Convite do Presidente a Dhlakama é "doce envenenado"
6 de novembro de 2013A RENAMO, o maior partido da oposição, recusou o convite que o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, dirigiu ao líder do seu partido, Afonso Dhlakama, para um diálogo na próxima sexta-feira, 8 de novembro.
Não há condições para se realizar um encontro "enquanto não cessarem os ataques e a perseguição que o exército está a mover à figura do Presidente Dhlakama e dos seus seguranças", anunciou a RENAMO esta terça-feira (05.11). O partido da oposição exige como contrapartida a retirada do exército da região centro de Moçambique, o seu bastião.
Henriques Viola, do Centro de Estudos Moçambicanos e Internacionais, concorda. "Como é que se pode encetar um diálogo com alguém que nem sequer se sabe onde está? Com alguém cuja casa foi cercada e [num cenário] em que a zona onde ele provavelmente estará se encontra completamente cercada, com armamento bélico apontado na sua direção?"
O analista político critica igualmente a forma como a Presidência moçambicana fez o convite ao líder da RENAMO.
"Em termos factuais e de seriedade, não houve nenhum convite", comenta Henriques Viola. "Porque um convite público que não siga os canais normais de comunicação entre duas instituições não é nenhum convite. A RENAMO disse claramente que não recebeu nenhum convite oficial."
Ainda assim, o analista moçambicano considera o convite de Armando Guebuza como uma demonstração de abertura por parte do Governo.
Do impasse à solução
"Algumas pessoas pensam que esse convite é um 'doce envenenado'", refere Ivan Mazanga, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. O Governo encurralou militarmente Afonso Dhlakama, obrigando-o a refugiar-se em lugar desconhecido, e isso trava o diálogo, diz o analista.
"A situação atual não cria muitas condições favoráveis, principalmente em termos de segurança, para que o próprio líder possa sair de onde está", afirma Ivan Mazanga
Face a este impasse político, que dura há meses, e que agora se agudiza, a necessidade da busca de uma solução negociada é cada vez mais desejada no país. Com a falta de condições para o diálogo e o braço de força entre as partes, que alternativas existem para que se ponha um fim a tensão?
Ivan Mazanga prevê dois cenários. Se o Governo mantiver a posição atual, isso faria com que ambas as partes extremassem as posições "e o conflito a que estamos a assistir irá expandir-se por todos o país, criando um caos", diz. Num segundo cenário, seria necessária a intervenção do Presidente da República para criar condições suficientes para dialogar com o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama. Só nesse cenário seria possível encontrar o caminho da paz, afirma o analista: "É o que todos nós moçambicanos queremos."
Para Henriques Viola, é preciso encontrar uma solução o mais rápido possível. Mas este analista questiona o empenho dos atores políticos: "Talvez eles tenham vontade de dialogar, o que não têm é vontade de resolver."
Luta pela hegemonia
Em Moçambique, aproximam-se as eleições autárquicas, agendadas para 20 de novembro, ainda que no país persistam dúvidas sobre a sua realização.
É precisamente em épocas eleitorais que as disputas partidárias se tornam mais acirradas. Segundo o analista Henriques Viola, os dois principais partidos lutam pela hegemonia, numa altura em que as suas credibilidades estão em causa.
"Quer a FRELIMO, quer a RENAMO são dois partidos que vinham perdendo alguma popularidade em Moçambique", comenta. "A partir do momento em que eles começam com ataques armados significa que se posicionam como os únicos atores capazes de resolver a situação. E, portanto, voltam a estar sob o foco da própria sociedade."