Conflito no Sudão do Sul alarma Comunidade Internacional
18 de dezembro de 2013O Governo de Juba confirmou os números de mortos, que afirma ter sido resultado de uma tentativa de golpe de Estado. Mas o antigo vice-Presidente do Sudão do Sul, Riek Machar, apontado pelas autoridades de Juba como um dos autores da tentativa falhada, negou, em entrevista divulgada igualmente nesta quarta-feira, a existência de uma tentativa de golpe de Estado: "O que aconteceu em Juba foi um mal-entendido entre os guardas presidenciais”, afirmou Machar, que se encontra em parte incerta.
Na segunda-feira, 16de dezembro, mesmo antes de ter dito uma palavra na conferência de imprensa, o Presidente sul-sudanês, Salva Kiir, deixou claro a todos os presentes a forma séria como encara a situação: pela primeira vez desde que tomou o poder do país mais jovem do mundo, independente há apenas dois anos e meio, não apareceu vestido de acordo com a sua “imagem de marca”: fato preto e chapéu de cowboy. Em vez disso, surgiu perante os jornalistas com o uniforme de comandante das Forças Armadas do Sudão do Sul.
Observadores preocupados
Kiir anunciou que um golpe de Estado contra si teria falhado, garantindo, no entanto, que o país está seguro. O Presidente sul-sudanês culpa soldados fiéis ao seu antigo vice-presidente, Riek Machar, deposto em julho passado, pelos confrontos violentos registrados na noite de domingo, 15 de dezembro, na capital do país, Juba.
A noite de violência e a promessa de justiça de Salva Kiir contra os seus opositores estão a preocupar os analistas. Tem havido grande tensão no país desde que o presidente Kiir demitiu todo o Governo. Este ano, vários políticos do seu partido, o Movimento de Libertação do Povo do Sudão, formaram uma espécie de grupo de oposição ao presidente. E Machar, o líder deste grupo dissidente, anunciou no verão que irá concorrer às eleições presidenciais de 2015.
O recurso à via militar é inevitável?
Annette Weber, que investiga sobre o Sudão do Sul no Instituto de Economia e Polícia em Berlim, frisa que esta foi a primeira vez que surgiu no Sudão do Sul um sinal de diferenciação política:“A estrutura do movimento permitiria a criação de vários partidos políticos. Mas se tivermos em consideração o tempo que esta geração de políticos sudaneses passou em guerras e conflitos, então é quase certo, infelizmente, que eles se concentram naquilo que melhor sabem fazer, que é resolver os conflitos através da via militar.”
Recorde-se que a política sul-sudanesa é completamente dominada pelo antigo Movimento de Libertação do Povo Sudanês (SPLM), que controla mais de 90% dos assentos parlamentares. Desde a independência, o Presidente Kiir tem tentado travar uma corrupção galopante e dominar a rebelião e o conflito no país, um dos mais pobres do mundo, devastado por décadas de guerra. Segundo a especialista Weber, a hipótese de resolver as disputas com a ajuda de eleições e criação de alternativas no palco político caiu por terra no Sudão do Sul.
Rivalidades étnicas
Opinião semelhante tem Marc Lavarne, analista político do Centro Nacional Francês para a Investigação Científica: “A demissão do governo em julho foi já uma mini-revolução, num governo baseado numa coligação de antigos inimigos”. Para este especialista, o ponto de viragem dentro do SPLM aconteceu em 1991.
Na altura, Riek Machar e Salva Kiir eram inimigos, o que culminou numa guerra civil que fez mais de 100 mil vítimas, diz Laverne, e acrescenta: “Já havia essa crispação política, mas também uma rivalidade étnica entre a minoria Nuer, grupo a que pertence Machar, e Dinka, ao qual pertence Kiir”.
Receio de envolvimento de Cartum
James Shimanyula, correspondente da DW no Quénia e autor de vários livros sobre o SPLM e o Sudão do Sul, alerta para os relatos ouvidos em Juba, de que Riek Machar terá estabelecido contacto com o Governo de Cartum, no Sudão, país do qual o Sudão do Sul se tornou independente em 2011, depois de décadas de guerra sangrenta: “Se Cartum resolver intervir a favor de Machar, estamos perante uma situação muito grave nesta jovem nação africana.”
Entretanto, as autoridades do Sudão do Sul já asseguraram aos seus homólogos sudaneses que a situação está segura no país. O presidente sudanês, Omar El-Béchir, contactou Salva Kiir e sublinhou a importância da segurança e estabilidade do Sudão do Sul para as “nações-irmãs”.