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Conflito no Sudão do Sul alarma Comunidade Internacional

Maximilian Borowski, Maria João Pinto18 de dezembro de 2013

Pelo menos 500 pessoas morreram e 13 mil procuraram a proteção da Organização das Nações Unidas (ONU), devido aos combates no Sudão do Sul, segundo informou, nesta quarta-feira (18/12), aquela instituição.

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O conflito em Juba deixou também centenas de pessoas feridasFoto: Reuters

O Governo de Juba confirmou os números de mortos, que afirma ter sido resultado de uma tentativa de golpe de Estado. Mas o antigo vice-Presidente do Sudão do Sul, Riek Machar, apontado pelas autoridades de Juba como um dos autores da tentativa falhada, negou, em entrevista divulgada igualmente nesta quarta-feira, a existência de uma tentativa de golpe de Estado: "O que aconteceu em Juba foi um mal-entendido entre os guardas presidenciais”, afirmou Machar, que se encontra em parte incerta.

Na segunda-feira, 16de dezembro, mesmo antes de ter dito uma palavra na conferência de imprensa, o Presidente sul-sudanês, Salva Kiir, deixou claro a todos os presentes a forma séria como encara a situação: pela primeira vez desde que tomou o poder do país mais jovem do mundo, independente há apenas dois anos e meio, não apareceu vestido de acordo com a sua “imagem de marca”: fato preto e chapéu de cowboy. Em vez disso, surgiu perante os jornalistas com o uniforme de comandante das Forças Armadas do Sudão do Sul.

Observadores preocupados

Kiir anunciou que um golpe de Estado contra si teria falhado, garantindo, no entanto, que o país está seguro. O Presidente sul-sudanês culpa soldados fiéis ao seu antigo vice-presidente, Riek Machar, deposto em julho passado, pelos confrontos violentos registrados na noite de domingo, 15 de dezembro, na capital do país, Juba.

Südsudan Juba Ausschreitungen UN 16.12.2013
O Presidente do Sudão do Sul em conferência de imprensa no dia 16 de dezembro de 2013Foto: Reuters

A noite de violência e a promessa de justiça de Salva Kiir contra os seus opositores estão a preocupar os analistas. Tem havido grande tensão no país desde que o presidente Kiir demitiu todo o Governo. Este ano, vários políticos do seu partido, o Movimento de Libertação do Povo do Sudão, formaram uma espécie de grupo de oposição ao presidente. E Machar, o líder deste grupo dissidente, anunciou no verão que irá concorrer às eleições presidenciais de 2015.

O recurso à via militar é inevitável?

Annette Weber, que investiga sobre o Sudão do Sul no Instituto de Economia e Polícia em Berlim, frisa que esta foi a primeira vez que surgiu no Sudão do Sul um sinal de diferenciação política:“A estrutura do movimento permitiria a criação de vários partidos políticos. Mas se tivermos em consideração o tempo que esta geração de políticos sudaneses passou em guerras e conflitos, então é quase certo, infelizmente, que eles se concentram naquilo que melhor sabem fazer, que é resolver os conflitos através da via militar.”

Südsudan Juba Ausschreitungen UN Flüchtlinge 17.12.2013
A ONU fala de 13 mil refugiados causados pelo conflitoFoto: picture-alliance/AA

Recorde-se que a política sul-sudanesa é completamente dominada pelo antigo Movimento de Libertação do Povo Sudanês (SPLM), que controla mais de 90% dos assentos parlamentares. Desde a independência, o Presidente Kiir tem tentado travar uma corrupção galopante e dominar a rebelião e o conflito no país, um dos mais pobres do mundo, devastado por décadas de guerra. Segundo a especialista Weber, a hipótese de resolver as disputas com a ajuda de eleições e criação de alternativas no palco político caiu por terra no Sudão do Sul.

Rivalidades étnicas

Opinião semelhante tem Marc Lavarne, analista político do Centro Nacional Francês para a Investigação Científica: “A demissão do governo em julho foi já uma mini-revolução, num governo baseado numa coligação de antigos inimigos”. Para este especialista, o ponto de viragem dentro do SPLM aconteceu em 1991.

Südsudan Riek Machar Vizepräsident Archiv 2011
Foto de arquivo (2011) do vice-Presidente destituído, Riek MacharFoto: Stan Honda/AFP/Getty Images

Na altura, Riek Machar e Salva Kiir eram inimigos, o que culminou numa guerra civil que fez mais de 100 mil vítimas, diz Laverne, e acrescenta: “Já havia essa crispação política, mas também uma rivalidade étnica entre a minoria Nuer, grupo a que pertence Machar, e Dinka, ao qual pertence Kiir”.

Receio de envolvimento de Cartum

James Shimanyula, correspondente da DW no Quénia e autor de vários livros sobre o SPLM e o Sudão do Sul, alerta para os relatos ouvidos em Juba, de que Riek Machar terá estabelecido contacto com o Governo de Cartum, no Sudão, país do qual o Sudão do Sul se tornou independente em 2011, depois de décadas de guerra sangrenta: “Se Cartum resolver intervir a favor de Machar, estamos perante uma situação muito grave nesta jovem nação africana.”

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Entretanto, as autoridades do Sudão do Sul já asseguraram aos seus homólogos sudaneses que a situação está segura no país. O presidente sudanês, Omar El-Béchir, contactou Salva Kiir e sublinhou a importância da segurança e estabilidade do Sudão do Sul para as “nações-irmãs”.

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