Conflito Israel-Hamas divide opiniões em África
13 de outubro de 2023Muitos africanos apelam a um cessar-fogo e ao diálogo entre Israel e os palestinianos, bem como a uma maior proteção dos civis inocentes que se encontram entre os terroristas do Hamas e as Forças de Defesa Israelitas (FDI). A União Africana (UA) e a África do Sul, por exemplo, apelaram a uma cessação total das hostilidades.
As reacções variam consoante os laços de cada país com Israel. No entanto, muitos líderes africanos não se pronunciaram abertamente sobre o conflito em curso. Os que o fizeram, condenaram os ataques terroristas do Hamas, enquanto outros reiteraram os apelos a uma solução de dois Estados.
O Presidente do Quénia, William Ruto, emitiu uma declaração muito firme para condenar os ataques do Hamas contra Israel e instou a comunidade internacional a tomar medidas contra os "autores, organizadores, financiadores, patrocinadores, apoiantes e facilitadores" daquilo que descreveu como actos criminosos de terrorismo.
O Quénia junta-se ao resto do mundo em solidariedade com o Estado de Israel e condena inequivocamente o terrorismo e os ataques a civis inocentes no país", afirmou Ruto numa declaração no X, antigo Twitter.
Em entrevista à DW, o historiador Samuel Kiptoo afirmou que o Quénia e Israel mantêm fortes relações bilaterais.
"O que quer que aconteça a Israel é de grande interesse para o Quénia como país. Quando Nairobi foi atacada em 1998, os israelitas foram dos primeiros a aparecer e a salvar pessoas dos escombros".
Angola, Quénia, Guiné-Bissau e África do Sul estão entre os países africanos que manifestaram a sua preocupação e condenaram o conflito israelo-palestiniano em curso. Estes países apelaram à cessação imediata das hostilidades e instaram ambas as partes a encetar o diálogo.
Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana, afirmou: "A negação dos direitos fundamentais do povo palestiniano, nomeadamente o de um Estado independente e soberano, é a principal causa da permanente tensão israelo-palestiniana.
"O Presidente apela urgentemente a ambas as partes para que ponham fim às hostilidades militares e regressem, sem condições, à mesa das negociações."
"Os países não devem tomar partido"
Para Ibrahim Sendawula, um ativista dos direitos humanos em Kampala, no Uganda, tomar partido só agrava o conflito.
"É surpreendente ouvir os líderes europeus a apoiar os ataques de Israel em vez de apelarem à paz, e também algumas pessoas a celebrar os ataques do Hamas a Israel. Isto é lamentável", disse Sendawula à DW.
Angola e Guiné-Bissau estão também entre os países e organizações que, manifestando a sua preocupação com a situação atual, apelaram ao diálogo e à cessação imediata das hostilidades.
Uma posição que, no caso de Angola, por exemplo, já surtiu criticas. Numa conferência de imprensa, esta quinta-feira, em Luanda, o embaixador israelita em Angola, Shimon Solomon, disse-se "profundamente desapontado" com o país.
"Quem atacou quem? Foi o Hamas que atacou Israel e não foi contra o exército, foi contra inocentes (...) o que pedimos é que condenem o ataque (…) A nossa expectativa, como somos amigos, era que Angola condenasse o ataque. Vemos quem são os amigos em tempos difíceis".
Shimon Solomon salientou que outros países africanos como o Gana, o Quénia ou a Republica Democrática do Congo condenaram o ataque, o que, "infelizmente”, voltou a sublinhar, "ainda não aconteceu em Angola”.
Também em declarações esta semana, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, lamentou a escalada da violência na Faixa de Gaza e a perda de vidas humanas.
"Estamos a seguir com muita preocupação a situação na Faixa de Gaza e apelamos ao cessar-fogo e as pessoas têm que falar. Infelizmente houve um bombardeamento disparado do Hamas, mas mesmo assim, chamamos as duas partes à retenção (contenção) porque há muita perda humana.
Apelos a um cessar-fogo e a uma solução com dois Estados
Moussa Faki Mahamat, da União Africana, apelou a ambas as partes para que "regressem, sem condições prévias, à mesa das negociações para implementar o princípio de dois Estados a viverem lado a lado".
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, declarou: "O recrudescimento da violência em Israel-Palestina é lamentável. Porque é que os dois lados não implementam a solução dos dois Estados? Deve ser condenada, em particular, a prática de alvejar civis e não combatentes por parte dos beligerantes."
O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embalo, apelou a um cessar-fogo na Faixa de Gaza, lamentando a escalada de violência e a perda de vidas humanas.
Embalo acrescentou que, "a Guiné-Bissau, como um país de paz e com uma compreensão da guerra, lamenta sinceramente esta situação na Faixa de Gaza."
"Infelizmente, houve um bombardeamento disparado pelo Hamas, mas, mesmo assim, apelamos às duas partes para se conterem porque há muita perda humana", sublinhou Embalo.
África do Sul oferece mediação
O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa disse na quinta-feira que está pronto para ajudar a mediar o conflito israelo-palestiniano, aproveitando a experiência da África do Sul na resolução de conflitos. Ramaphosa apelou também à abertura imediata e incondicional de "corredores humanitários" no Médio Oriente, para que a ajuda possa chegar às pessoas que dela necessitam urgentemente.
"Continuamos seriamente preocupados com a escalada devastadora do conflito israelo-palestiniano e com as atrocidades cometidas contra as populações civis. Apelamos à cessação imediata da violência e ao exercício da contenção", disse Ramaphosa.
Em toda a África, as actuais batalhas que se desenrolam em território israelita e palestiniano são vistas como uma continuação do conflito israelo-palestiniano mais vasto, e não como uma luta isolada entre o Estado de Israel e o grupo militante islâmico Hamas - que Israel, a UE, os EUA e o Reino Unido designam como uma organização terrorista.
Os dados oficiais de vítimas mortais do conflito apontam para 1.300 mortes em Israel e 1500 na Faixa de Gaza.