Covid-19: Aliança global promete acesso a vacinas em África
2 de outubro de 2020As vacinas contra a Covid-19 ainda não estão aprovadas cientificamente e autorizadas para serem usadas no combate à doença. Mas, os países ricos já estão a tentar comprar quase toda a produção para que os seus cidadãos voltem à vida normal.
Por exemplo, as grandes potências como os Estados Unidos de América, o Reino Unido e o Japão, além da União Europeia, já encomendaram 2 mil milhões de doses de, pelo menos, seis vacinas cujos ensaios estão mais avançados. Isto de acordo com a revista Nature.
Como é que os países mais pobres, principalmente os países africanos, vão ter acesso a essas vacinas? O epidemiologista sul-africano Salim Abdool Karim não compreende porque os mais ricos querem comprar tudo só para eles.
Nacionalismo irracional
"É incompreensível que alguns países tenham sido vítimas de um nacionalismo vacinal. Partem do falso pressuposto de que a segurança é possível para alguns países, enquanto o vírus continua a propagar-se nos países mais pobres que não podem comprar vacinas", aponta.
O epidemiologista argumenta que "é simplesmente errado pensar que se pode estar seguro quando outros não estão. Acredito que é do interesse de todo o mundo assegurar que as vacinas estejam disponíveis para as pessoas em toda a parte".
Tendo isso em mente, um grupo de especialistas decidiu criar uma aliança, que tem um programa internacional denominado COVAX, com o intuito de garantir a distribuição justa de vacinas que serão aprovadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), juntamente com outras organizações.
Aprender com erros passados
O COVAX quer evitar o que aconteceu em 2009 e 2010, quando os países africanos receberam uma vacina contra a gripe suína só um ano após o surto.
"É evidente que, a curto prazo, a procura irá superar a oferta de vacinas. Nunca teremos vacinas suficientes se assumirmos que precisamos de duas doses para cada pessoa no mundo", reconhece Aurélia Nguyen, diretora do gabinete de vacinas da organização Gavi, que integra o programa COVAX.
"Queremos assegurar dois mil milhões de doses de vacinas até ao final de 2021. Isso seria suficiente para vacinar as pessoas expostas a maior risco de infeção, tais como idosos, enfermeiros e pessoal médico em cada país", afirma.
Aliança agrega 71 países
O grupo que defende a distribuição justa de vacinas recebeu imediatamente apoio de mais de 71 países com altos rendimentos. Aurélia Nguyen diz que o projeto não só precisa de dinheiro, mas também da solidariedade:
"Podemos conseguir isto porque através do nosso programa [chamado instalação COVAX] podemos reunir o poder de compra de um grande grupo de países e juntos somos mais fortes. Juntos podemos fazer um investimento maior e mais bem coordenado do que qualquer país ou região", justifica.
No entanto, o epidemologista sul-africano Karim acredita que a África precisa de olhar mais de perto para a produção local de uma vacina contra o coronavírus. "A África do Sul não encontrou ainda uma vacina, estou desapontado com isso", diz Karim.
Karim diz que quatro empresas em África são capazes de fabricar ou embalar um produto deste tipo que pode ser disponibilizado em quantidades no continente.
O que falta?
Entretanto, os países africanos já estão a trabalhar na identificação de grupo de países que seriam priorizados quando chegar a vacina contra a Covid-19.
A OMS confia ainda na COVID-19 Technology Access Pool (C-TAP), uma plataforma onde são partilhados os resultados das investigações e a propriedade intelectual, tais como formulações de vacinas.
Para já, o mundo inteiro continua a aguardar com muita expetativa os resultados que promovem a eficácia dos ensaios de vacinas contra a Covid-19, que estão a ser desenvolvidas um pouco por todo o globo.
De acordo com a OMS estão em andamento cerca de 191 projetos. 40 desses projetos estão em avaliação clínica, o que significa que estão a ser testados em humanos.