Conselho de Segurança da ONU debate conflito na Líbia
18 de abril de 2019Pelo menos seis pessoas morreram e 35 ficaram feridas nos últimos dias, em mais um bombardeamento no sul de Tripoli. A batalha contra o Governo pelo controlo da capital foi lançada a 4 de abril pelo marechal Haftar, através das forças que lhe são fiéis do Exército Nacional Líbio.
O coordenador da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), Craig Kenzie, destaca a exposição das populações a condições "perigosas e desumanas" e acrescenta que alguns migrantes foram obrigados a integrar as frentes de batalha. "Temos um centro de detenção onde trabalhamos na área de Qasr bin Gashir, do outro lado da linha de batalha, mas não conseguimos ter acesso até ele", explica.
Pelo menos três trabalhadores médicos morreram na sequência dos combates. Doenças como a tuberculose e sarna, assim como a falta de comida e água tornam ainda mais precárias as condições de vida nos territórios afetados.
Refugiados vítimas de "horrores inimagináveis"
Milhares de refugiados e migrantes de todo o continente africano afunilam-se na Líbia na tentativa de chegar à Europa, mas não raras vezes acabam detidos e sujeitos a "horrores inimagináveis", segundo a ONU. Muitos migrantes são mantidos em campos de detenção e sujeitos a trabalhos forçados.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) estima que um em cada 18 refugiados morreu ao tentar atravessar o Mediterrâneo no ano passado. A atual política europeia que criminaliza os resgates de organizações não-governamentais e recompensa a guarda costeira líbia por deter os migrantes expõe milhares de pessoas a novas tentativas de evasão.
Segundo Jacob Mundy, especialista em conflitos na Universidade de Colgate, nos Estados Unidos, algumas milícias no conflito de Trípoli passaram a ver o controlo dos migrantes como uma fonte de receita. "Uma milícia que controla um centro de detenção pode dizer que é um parceiro internacional construtivo em termos de migração. Por isso, os migrantes tornam-se, em certa medida, numa arma de guerra", explica.
Deslocamento da crise
A União Europeia instaurou uma série de medidas políticas para cortar a rota migratória do Mediterrâneo depois de uma onda de populismo anti-imigração tomar conta da Europa. Essas políticas têm sido criticadas por serem apenas um penso rápido e estarem a financiar milícias que controlam o fluxo de migrantes.
"De uma forma estranha, é uma espécie de deslocamento da crise. Tinha-se uma crise política na Europa, que agora está a ser empurrada para a Líbia e que recai sobre os migrantes", afirma Jacob Mundy.
Na Alemanha, um grupo de cerca de 200 deputados lançou um apelo ao Ministério do Interior para facilitar os resgates de emergência no mar Mediterrâneo.
A comunidade internacional continua dividida sobre a ofensiva líbia. Um projeto de resolução do Reino Unido apresentado no Conselho de Segurança pediu um cessar-fogo e acesso humanitário às zonas de combate, mas não foi unânime com a Rússia a bloquear o projeto na semana passada.