Como os malianos do norte veem a missão da ONU
9 de dezembro de 2016Desde abril de 2013, já morreram 100 membros da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA) tornando essa missão internacional uma dasmais perigosas do mundo. A crise continua a fazer vítimas entre a população civil, mas os perpetradores são criminosos comuns, e não mais islamistas.
A população não compreende porque os capacetes azuis não intervêm. Ayouba Touré vende bananas, batata doce e mandioca no mercado de Gao e diz que ali "ganha-se o suficiente para sobreviver porque a situação melhorou, embora ainda continue pior do que antes da crise".
Em 2012, diversos grupos extremistas islamitas ocuparam o norte do país, incluindo Gao. No ano seguinte, tropas francesas e malianas reconquistaram a região. Mas os islamitas continuaram a cometer atentados. Um dos seus alvos são os cerca de 11.000 soldados da missão de paz das Nações Unidas, a MINUSMA, que se encontra no Mali para ajudar a estabilizar o país, por exemplo, através de patrulhas regulares.
Esforços insuficientes
Mas para o comerciante Ayouba Touré esses esforços não bastam. Mesmo que as pessoas em Gao se sintam mais seguras, para além dos limites da cidade, a situação é outra. "Para nós comerciantes, a situação é impossível. Somos constantemente assaltados nas estradas. Os atacantes ameaçam-nos e roubam todo o nosso dinheiro. Sofremos muito", diz.
Touré compra frutas e legumes no sul, em Sikasso e, para isso, tem de percorrer mil quilómetros de estradas, consideradas muito perigosas. Muitas pessoas nem se atrevem a levar o telemóvel e o dinheiro, com medo dos assaltos.
De jeans e chinelos, jovens no local buscam garantir mais segurança. E executam exercícios na poeira vermelha do pátio de uma casa, numa aldeia perto de Gao. Entre eles está uma mulher. Ali, quase ninguém possui arma; mas havendo necessidade, diz Mohamed Younessa Touré, arranjam Kalaschnikows. "Quando alguém pega em armas para nos atacar, somos forçados a procurar armas para nos defendermos. Não há outra solução", diz Touré.
Proteção
Touré é o líder político da milícia de Gao de nome "Compus 15". Ele relata que os seus membros, e aqueles de outras milícias, preferiam entregar imediatamente as armas ao Governo e voltar a ser apenas pastores ou comerciantes. Mas não podem; pois ali, nem o exército maliano, nem as tropas internacionais, os protegem.
E essa crítica é comum no Mali. Os capacetes azuis têm um mandado para proteger os civis que estão em perigo direto. Mas a luta contra a criminalidade é do âmbito estatal e não cabe à missão. Younessa Touré e muitos outros malianos não compreendem tal distinção.
De fato, as pessoas em Gao ainda assim sentem-se abandonadas pelo seu Governo e pelas Nações Unidas e criticam a proliferação de armas no seio da população. "Um civil não tem que ter armas. Se um militar vê um civil com uma arma na mão e não o desarma, então torna-se cúmplice. E, se os soldados não são cúmplices, os seus chefes e o Governo certamente serão", desabafa Touré.