1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Crises político-militares em Bissau e em Bamako têm destaque nos jornais alemães

4 de maio de 2012

A imprensa de língua germânica tem seguido com atenção o que se passa na Guiné-Bissau e no Mali, em particular os esforços internacionais para restaurar a constitucionalidade nestes dois países da África Ocidental.

https://p.dw.com/p/14qJx
Imprensa alemãFoto: picture-alliance/dpa

A reunião do Grupo de Contacto da Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), na quinta-feira (03.05), terminou demasiado tarde para permitir que as conclusões saíssem nas edições em papel da imprensa germânica. Mas as edições online de jornais como o Süddeutsche Zeitung não perderam tempo para informar os seus leitores no dia seguinte.

“Os chefes de Estado reunidos denunciaram os conflitos armados no Mali e na Guiné-Bissau e lamentaram as consequências negativas para a população. No seu segundo encontro extraordinário no prazo de uma semana, a comunidade de 15 Estados advertiu que esta situação não será tolerada”, escreve o Süddeutsche.

Violência em Bamako relega norte do Mali para segundo plano

O jornal austríaco Die Presse, igualmente na edição online, realça a decisão da CEDEAO de enviar tropas de paz “assim que o pedido seja formulado por Bamako”, a capital do Mali. Mas o diário ressalva que “os comissários da CEDEAO deverão ainda consultar os parceiros sobre o financiamento do envio de soldados”. E lembra que “até agora, os golpistas rejeitaram qualquer intervenção de forças estrangeiras”.

“Sangrentos combates em Bamako”, titulou o Tageszeitung. Foi com o termo do golpe de Estado militar pacífico que, nos finais de março, surgiu a esperança no seio de muitos malianos, escreveu o jornal; para logo em seguida acrescentar que "com a tentativa de um contra-golpe de Estado, o objetivo do governo de transição de organizar eleições livres e equitativas, num prazo de 40 dias, foi relegado para um futuro mais longínquo".

Relegada também, acrescentou o jornal, "foi uma solução duradoira e aceite por todos para o norte do Mali controlado desde 6 de abril pelo MNLA, o Movimento Nacional para a Libertação de AZAWAD. Mas esta solução é considerada um elemento central no conflito maliano", conclui o Tageszeitung.

Situação no Mali complica-se ainda mais

Mali Bamako Soldaten
A tentativa de um contra-golpe de Estado no Mali adiou o objetivo da realização de eleiçõesFoto: Reuters

"Golpe de Estado e contra-golpe" lê-se, por outro lado, no Berliner Zeitung ao considerar que a situação no norte do Mali só tem atualmente um papel secundário para o CNRDRE, a junta militar que assumiu o poder no país a 22 de março. Isso, acrescenta o quotidiano, apesar dos militares que ocuparam o poder terem justificado a sua ação "com as hesitações do presidente Amadou Toumani Touré face às atividades dos islamistas radicais e dos secessionistas".

"O certo, destaca ainda o jornal, é que a situação no Mali, atingido por um golpe de Estado, uma secessão e uma crise alimentar, ficou ainda mais complicada desde o recente ataque das tropas leais ao presidente deposto".

Para o Frankfurter Allgemeine Zeitung, Cheik Modibo Diarra, o primeiro-ministro maliano, herdou uma tarefa difícil. Porque deve reunificar o país, quando o norte se encontra ocupado por rebeldes tuaregues e islamistas radicais, e deve garantir o regresso à ordem constitucional.

Mali Ministerpräsident Scheich Modibo Diarra
Modibo Diarra, primeiro-ministro do MaliFoto: picture-alliance/dpa

Isso torna-se mais difícil quando se sabe que o comportamento de vários protagonistas é imprevisível. Aliás, as trocas de tiros noturnas, em Bamako, na passada terça-feira, 1 de maio, foram mais uma prova evidente. O jornal conclui que "Cheick Modibo Diarra é tudo menos um homem político com experiência". E recorda que, aos 60 anos, Modibo Diarra adquiriu uma reputação mundial mas como astrofísico.

Congoleses em fuga

Um outro foco de crise ressurgiu, esta semana, e os jornais alemães escreveram sobre o assunto. No leste da República Democrática do Congo, concretamente na província do Norte-Kivu, milhares de pessoas estão novamente em fuga. Abandonam a região por causa dos combates entre o exército regular congolês e um grupo de soldados desertores comandado pelo ex-general congolês Bosco Ntaganda.

"Este ex-general e presumível criminoso de guerra", recorda o Frankfurter Allgemeine Zeitung, "é um vestígio da grande guerra do Congo, que teve início com o genocídio de 1994 no Ruanda".

O jornal explica que "na altura, Tutsi Ntaganda, que pertence à minoria tutsi congolesa dos Banyamulenge, combatia ao lado do atual presidente ruandês Paul Kagamé contra o regime hutu responsável pelo genocídio. Quando a milícia hutu Interahamwe foi expulsa por Kagamé e se exilou no Congo, Ntaganda instalou-se no Norte-Kivu. E começou a comandar as Forças Patrióticas pela Libertação do Congo, a milícia de Thomas Lubanga, tido como responsável de inúmeros massacres na região de Ituri", pode ler-se no Frankfurter Allgemeine Zeitung.

"Mais tarde, prossegue o jornal, Ntaganda surgiu ao lado de Laurent Nkunda, este também um Banyamulenge, que dizia combater as milícias hutus das FDLR (Forças Democráticas pela Libertação do Ruanda)".

O quotidiano sublinha que "nas duas milícias, na de Lubanga e na de Ngunda, Bosco Ntaganda, sempre foi o homem de Kigali. Em 2009, depois da aproximação entre os governos de Kigali e de Kinshasa, Ntaganda abandonou Laurent Nkunda com os seus combatentes, para ser integrado como general no exército congolês".

DRC Rebellenführer Jean Bosco Ntaganda
O ex-general congolês Bosco Ntaganda comanda um grupo de soldados desertores que combate contra o exército regular da RD CongoFoto: dapd

Os sucessos, algumas vezes espetaculares, conseguidos pouco depois pelo exército congolês contra as FDLR foram antes de tudo devido à presença de Ntaganda, que contou com os serviços de informação militar do Ruanda.

Ntaganda dispunha de boas e credíveis informações. Mas o jornal conclui que "no início do mês passado Ntaganda desapareceu da sua casa de Goma, situada mesmo ao lado da fronteira ruandesa. A sua extradição para o Tribunal Penal Internacional -TPI - será iminente, uma posição contestada pelo presidente Joseph Kabila [da República Democrática do Congo], pelo menos publicamente", acrescenta o Frankfurter Allgemeine Zeitung num artigo publicado na edição de dois de maio.

Autor: António Rocha
Edição: Glória Sousa

04.05.12 Afropresse (versão longa) - MP3-Mono

Saltar a secção Mais sobre este tema