Crise política à vista na Alemanha
7 de novembro de 2024Os liberais são um dos três parceiros da coligação governamental na Alemanha, formada ainda pelos Verdes e pelos sociais-democratas do SPD, o partido do chanceler Olaf Scholz.
Esta decisão faz derrocar os alicerces da coligação e pode abrir caminho a eleições antecipadas no próximo ano, e num momento no qual Berlim também reflete sobre o impacto que o regresso de Donald Trump à Casa Branca terá nos laços comerciais e de segurança.
O chanceler alemão anunciou que irá procurar obter um voto de confiança para que os deputados possam decidir se há ou não eleições antecipadas: "Na primeira semana da sessão do Parlamento no novo ano, apresentarei uma moção de confiança para que o Parlamento a possa votar a 15 de janeiro. Os deputados poderão assim decidir se querem ou não abrir caminho a eleições antecipadas."
E possíveis datas já são avançadas: "Estas eleições poderiam então ter lugar, o mais tardar, no final de março, sob reserva dos prazos estipulados na lei constitucional."
Este anúncio surge após Olaf Scholz demitir o ministro das Finanças, Christian Lindner, dos Democratas Livres, declarando que já não havia qualquer "base de confiança” com Lindner.
Troca de acusações
Scholz alega que "demasiadas vezes, os compromissos necessários foram abafados por disputas encenadas publicamente e exigências ideológicas ruidosas".
E exemplifica: "Demasiadas vezes, o Ministro Federal Lindner bloqueou leis de uma forma irrelevante. Demasiadas vezes, enveredou por tácticas partidárias mesquinhas. Demasiadas vezes quebrou a minha confiança. Chegou mesmo a retirar-se unilateralmente do acordo orçamental, depois de já o termos acordado em longas negociações."
"Não existe qualquer base de confiança para uma futura cooperação. Não é possível trabalhar seriamente com o governo desta forma”, entende.
Ora Olaf Scholz não ficou sem resposta. O agora ex-ministro das finanças, Christian Lindner, acusa o chanceler de falhar no que toca à capacidade de reformular a enconomia do país.
"Olaf Scholz há muito que não reconhece a necessidade de um novo despertar económico no nosso país. Há muito que minimiza as preocupações económicas dos nossos cidadãos. Mesmo agora, está a pôr em causa as decisões necessárias para que os cidadãos possam voltar a orgulhar-se da Alemanha", acusa.
Lindner entende que "as suas contrapropostas são monótonas, pouco ambiciosas e não contribuem para ultrapassar a fraqueza fundamental do crescimento no nosso país, para que possamos manter a nossa prosperidade, a nossa segurança social e a nossa responsabilidade ecológica."
Os Verdes vão manter-se no Governo
A coligação tem sido afetada por divergências crescentes, particularmente em torno do próximo Orçamento do Estado. Com a economia alemã a registar uma contração pelo segundo ano consecutivo, Lindner exigiu reduções nos impostos sobre as empresas, uma flexibilização das normas climáticas e uma redução dos benefícios sociais.
Muitas destas ideias são reprovadas pelo SPD de Scholz, o tradicional partido dos trabalhadores alemães, e pelos Verdes, de esquerda.
O vice-chanceler, Robert Habeck, afirmou que o seu partido, os Verdes, o terceiro parceiro da aliança, vai manter-se num governo minoritário e "continuar a cumprir as nossas obrigações”.
A ministra dos Negócios Estrangeiros, dos Verdes, Annalena Baerbock, afirmou que o caos político em Berlim, numa altura tão volátil a nível mundial, significa que "este não é um bom dia para a Alemanha e não é um bom dia para a Europa”.
Numa altura em que o frio começa a apertar na Alemanha, os próximos tempos poderão ser de forte nevoeiro político, até que os deputados no Bundestag abram caminho ao futuro imediato.