COP26: ONU exorta líderes a "salvarem a humanidade"
1 de novembro de 2021"É hora de dizer basta. Basta de brutalizar a biodiversidade, basta de matarmo-nos a nós mesmos com carbono, basta de tratar a natureza como uma latrina (...) e de cavar a nossa própria sepultura", afirmou esta segunda-feira (01.11) o secretário-geral da ONU, António Guterres, perante dezenas de chefes de Estado e de Governo presentes na cerimónia de abertura da Cimeira de Líderes Mundiais da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), que decorre até esta terça-feira em Glasgow, na Escócia.
Face à continuação da exploração dos recursos do planeta além do limite suportável, o secretário-geral da ONU pediu a alternativa de "salvar o futuro e salvar a humanidade" e "manter vivo o objetivo" do aumento da temperatura de 1,5 graus e de redução das emissões em 45%, embora, avisou, ainda se esteja longe disso.
António Guterres pediu o fim do "vício em combustíveis fósseis, que está a levar" o clima "ao limite", e que, apesar de recentes anúncios até podem dar a impressão de que a humanidade "está a dar a volta por cima", "isso é uma ilusão", apontando que, na verdade, o planeta deverá aquecer 2,7 graus até ao fim do século.
"Embora as promessas recentes sejam reais e verosímeis e haja sérias dúvidas sobre algumas delas, ainda estamos a caminho de uma catástrofe. No melhor cenário, as temperaturas subirão bem acima de dois graus", acrescentou.
"Padrões claros"
Guterres afirmou também que há um "défice de credibilidade e um superávite de confusão sobre redução de emissões, com metas e métricas diferentes".
"Por isso, além dos mecanismos estabelecidos no Acordo de Paris, hoje anúncio que irei constituir um grupo de especialistas para propor padrões claros para medir e analisar os compromissos de emissão zero de atores não estatais", disse o secretário-geral da ONU.
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
Merkel defende preço para reduzir emissões
No seu discurso na Cimeira de Líderes Mundiais no âmbito da COP26, a chanceler alemã defendeu que fixar um preço para as emissões de dióxido de carbono é a melhor maneira de garantir que as indústrias e atividades económicas se empenham em atingir a neutralidade carbónica.
"Apelo a que se coloque um preço nas emissões de dióxido de carbono, como já fazemos na União Europeia, como a China pretende fazer e como precisamos de aplicar noutros países do mundo. Se o fizermos, podemos garantir que as nossas indústrias, as nossas atividades económicas desenvolvem as melhores tecnologias e métodos para atingirem a neutralidade carbónica", declarou a chefe do Governo alemão.
Angela Merkel salientou que acabar com o uso de combustíveis fósseis como o carvão para produção de energia não depende apenas da ação dos Governos.
É preciso, advogou, "mudar a maneira de fazer negócios" e caminhar para uma "transformação abrangente" que encoraje a passagem para "mobilidade e processos industriais sem emissões carbónicas".
Investimentos em energia limpa
Por seu turno, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu uma "liderança pelo exemplo" no esforço da redução das emissões com efeito de estufa e introdução de energias renováveis, enfatizando o potencial para o crescimento económico.
Na sua intervenção, Biden afirmou que o esforço para travar o aquecimento global "é um imperativo moral, mas também é um imperativo económico".
O Presidente norte-americano destacou a possibilidade de serem criados novos trabalhos e oportunidades económicas e também a possibilidade de reduzir a atual volatilidade dos preços do gás natural e o custo das faturas de eletricidade. "Os preços altos de energia só reforçam a necessidade urgente de diversificar as fontes, reforçando o desenvolvimento limpo", argumentou.
Biden prometeu "investimentos históricos em energia limpa", benefícios fiscais para a instalação de painéis solares e isolarem as casas e aquisição de veículos elétricos, ao mesmo tempo que exaltou o potencial de criação de postos de trabalho no fabrico de painéis e torres eólicas, instalação de cabos para as redes elétricas e produção de sistemas de captura de dióxido de carbono.
PM britânico defende entendimento
Entretanto, o primeiro-ministro britânico avisou os líderes mundiais que a "raiva e impaciência do mundo serão impossíveis de conter" se não conseguirem entender-se para conter as alterações climáticas, uma "máquina do apocalipse" que é preciso desarmar.
"Podemos não nos sentir um James Bond, mas temos a oportunidade e o dever de fazer desta cimeira o momento quando a Humanidade começou a desarmar essa bomba, o momento quando começámos irrefutavelmente a virar a maré e a lutar contra as alterações climáticas", declarou o primeiro-ministro do Reino Unido, país anfitrião da cimeira.
Caso contrário, "todas as promessas terão sido apenas 'blá blá blá' e a raiva e a impaciência do mundo serão impossíveis de conter", alertou, defendendo que a COP26 é o momento de as dezenas de chefes de Estado e Governo presentes em Glasgow usarem a sua "criatividade, boa vontade e imaginação".
COP26
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de Covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
No último domingo, antes da abertura da COP26, o G20, incluindo a China, Índia e nações ocidentais, comprometeu-se com o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 grau.
Os líderes também concordaram em acabar com o financiamento de novas centrais de carvão no estrangeiro sem tecnologia de captura de carbono até ao final de 2021.
Mas o caminho preciso para 1,5 grau ficou em grande parte indefinido e os ativistas expressaram o seu desapontamento com o grupo, que emite coletivamente quase 80 por cento das emissões globais de carbono.