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Polícia "sem uma bicicleta sequer" para vigiar fronteiras

24 de março de 2020

Autoridades da Guiné-Bissau mandaram fechar as fronteiras por prevenção, mas polícia queixa-se da falta de meios. Ativista social está preocupado com a indiferença de muitos cidadãos em relação ao novo coronavírus.

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Foto: DW/F. Tchuma

A Guiné-Bissau ainda não registou nenhum caso do novo coronavírus. Mas as autoridades sanitárias anunciaram na segunda-feira (24.03) a existência de dois casos suspeitos de infeção, todos cidadãos estrangeiros. Sem avançar detalhes, o diretor-geral de Epidemiologia e Segurança Sanitária da Guiné-Bissau, Salomão Crima, disse apenas que a os suspeitos estão sob observação. Outras fontes falam em cinco casos suspeitos no país.

No Hospital Nacional Simão Mendes, a principal unidade hospitalar na Guiné-Bissau, foi criado um local de isolamento para os casos suspeitos. Dadas as fragilidades sanitárias no país, as autoridades decidiram fechar as fronteiras. As únicas exceções são para o abastecimento de produtos de primeira necessidade e urgências médicas. 

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Mas, à DW África, o comandante da polícia do setor de São Domingos, na linha da fronteira terrestre da Guiné-Bissau com o Senegal, Paulo Intipé, queixa-se da falta de meios.

"Aqui em São Domingos nós temos vários caminhos clandestinos e a Guiné-Bissau, neste momento, não tem nenhum meio para fazer a cobertura. Estamos com falta de meios, principalmente motorizadas para ir ao fundo das matas. Tentamos, mas não podemos. Estamos aqui sentados. A polícia não tem nem uma bicicleta sequer", afirma o responsável.

A falta de meios faz com que as pessoas continuem a entrar na Guiné-Bissau. São Domingos tem a linha de fronteira, a norte, com o Ziguinchor, no Senegal. Ziguinchor já registou vários casos do novo coronavírus, tal como o resto do território senegalês, a ponto de o Presidente Macky Sall decretar o estado de emergência no país.

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O comandante Paulo Intipé nega que os agentes da polícia estejam a receber subornos para deixar passar as pessoas, desmentindo denúncias que têm sido feitas nos últimos dias nos meios de comunicação social do país.

"Há muita gente a desobedecer"

Por outro lado, de acordo com o ativista Albano Barai, continua a haver muitas pessoas na Guiné-Bissau que não estão cientes dos perigos do novo coronavírus.

Albano tem um canal de informação social nas redes sociais muito visitado pelos guineenses, onde fala sobre medidas de prevenção, e, segundo ele, "menos de 50% dos guineenses sabe o que é coronavírus".

"Pelo que pude constatar nas ruas de Bissau e arredores, onde tenho feito as sensibilizações sobre o perigo da doença, há muita gente a desobedecer às medidas de prevenção. Vejo pequenos bares cheios de pessoas à noite. As pessoas estão indiferentes, não querem saber da doença", diz.

A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é para não haver grandes aglomerações de pessoas, manter uma distância de pelo menos um metro dos outros e lavar com frequência as mãos com água e sabão ou com álcool gel.

Se não consegue visualizar o mapa, pode abrir este link da Johns Hopkins University:
https://coronavirus.jhu.edu/map.html

Medidas mais severas?

Antes do anúncio feito pelas autoridades sobre a existência de casos suspeitos no país, Albano Barai já tinha alertado para pessoas com fortes suspeitas de terem contraído a Covid-19.

"Cheguei a receber um vídeo feito num bairro de Bissau, onde médicos entram numa casa de manhã e à noite, de batas e máscaras, para dar assistência a pessoas. Fiz um direto às 23h00 para denunciar o caso, mas ninguém deu ouvidos", denuncia o ativista.

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Magda Robaldo, antiga representante da OMS na África do Sul, Gana, Namíbia e Zâmbia, que foi ministra da Saúde do Governo de Aristides Gomes, afastado do poder, afirma que houve um conjunto de medidas de prevenção que foram interrompidas devido à troca de Executivo.

"Identificámos as quantidades de material de equipamentos e medicamentos que estariam no país e que poderiam ser utilizados se fosse necessário. Isto tudo foi interrompido. Mas tenho estado a verificar que, aos poucos, a sociedade se está a mobilizar. Já estamos numa situação de resposta, porque temos cinco casos suspeitos como foi noticiado", comentou Robaldo.

A DW apurou que vários cidadãos estrangeiros estão a fazer pressão para abandonar já o país. Nesta terça-feira, as autoridades governativas da Guiné-Bissau estiveram reunidas durante todo o dia para analisar a situação e avançar com medidas mais severas de prevenção, de acordo com uma fonte do gabinete da comissão interministerial criada pelo Governo liderado por Nuno Gomes Nabiam.

Para já, foi decretada uma redução dos passageiros nos transportes públicos, para diminuir o risco de contágio. Nos táxis, só será permitido o transporte de duas pessoas, em vez de quatro.