Covid-19: Campanha contra o pânico e discriminação
3 de julho de 2020A cidade de Nampula, no norte de Moçambique, foi recentemente declarada pelas autoridades sanitárias como o primeiro local no país de transmissão comunitária da Covid-19. Em todos os bairros há pessoas infetadas com o novo coronavírus. O medo da doença aumenta entre os cidadãos.
José Samuel, um residente de Nampula ouvido pela DW, lamenta o "secretismo" com que as autoridades têm tratado o assunto: "Temos acompanhado diariamente que não se pode avançar com os nomes [dos pacientes com Covid-19], nem a localização exata…" Outro habitante, Luís Pereira da Silva, avisa que esse "secretismo" pode levar à discriminação de pessoas que apresentem sintomas da doença. Nos transportes públicos, por exemplo, basta alguém tossir para todos ficarem desconfiados.
"De facto nós temos estado preocupados, mas é difícil nós não discriminarmos, porque muitas das vezes não se sabe quem está infetado, porque o nível de testagem é muito baixo e não se tem resposta de testagem em tempo útil", diz Luís Pereira da Silva.
Campanha contra discriminação e rumores
Nampula é atualmente a província moçambicana com mais casos de Covid-19. Ao todo, já foram diagnosticados 307 casos da doença num total de 939 infeções registadas no país. Quatro pessoas morreram.
As autoridades continuam a apelar ao respeito das regras de prevenção da Covid-19. Ao mesmo tempo, pedem às pessoas para não entrarem em pânico. O ministro da Saúde, Armindo Tiago, lançou esta sexta-feira (03.07) uma campanha antidiscriminação: "Queremos com a campanha evitar o pânico, os rumores e o alarme social sem necessidade, que está associado ao aumento do números de casos."
O governante lembrou ainda um provérbio sul-africano que diz "'hoje só eu tenho a doença, mas amanhã é você que a terá', e a discriminação que você faz para mim hoje será retribuída em proporção acima quando você a tiver. Portanto, não há necessidade de discriminar", apelou Armindo Tiago.
A campanha visa sobretudo os maiores locais de concentração de pessoas, particularmente os mercados.
Medidas urgentes para travar pandemia
Na quinta-feira, foi divulgado um estudo que abrangeu 6.272 pessoas na cidade de Nampula e que concluiu que mais de 414 munícipes estiveram expostos ao novo coronavírus. Face a isto, o Governo resolveu adotar medidas urgentes.
O ministro Armindo Tiago diz que a primeira medida será intensificar o processo de reorganização dos mercados da cidade de Nampula. "Vamos [também] fazer o fortalecimento das ações de higiene e saneamento do meio, vamos implementar o pacote de higienização e desinfeção direcionado aos agregados familiares, sobretudo naqueles que têm casos de Covid-19. Vamos acelerar o plano de melhoria no abastecimento de água."
O ministro inaugurou, na quinta-feira, um laboratório com capacidade de testagem de 200 amostras diárias, instalado no Hospital Central de Nampula, para atender a região norte do país.
"Nós vamos ter mais testes a serem realizados na província de Nampula, mas contamos também com as necessidades de testes das outras províncias", afirmou Armindo Tiago. "Isso pode fazer com que haja um aumento do número de casos em função do aumento da capacidade de testagem, mas isso é bom, porque vamos conhecer a real situação da província de Nampula."