Casas mortuárias cheias devido a greve na África do Sul
16 de setembro de 2020Ester Mabusa perdeu o seu filho há mais de duas semanas, mas até agora ainda não conseguiu sepultá-lo. O funeral foi adiado e tornou-se uma incerteza devido a greve em curso na África do Sul.
"Pedimos ao Governo para resolver esta questão. Sou velha e não tenho energias para andar muito como o fiz nos últimos dias. Estou a pedir o corpo do meu Simpiwe para o poder sepultar", reclama.
Os grevistas que estão filiados em cerca de 17 associações e fóruns de agências funerárias reivindicam melhores condições de trabalho e remuneração, bem como a terceirização de serviços de conservação de corpos, certificado de competência, entre outros.
Estas reivindicações fazem parte do memorando que foi entregue ao Presidente Cyril Ramaphosa aquando da marcha dos funcionários das agências funerárias até à Union Buldings, Presidência da República em Pretória, a 16 de outubro do ano passado, mas que até aqui ainda não foram respondidas.
Corrupção em funerais de Estado?
A corrupção é também um dos pontos reivindicados pelos grevistas pelo facto de existirem algumas agências escolhidas a dedo para tratar de funerais de Estado e que chegam a cobrar cerca de 93 mil dólares só pelo tapete vermelho usado na cova antes do enterro, como nos diz Muzi Hlengwa, presidente da Associação sul-africana das Agencias Funerárias.
"Se formos a olhar para trás, e tendo em consideração os funerais de Estado que tivemos este ano, notaremos a existência de uma única agência que realizou todos esses funerais. E não podemos mais ficar indiferentes com estes altos níveis de corrupção."
Covid-19 quase colapsou sistema
Cerca de 3 mil agentes funerários, a nível nacional, paralisaram as suas atividades. Numa altura em que se registam grandes índices de fatalidade devido à pandemia do novo coronavírus, que quase colapsava o sistema funerário sul-africano devido às dificuldades logísticas e ao atraso do processamento da documentação necessária para a realização de um funeral.
Poucas agências estão operacionais, mas não conseguem responder a demanda dos últimos tempos, pelo que Lerato Mkize, uma das agentes funerárias em greve, deixa ficar o procedimento em caso de mortes no domicílio.
"Aconselhamos a comunidade e a população no geral para chamar a polícia forense para casos de remoção dos corpos, porque é responsabilidade do Governo fazer esse trabalho e nós estamos a fazer um favor ao Governo ao removermos corpos das residências", explica.
Sindicato não apoia greve
O Sindicato sul-africano dos Profissionais Funerários distancia-se desta greve e a classifica como ação destrutiva e desumana, na voz do seu vice-presidente Ndabi Ngobo: "Não apoiamos a greve, estamos totalmente contra o encerramento do setor funerário e essa é a nossa posição."
A província de Gauteng, que engloba as cidades de Pretória e de Joanesburgo, esperava proceder ao funeral de cerca de 800 corpos nestes três dias de greve, procedimento adiado para uma nova data.
O Ministério sul-africano da Saúde reagiu à greve, através de um comunicado de imprensa, dizendo estar ao corrente da greve de algumas agências funerárias, descrevendo a medida como "grave" e que coloca em risco a saúde pública.