Deficiência de iodo atinge mais da metade de crianças moçambicanas
21 de outubro de 2014A deficiência de iodo ainda atinge 68% das crianças moçambicanas, sendo que 12% delas apresentam um nível de deficiência grave, alerta Koen Vanormelingen, representante da UNICEF em Moçambique. São aproximadamente 3,5 milhões de crianças e 1,5 milhões de mulheres em idade fértil com risco de sofrer consequências graves à saúde.
A ausência de iodo pode causar danos cerebrais, anomalias congênitas, surdez e distúrbios na tiroide como o bócio ou hipotireoidismo. Além de estar relacionada com o aumento de risco de aborto e mortalidade materna.
Florian Schweigert, especialista em Nutrição Internacional e professor na Universidade de Potsdam, na Alemanha, alerta para os riscos à saúde: “Em primeiro lugar, tem de se ter em mente e considerar que a deficiência de iodo é a doença mais importante relacionada a danos cerebrais. O lado positivo é que ela pode ser evitada se a dieta for suficientemente enriquecida com iodo”.
Monitorar mercado e acesso a tecnologia ainda são desafios
A iodização do sal é considerada uma medida de baixo custo e com resultados efetivos para resolver o problema. No início de setembro, o Ministério da Indústria e Desenvolvimento e o Ministério da Saúde de Moçambique organizaram a Reunião Nacional do Programa Nacional de Iodização do Sal onde estiveram presentes representantes do governo, das indústrias de sal e associações parcerias para buscar soluções para o problema.
Moçambique é, desde 1994, signatário da Declaração Universal de Quito para a Iodização do Sal e, em 1995, lançou o programa Nacional de Iodização de Sal. Em 05 de janeiro de 2000, foi aprovada lei que obriga a iodização de todo o sal produzido, comercializado e importado para o consumo humano e animal no país.
Entretanto, segundo Vanormelingen, apenas aproximadamente 60% do sal comercializado em Moçambique é iodado. Para ele, o governo não tem os meios adequados para monitorar o mercado. “Há um problema de regulação. A capacidade do governo para regular o mercado é deficiente, e não tem a capacidade de controlar que a lei seja realmente respeitada pelos produtores”, adverte.
Vanormelingen alerta também para a falta de tecnologias que permitam que os pequenos produtores de sal implementem a medida. Eles são os fornecedores principalmente das províncias Cabo Delgado, Niassa, Nampula e Zambézia, no norte no país, onde o nível de iodização do sal pode ser inferior a 40%. No sul do país, o valor está mais próximo da meta da UNICEF de 80%. É também no norte onde há um maior índice de deficiência de iodo entre crianças e mulheres.
Para Marla Amaro, chefe do Departamento de Nutrição do Ministério da Saúde, o governo ainda não encontrou uma estratégia para lidar com os produtores de sal que ainda não têm a tecnologia. “Primeiro é preciso ter acesso a esta maquinaria. Depois nós temos que mapear cada um dos produtores de maneira a ver como é que nós podemos garantir que eles façam a iodização do sal”, observa. Ela adverte que há dificuldades estruturais por parte do governo para implementar as ações: “Moçambique é um país em vias de desenvolvimento e é difícil por cada um destes pequenos produtores, que não são poucos, a fazer a iodização do sal. Precisamos de uma abordagem que seja sustentável.”
Outras ações
Seria preciso também facilitar o acesso dos produtores ao iodato de potássio, garantir a rotulagem dos produtos no mercado e conscientizar o consumidor sobre a importância de usar o sal iodado.
Segundo Schweigert, é necessário também pensar paralelamente formas alternativas para aumentar a ingestão do iodo na população devido à tendência crescente de se recomendar a redução do uso do sal na dieta, para prevenir doenças cardiovasculares. Por outro lado, Schweigert relata que o risco de excesso de iodo na dieta é praticamente inexistente, uma vez que a quantidade máxima de iodo permitida por lei de 55 ppm (partes por milhão) para ser adicionada ao sal é dez vezes inferior ao valor que causa risco de intoxicação.