Cresce preocupação com a economia de Cabo Verde
10 de janeiro de 2014
A oposição política em Cabo Verde acusa o Governo de inépcia, e este parece que ainda não encontrou uma estratégia eficaz para combater o desenvolvimento negativo, que afecta a vida sobretudo daqueles que menos têm.
Segundo Sebastien Marlier, epecialista para a África do instituto de pesquisa económica britânico Economist Intelligence Unit (EIU): "A economia de Cabo Verde está a abrandar por várias razões. Mas sobretudo por causa do recuo em investimentos estrangeiros e assistência internacional, assim como, muito recentemente, nas receitas de turismo, que é o principal sector económico".
Todos estes desenvolvimentos negativos, diz o economista, são resultado especialmente da crise económica na Europa. Os países europeus em dificuldade reduziram as ajudas para o arquipélago. E a julgar pelos números publicados no terceiro trimestre de 2013, em termos homólogos o turismo sofreu uma ligeira contracção, sobretudo no toca os turistas da Europa.
Embora Sebastien Marlier considere que, ao todo, o desempenho deste sector ainda é relativamente bom. Mas importa, realça, que o país tente atrair turistas de outras partes do mundo, por exemplo da Ásia.
Cabo Verde é penalizado pelo seu próprio sucesso
Outro problema foi que Cabo Verde deixou de receber ajudas orçamentais internacionais por causa da avaliação positiva do seu desempenho económico. Será o arquipélago uma vítima do seu próprio sucesso? "De certa forma isso é verdade. No últimos dez anos, Cabo Verde conseguiu melhorar as condições de vida da população. Dados os próprios constrangimentos orçamentais, os governos europeus decidiram concentrar a sua assistência noutros países prioritários", afirma o economista da EIU.
O especialista baseado na capital britânica, Londres, diz, no entanto, que não há motivo para pânico, pois a economia de Cabo verde continua a ser relativamente robusta. Embora alerte para o problema da dívida públcia crescente.
"A longo prazo coloca-se a questão da sustentatbilidade. A dívida pública aproxima-se dos 100% do Produto Interno Bruto, o que é bastante superior à média regional e até de algumas economias europeias. De modo que há que tomar medidas para evitar problemas de amortização da dívida a longo prazo".
Cidade da Praia terá que reduzir os investimentos em infraestruturas
Tudo depende da actuação futura do Governo, que, por exemplo terá que reduzir os seus investimentos em infraestruturas. O que não será fácil, reconhece Sebastien Marlier: "Isto terá certamente um impacto negativo sobre o crescimento e o desempenho económico a médio prazo. É por isto que a situação na qual se encontra o Governo é um desafio, pois vai ter que encontrar um meio termo entre a consolidação fiscal e um investimento continuado no desenvolvimento".
Neste contexto, o aumento das receitas fiscais torna-se incontornável, defende o especialista. E embora reconheça que uma subida dos impostos possa ter um efeito negativo sobre a economia já fragilizada, a verdade é que ajudaria bastante fechar as lacunas que hoje existem na legislação e permitem a evasão fiscal, afirma.
Finalmente, Sebastien Marlier propõe uma diversificação também dos parceiros comerciais de Cabo Verde, país que tem muito mais para ofercer do que turismo, insiste Sebastien Marlier: "Um aspecto é a sua posição estratégica ao largo da costa ocidental da África, que lhe pode conferir um papel importante na cooperação internacional de segurança ou combate a tráfico de drogas. E para países como Amgola e o Brasil acresce o factor da língua comum".