Corpo de Afonso Dhlakama já está na Beira
4 de maio de 2018"Perdermos o nosso pai, o nosso mestre, a pessoa que é a luz da maioria dos moçambicanos", referiu o dirigente do partido em declarações à Televisão de Moçambique (TVM).
"Não tenho elementos substanciais sobre aquilo que vai acontecer a partir de amanhã [sábado]", acrescentou Manuel Bissopo, referindo que os membros do partido vão "juntar-se com a família" para decidir sobre a sequência dos acontecimentos.
"Em princípio, o funeral vai ser feito na terra natal", em Mangunde, distrito de Chibabava, na província de Sofala, de que a cidade da Beira é capital, referiu Bissopo. Ainda não há data marcada para o funeral, acrescentou.
O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) morreu na quinta-feira (03.05), aos 65 anos, devido a complicações de saúde. Dhlakama vivia refugiado na serra da Gorongosa, no centro do país, desde 2016, como havia feito noutras ocasiões, quando se reacendiam os confrontos entre a RENAMO e as forças de defesa e segurança de Moçambique.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse que foram feitas tentativas para transferir Afonso Dhlakama por via aérea para receber assistência médica no estrangeiro, mas sem sucesso.
Chissano espera que processo continue
O antigo Presidente Joaquim Chissano exprimiu hoje "uma grande mágoa" pela morte de Afonso Dhlakama, mas referiu que "não é com a morte de uma pessoa que se perde tudo", numa alusão ao processo de paz no país. "É uma grande mágoa porque eu trabalhei com Dhlakama para trazer a paz a Moçambique e depois continuei a contactar com ele", referiu o antigo chefe de Estado à Lusa, a partir de Paris.
Joaquim Chissano era Presidente da República quando a 4 de outubro de 1992 assinou com Afonso Dhlakama, em Roma, o Acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra civil moçambicana.
"Todos nós sobreviventes vamos continuar a trabalhar para o bem de Moçambique. Oxalá que o espírito que [Dhlakama] ultimamente tinha abraçado continue a inspirar os que vêm a seguir", sublinhou, destacando que as conversações com Nyusi corriam bem.
Depois do luto, Chissano considera importante que "todos os moçambicanos sigam o exemplo do que o Presidente Nyusi fez com o presidente da Renamo: aceitar a diferença, olhar para o bem da nação e completar o processo para que nunca mais haja guerra em Moçambique". O antigo presidente espera que se consiga ir mais além, "que haja realmente uma colaboração para o desenvolvimento, para se ganhar todo o tempo perdido".
"Consequências imprevisíveis"
O Nobel da Paz e ex-Presidente timorense José Ramos-Horta considera que as consequências da morte do líder da RENAMO para o processo de paz em Moçambique são imprevisíveis, cabendo aos moçambicanos saber como aproveitar esta ocasião.
"A sua ausência pode acelerar o processo de paz ou pode dificultar. Os irmãos moçambicanos melhor do que eu, do que nós, saberão como aproveitar esta ocasião difícil para muitos moçambicanos e tudo fazer para que a paz e a democracia sejam consolidadas em Moçambique", disse o atual ministro de Estado timorense.
Considerando a morte de Dhlakama uma "perda importante" para a RENAMO, Ramos-Horta disse que "independentemente de, no seu passado, ter dirigido uma das maiores carnificinas em guerra civil em Moçambique, também foi um dos coautores, ou co-arquitetos, do Acordo de Paz de Roma que pôs fim àquela guerra civil".
Incerteza
A imprensa internacional que está a noticiar a morte de Afonso Dhlakama destaca a morte de um dos mais antigos "guerrilheiros" em África e salienta que Moçambique poderá viver tempos de incerteza no futuro próximo.
"O anúncio da morte deste monumento da história moçambicana colocou o país em incerteza, apesar de as conversações de paz terem feito grandes progressos nos últimos meses", escreve o jornal francês Le Monde na sua edição eletrónica, que segue de perto o texto da agência de notícias francesa AFP.
Para o britânico The Guardian, Afonso Dhlakama foi "um líder rebelde veterano que misturou a guerrilha com a oposição política".