adalberto da Costa Júnior, criticando o Governo central por não ter "o bom senso de declarar [o estado de emergência] perante evidências enormes [...] de populações à deriva, sujeitas a ataques dos animais" e "crianças a morrerem". E sublinhou que é notório "um descuido" ou "uma abordagem inadequada do Governo" na resposta ao problema.
"Gasta-se tanto dinheiro mal gasto, não é a falta de dinheiro que causa a fome [...] podemos dizer que é uma incompetência, é uma irresponsabilidade, e isso não podemos aceitar", criticou.
O grupo de parlamentares, que se deslocou àquelas províncias para um trabalho preparatório das visitas, identificou várias situações graves.
Segundo a deputada Albertina Ngolo Felisberto, que integrou esta visita preparatória, em que foram contactados responsáveis dos governos provinciais e autoridades eclesiásticas e tradicionais, há dificuldades no acesso a água, com furos abandonado e competição entre população e gado pela água.
Além disso, das 35 mil toneladas mensais de ajuda humanitária que seriam necessárias para ajudar as populações que estão a ser vítimas da seca e da fome, apenas mil toneladas chegaram ao Cunene, uma das províncias mais afetadas. Os produtos, contudo, eram inadequados à dieta alimentar da população local (milho, peixe seco e sal, que serve de moeda de troca).
"Devemos encarar a situação que se vive no sul de Angola como uma calamidade natural e mobilizarmo-nos como nos mobilizámos para Moçambique", apelou a deputada, sublinhando que "a seca e a fome não se compadecem só com a ajuda humanitária, são problemas cíclicos, são problemas naturais".
"Deterioração dos meios de subsistência"
Do programa das jornadas fazem parte debates sobre o poder local, experiências sobre o desenvolvimento das comunidades locais em Cabo Verde, iniciativas locais para mitigar a crise da seca e a fome, desenvolvimento económico do Sul de Angola, transparência e combate à corrupção.
Os deputados vão também visitar municípios da província da Huíla, a cidade do Lubango, a segunda do país em termos populacionais e fazer uma entrega de donativos no Cunene, com bens identificados como essenciais para a população.
O sul de Angola vive há meses uma situação de seca que afeta milhares de pessoas. Em maio, as Nações Unidas disponibilizaram a Angola 6,4 milhões de dólares (5,7 milhões de euros) para ajudar o Governo a fazer face, nos próximos seis meses, à crise de seca.
"O severo impacto da seca no Sul tem levado à deterioração rápida dos meios de subsistência da população. Segundo dados do Governo provincial do Cunene, o número de pessoas que precisam de ajuda humanitária nessa província aumentou de cerca de 250 mil, em janeiro de 2019, para 860 mil em março deste ano, o que representa já 80% do total da população da província", realçou a ONU.
A 21 de junho, o Presidente angolano, João Lourenço, apelou, através da sua conta no Twitter, à busca contínua de apoios para os milhares de sinistrados da seca no sul do país.