Comando Militar recua e CEDEAO sanciona Bissau
30 de abril de 2012Prossegue o braço de ferro entre o Comando Militar guineense e a comunidade internacional. Esta segunda-feira (30.04) foi a vez da Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO) perder a paciência com os militares e impor sanções diplomáticas, económicas e financeiras a todos os envolvidos no golpe de Estado de 12 de abril.
De acordo com um comunicado da CEDEAO divulgado esta segunda-feira (30.04) após "doze horas de negociações", em Banjul, capital da Gâmbia, entre os países-membros do chamado "grupo de contacto para a Guiné-Bissau" (formado por Gâmbia, Nigéria, Benim, Cabo Verde, Guiné-Conacri, Senegal e Togo) e o general António Indjai, chefe de Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, "tornou-se evidente que [Indjai] não deseja negociar e prefere claramente enfrentar as consequências".
"No final das discussões, nenhum acordo foi conseguido com o Comando Militar e os seus apoiantes”, prossegue o documento, enfatizando que “a rejeição das posições do grupo de contacto significa a imposição de sanções “que começaram “à meia-noite de 29 de abril”.
Indjai: rédeas do golpe nas mãos?
Segundo a agência noticiosa Reuters, que cita "um responsável" da CEDEAO, o órgão ocidental africano está convicto de que António Indjai é o homem por detrás do golpe de Estado e que a sua suposta detenção não passou de uma cortina de fumo. "A delegação da junta telefonava regularmente a Indjai durante as discussões para saber o que fazer", terá dito o responsável da CEDEAO à Reuters. "Foi muito frustrante, mas isso mostrava claramente que ele era o chefe".
De recordar que a detenção de António Indjai foi anunciada ao mesmo tempo em que a do ex-presidente Raimundo Pereira e a de Carlos Gomes Júnior, ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau e considerado o candidato favorito à vitória nas presidenciais cuja segunda volta deveria ter acontecido em abril.
Idas e vindas
Na sexta-feira passada (27.04) o Comando Militar havia aceite o regresso à ordem constitucional, dando como prova de boa vontade a libertação do presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro cessante e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, que se encontram exilados em Abidjan, capital da Costa do Marfim.
Comentando os acontecimentos na Guiné-Bissau o secretário de Estado das Relações Exteriores angolano, Rui Mangueira, frisou que "a situação na Guiné-Bissau é muito delicada", porém a "realização da segunda volta das eleições presidenciais é um imperativo para a resolução da crise".
"Uso da força"
Uma cimeira de chefes de Estado do grupo de contacto da CEDEAO para a Guiné-Bissau está agendada para 03.05 na capital senegalesa Dacar "para tomar todas as outras medidas necessárias, incluindo o uso da força para fazer aplicar as decisões da cimeira" de 26 de abril, em Abidjan, Nigéria.
Os 15 estados da CEDEAO decidiram a 26.04 enviar uma força de estabilização de 500 a 600 militares para a Guiné-Bissau, na sequência do golpe militar. A força deverá facilitar a transição e também a saída dos soldados da Missang, a missão militar angolana de apoio à Guiné-Bissau.
Autora: HFG/Lusa/Afp/Reuters
Edição: Renate Krieger/António Rocha