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Como os malianos do norte veem a missão da ONU

Bettina Rühl | ck
9 de dezembro de 2016

A Missão das Nações Unidas no Mali conta com participação alemã. O objetivo é estabilizar o país na África Ocidental, que mergulhou numa profunda crise após um golpe militar na Primavera de 2012.

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Mali Gao Operation Barkhane Kinder und französische Soldaten
Soldado francês em operação na cidade de Gao, Mali.Foto: Getty Images/AFP/P. Desmazes

Desde abril de 2013, já morreram 100 membros da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA) tornando essa missão internacional uma dasmais perigosas do mundo. A crise continua a fazer vítimas entre a população civil, mas os perpetradores são criminosos comuns, e não mais islamistas.

A população não compreende porque os capacetes azuis não intervêm. Ayouba Touré vende bananas, batata doce e mandioca no mercado de Gao e diz que ali "ganha-se o suficiente para sobreviver porque a situação melhorou, embora ainda continue pior do que antes da crise". 

Em 2012, diversos grupos extremistas islamitas ocuparam o norte do país, incluindo Gao. No ano seguinte, tropas francesas e malianas reconquistaram a região. Mas os islamitas continuaram a cometer atentados. Um dos seus alvos são os cerca de 11.000 soldados da missão de paz das Nações Unidas, a MINUSMA, que se encontra no Mali para ajudar a estabilizar o país, por exemplo, através de patrulhas regulares. 

Esforços insuficientes

UN-Soldat auf Patrouille in der Stadt Gao Mali
Foto: Bettina Rühl

Mas para o comerciante Ayouba Touré esses esforços não bastam. Mesmo que as pessoas em Gao se sintam mais seguras, para além dos limites da cidade, a situação é outra. "Para nós comerciantes, a situação é impossível. Somos constantemente assaltados nas estradas. Os atacantes ameaçam-nos e roubam todo o nosso dinheiro. Sofremos muito", diz.

Touré compra frutas e legumes no sul, em Sikasso e, para isso, tem de percorrer mil quilómetros de estradas, consideradas muito perigosas. Muitas pessoas nem se atrevem a levar o telemóvel e o dinheiro, com medo dos assaltos.

De jeans e chinelos, jovens no local buscam garantir mais segurança. E  executam exercícios na poeira vermelha do pátio de uma casa, numa aldeia perto de Gao. Entre eles está uma mulher. Ali, quase ninguém possui arma; mas havendo  necessidade, diz Mohamed Younessa Touré, arranjam Kalaschnikows. "Quando alguém pega em armas para nos atacar, somos forçados a procurar armas para nos defendermos. Não há outra solução", diz Touré.

Miliz Compus 15
Membros da mílicia "Compus 15", no norte do Mali.Foto: Bettina Rühl

Proteção

Touré é o líder político da milícia de Gao de nome "Compus 15". Ele relata que os seus membros, e aqueles de outras milícias, preferiam entregar imediatamente as armas ao Governo e voltar a ser apenas pastores ou comerciantes. Mas não podem; pois ali, nem o exército maliano, nem as tropas internacionais, os protegem.

E essa crítica é comum no Mali. Os capacetes azuis têm um mandado para proteger os civis que estão em perigo direto. Mas a luta contra a criminalidade é do âmbito estatal e não cabe à missão. Younessa Touré e muitos outros malianos não compreendem tal distinção.

Malianos criticam MUNISMA - MP3-Mono

De fato, as pessoas em Gao ainda assim sentem-se abandonadas pelo seu Governo e pelas Nações Unidas e criticam a proliferação de armas no seio da população. "Um civil não tem que ter armas. Se um militar vê um civil com uma arma na mão e não o desarma, então torna-se cúmplice. E, se os soldados não são cúmplices, os seus chefes e o Governo certamente serão", desabafa Touré.