Chefe da PRM recusa críticas de colega sobre Cabo Delgado
6 de outubro de 2024O comandante-geral da polícia moçambicana, Bernardino Rafael, considera o terrorismo um "fenómeno global" ao qual "não se declara guerra", recusando as críticas do vice-chefe das Forças Armadas, Bertolino Jeremias Capitine, exonerado na última sexta-feira (04.10), pelo Presidente Filipe Nyusi.
Segundo a agência Lusa, há alguns dias, Capitine defendeu, numa palestra na Universidade Joaquim Chissano, que a gestão do conflito em Cabo Delgado, com ataques por grupos terroristas que se registam há sete anos, é baseada no "improviso".
"Os outros países, quando tiveram situação desta, ou não, ou equivalente, declararam guerra. Moçambique, em 2017, começou a chamar de malfeitores", criticou Capitine, que, segundo a Lusa, teria dito que a gestão do conflito é também "informal" e "com algum secretismo".
Nyusi exonerou o vice-chefe do Estado-Maior General as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Bertolino Jeremias Capitine, sem explicar as razões da decisão.
Segundo a Lusa, Bernardino Rafael disse que "o Conselho Nacional de Defesa e Segurança considerou aqueles que eram insurgentes, aqueles que eram malfeitores, que eram combatidos pela polícia, como terroristas. Logo há interferência global [das forças de segurança]".
"Ausência de estratégia"
Capitine questionou uma possível ausência de "estratégia de combate ao terrorismo", acrescentando que ao declarar guerra, "todas as forças subordinam ao Chefe do Estado-Maior General" das FADM, que "despacha diretamente com o comandante-em-chefe das Forças Armadas", o Presidente da República.
"Se não declaramos a guerra, com que base Moçambique convidou a SAMIM [missão militar dos países da África austral, que entretanto deixou o terreno em julho passado]", teria dito ainda o agora exonerado vice-chefe do Estado-Maior General das FADM.
Bernardino Rafael, por sua vez, disse que "o Conselho Nacional de Defesa e Segurança considerou aqueles que eram insurgentes, aqueles que eram malfeitores, que eram combatidos pela polícia, como terroristas. Logo há interferência global [das forças de segurança]", segundo a agência Lusa.
Capitine foi nomeado vice-chefe do Estado-Maior General das FADM, em janeiro de 2021, tendo sido promovido a tenente-general nesse ano, para ocupar o cargo.
Militares fazem segurança de machambas
Camponeses do distrito de Macomia, em Cabo Delgado, começaram a regressar aos seus campos de produção. informação foi divulgada pela agência Lusa. São agricultores das localidades de Namigure e Nambine, que abandonaram suas casas em junho devido aos intensos confrontos.
As famílias foram afetadas pelo confrontos envolvendo as forças armadas e os rebeldes nas matas de Mucojo e Quiterajo, a 40 e 70 quilómetros da sede de Macomia.
Segundo as fontes ouvidas pela agência de notícias, as machambas [campos agrícolas] dos camponeses "continuam intactas" apesar do período de três meses de abandono. O exército moçambicano estaria, segundo a reportagem, a reforçar o patrulhamento nas zonas de produção para oferecer segurança ao trabalho dos pequenos agricultores da região.
Segundo fontes militares, há quase duas semanas, uma operação de militares moçambicanos e ruandeses nas matas do posto administrativo de Mucojo, resultou na morte dez terroristas e um número não informado de militares. O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse que foram "destruídos importantes acampamentos" dos insurgentes, com a apreensão de armamento e material de propaganda.
No mesmo distrito de Macomia, houve em maio e em agosto duas ondas de ataques noticiados e confirmados pelas forças de segurança. Há sete anos, a província de Cabo Delgado, rica em gás, enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista "Estado Islâmico".