"Cubaliwa": Azagaia convida Moçambique a renascer
1 de novembro de 2013
Depois de um primeiro disco (“Babalaze”, 2007) repleto de críticas contra governantes, o rapper moçambicano Azagaia aborda no novo trabalho as responsabilidades de cada cidadão. “Eu senti que havia essa lacuna no meu discurso, que era basicamente apontar as falhas dos políticos. No entanto, eles também saem da sociedade”.
O título Cubaliwa, em sena, língua do centro de Moçambique, significa nascimento. “O disco reúne uma série de coisas que eu pensei que precisariam ser repensadas. Isso só é possível se pararmos para fazer uma análise e decidir começar de novo”.
A produção do disco durou três anos. Enquanto compunha, Azagaia foi lançando temas relacionados com a atualidade, como o single “Movimento de Intervenção Rápida”. No ano passado, o músico escreveu “Emboscada” logo que surgiram ameaças de retorno à guerra entre a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Por causa do tom crítico contra o Governo, faixas do primeiro álbum de Azagaia continuam a não ser transmitidas pelos canais públicos de Moçambique. “Como este disco trata mais das questões puramente sociais, provavelmente, vai tocar mais nas rádios públicas. É um disco que entra em choque, mas também é mais didático”.
Jovens querem a paz
Para o rapper Azagaia, os jovens moçambicanos estão ansiosos pelo fim do impasse entre a RENAMO e a FRELIMO. “Os jovens não viveram a guerra, mas ouviram os relatos. Há uma sede de justiça por parte da juventude, que não entende certas razões dessa disputa. Já é altura de ultrapassarmos isto”.
Tanto a população como a classe empresarial condenaram a tensão político-militar. “Tudo o que é pegar em armas é condenado porque estamos num momento em que se fala de grandes investimentos e negócios, e as pessoas no país já têm uma vida difícil”, diz.
O culminar da instabilidade entre os dois partidos era previsível na opinião do músico. “As condições estavam criadas para chegarmos até esse ponto. Tem sido um braço de ferro desde sempre. Uma situação de princípio de guerra que se contrasta com todos esses bons ventos”.
Azagaia já fez parte do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política de Moçambique, mas no início deste ano afastou-se para preservar sua independência enquanto músico. “O MDM está mais preocupado com o processo eleitoral. Tanto o governo, quanto a RENAMO não têm dado abertura para a mediação”, afirma a propósito da crise instalada desde o ataque (21.10) do exército à base da RENAMO, em Satunjira, Gorongoza, no centro do país.
O nascimento de “Cubaliwa”
Nesta semana, Azagaia divulgou nas redes sociais a nova música “Homem Bomba”. A música “ABC do preconceito” já toca nas rádios de Moçambique desdeb meados de outubro. Entre os convidados do novo álbum estão Stewart Sukuma, Dama do Bling, a Banda Likuti, que canta em dialetos de Nampula, e o rapper angolano MCK. “Embora seja hip hop, pode-se sentir influências sonoras de ritmos africanos. O disco viaja por várias sonoridades”.
“Cubaliwa” será lançado na Associação de Escritores Moçambicanos, em Maputo, a 09 de novembro, dia em que também fica disponível para venda na internet. “Vamos tentar chegar ao mercado angolano, português e brasileiro”, diz Azagaia.