Moçambique: Daviz Simango do MDM pede diálogo mais inclusivo
17 de fevereiro de 2016É mais um episódio na série de incidentes violentos que tem marcado a crise política em Moçambique: a Gorongosa voltou a ser palco de confrontos esta quarta-feira (17.02.), com a Polícia da República de Moçambique a acusar homens armados da RENAMO de atacarem um posto de controlo misto das forças da defesa e segurança.
Nos últimos meses, multiplicam-se os relatos de confrontos entre o braço militar da RENAMO e as forças do Governo, além de acusações mútuas de raptos e assassínios.
Perante a escalada da tensão política, Daviz Simango, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique, a segunda maior força política da oposição, pede um diálogo mais inclusivo.
Em entrevista à DW África, o líder do MDM não deixa margem para dúvidas: sem esse diálogo, os conflitos vão continuar.
DW África: Como vê os últimos incidentes registados no país?
Daviz Simango (DS): Essas notícias todas que estão a decorrer levam o país a uma incerteza. E como são bastantes, complicam a vida do cidadão moçambicano. A reconciliação não é efetiva, a paz não é efetiva e os moçambicanos continuam a matar-se. Tudo isso devido às políticas de discriminação, ao ódio e à violência, que afetam as pessoas mais vulneráveis. Essa é uma grande preocupação.
DW África: O líder da RENAMO diz que só dialoga depois de tomar o poder nas seis províncias onde reivindica a vitória nas eleições. Como é que o Governo deve responder perante esta condição imposta por Afonso Dhlakama?
DS: O grande problema é que há vários adiamentos sucessivos, devido à intolerância política. O país gastou muito dinheiro, criou várias comissões de verificação, houve acordos de cessação de hostilidade, criou uma força internacional, portanto, gastou-se rios de dinheiro. Mesmo as conversações no Centro de Conferências Joaquim Chissano, que eram bipolarizadas, não produziram efeitos nenhuns. É importante que se tire o diálogo do âmbito bipolarizado para um diálogo em que toda a sociedade moçambicana esteja envolvida. Não pode haver exclusão num processo de diálogo. Quer o Presidente da República, quer o líder da RENAMO têm de compreender que o caminho da guerra não é o caminho que os moçambicanos escolheram. O chefe de Estado também pode procurar o Afonso Dhlakama e dizer-lhe “Eu estou à sua procura, vamos conversar”.
DW África: Diz-me que a solução para a crise política deve passar por um diálogo mais inclusivo, não apenas entre as duas partes em conflito aberto. Como é que se pode chegar a este diálogo?
DS: O Governo, devido à natureza da responsabilidade que tem, deve ter a iniciativa de dizer “Sim, senhora, nós estamos aqui, a sociedade interessada no processo está aqui, venha também a RENAMO para se juntar ao processo”. O líder da RENAMO está em Gorongosa, não quer sair. Então vamos lá todos, onde ele está, vamos começar as nossas conversações, vamos conversar com o homem. É preciso resgatar o país. O país virou um Estado frágil.
DW África: Na sua opinião, como vai evoluir esta situação? Perante os últimos desenvolvimentos, o que espera que aconteça em Moçambique nos próximos tempos?
DS: Os conflitos vão continuar, porque um persegue o outro. Nós já tínhamos alertado que o desarmamento à força não era a via correta; deu no que deu. Já alertamos que a ida do líder da RENAMO às matas para marcar a sua pujança não era a forma correta. A forma correta é as pessoas se sentarem e dizerem “Sim senhora, as diferenças são essas” e dar outro final a essas diferenças. As duas partes não estão, de forma alguma, autorizadas a tirar vidas aos moçambicanos.
DW África: Há também a questão dos refugiados moçambicanos no Malawi. Ontem, a porta-voz do Governo já admitiu que a crise política e a seca estão a levar a população a refugiar-se no país vizinho. Acha que este é um sinal de que o Executivo está a reconhecer o problema? Irá o Governo apoiar estas pessoas?
DS: O MDM denunciou esse ato. Através da sua comissão política, trabalhou no terreno e veio denunciar. Por isso, é positivo ouvir dizer que o Governo reconhece. Agora, resta saber se os atos práticos, os atos humanistas vão acontecer ou não. Será que o Governo, de facto, vai fazer ou está simplesmente a dar a entender ao mundo que tem o sentimento humano?