RCA "permite Rússia ampliar influência em África"
15 de abril de 2021Desde o início deste ano, para enfrentar os grupos armados rebeldes da Coalizão de Patriotas pela Mudança (CPC, na sigla em inglês), o Exército da RCA conta com o apoio da missão com 12 mil capacetes azuis da ONU (MINUSCA), militares do Ruanda e da Rússia, além de mercenários russos.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo fala em 535 "especialistas militares". Veículos de comunicação reportam, porém, que somente o grupo de segurança privada Wagner emprega mais de 1.000 pessoas no país.
"Este é um negócio lucrativo. É sabido que as empresas de segurança estão ligadas ao crime organizado e exploram a riqueza natural da República Centro-Africana. O país permite à Rússia mostrar a sua influência no continente africano, a partir de uma localização geográfica central", explica Paul Stronski, especialista em Rússia do Carnegie Endowment for International Peace.
Interesse recente
O interesse da Rússia na República Centro-Africana é relativamente recente. O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo encontrou-se pela primeira vez com o Presidente Faustin Archange Touadéra apenas em 2017. Dois meses mais tarde, Moscovo recebeu uma isenção excecional da ONU para fornecer armas à RCA, apesar de um embargo em vigor.
E em julho de 2018, os primeiros conselheiros militares e mercenários russos do Grupo Wagner começam a chegar a Bangui para, entre outras ações, proteger os altos funcionários do Governo.
Nesta altura, a RCA já emitia licenças de mineração a empresas russas para a exploração de ouro, diamantes e urânio. Segundo Stronski, os objetivos da entrada da Rússia na RCA são políticos, mas também económicos. Seria um movimento para aumentar "a sua influência pelo mundo".
"Do ponto de vista estratégico, a RCA é um bom sítio para começar a estabelecer-se. No país, Moscovo tem procurado dar credibilidade à teoria de que as potências ocidentais são a causa de todos os problemas devido à colonização", explica o investigador.
Resolver os problemas
Assim, acrescenta Stronski, a Rússia pretende passar a mensagem de que, ao contrário da França, conseguirá resolver os problemas do país. Neste sentido, também os funcionários do Kremlin marcam pela sua retórica invulgar.
Em declarações recentes, o embaixador russo em Bangui ameaçou publicamente o antigo Presidente da RCA, François Bozizé, que durante muito tempo contou com o apoio de Paris. Vladimir Titorenko afirmou que "ou Bozizé se afastava da luta armada ou seria liquidado pela força das armas".
Declarações que mereceram duras críticas, por exemplo, de Joseph Bindoumi, Presidente da Liga dos Direitos Humanos da RCA. "O embaixador Vladimir Titorenko excedeu largamente as suas competências como diplomata estrangeiro".
O porta-voz do grupo rebelde Coligação dos Patriotas para a Mudança (CPC), Serge Simon Bozanga, lamentou a "excessiva interferência de um diplomata estrangeiro nos assuntos internos da RCA".