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Colectânea junta rappers da cena hip hop lusófona

Regina Cazzamatta / Sofia Diogo Mateus 14 de fevereiro de 2014

Duas produtoras, uma com base em Cabinda e outra em Moçambique, reúnem MCs dos países de língua portuguesa para uma coletânea.

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Logo Submundo Luso vc. 12. TransfusonsFoto: Gelmiro Pireza

Tudo começou quando o produtor da agência Submundo Luso, de Moçambique, entrou em contato com o dono da agência 12 Transfusons, sediada em Cabinda, com a proposta de reunir trabalhos dos MCs do mundo lusófono em uma mesma coletânea.

António Albertino, da Submundo Luso, conhecido mesmo na cena do rap como Tino Vinil, conta como foi essa aproximação com Astérix - o Néfilim, dono da produtora com base em Cabinda.

“Foi pela Internet, através do Facebook que nós entramos em contato e eu propus-lhe a ideia da Mixtape. Ele contou que tinha uma produtora, eu também falei sobre a minha produtora e que tinha um blog. Ele também tinha o mesmo, então entramos em contato e acabamos por falar da Mixtape e coisas assim”, relata Tino Vinil, da Submundo Luso.

Interesses em comum que resultaram no projeto Submundo Luso vs. 12Tranfusons, disponível para download no site das produtoras. Além de promover o trabalho dos artistas de países como Angola, Moçambique, Brasil, Portugal e Cabo Verde, a proposta é estabelecer uma troca de experiência sobre o cenário hip hop.

Intercâmbio musical

“Queremos fazer esse intercâmbio para as pessoas poderem partilhar, ou seja, ter numa mesma coletânea ou na mesma mixtape vários MCs, MCs de Portugal, Moçambique e Angola. Só para vermos qual é o nível dos MCs, qual o trabalho que está a ser feito em cada país, explica Tino. “Aí já dá para perceber qual o país que está à frente; ou qual é o nível de MCs que conquistamos ou que pretendemos chegar”.

A coletânea reúne um pouco de tudo, artistas de renome na cena do hip hop como Ikonoklasta, ou Ikonos para os mais íntimos, outros menos conhecidos e até mesmo um pouco de rap feminino, pela voz de Khris Mc. Também compõem a mixtape nomes como o do consagrado rapper moçambicano Azagaia e Black and Black.

Bildergalerie 12 Tranfusons Nefilim
Produtor e rapper NéfilimFoto: Nefilim Madiba

“Tínhamos o propósito de convidar, de entrar em contato com os MCs para podermos gravar alguns sons novos especialmente para a Mixtape, mas por indisponibilidade de alguns, optamos por levar alguns sons já gravados de alguns MCs que estavam muito ocupados, mas que são sons bem recentes”, relata Tino sobre as dificuldades de mobilizar todos os músicos. “E para outros casos, acabamos mesmo por entrar nos estúdios e gravar os sons para a Mixtape”, conclui.

O produtor da 12 Tranfusons, Astérix – o Néfilim, que também atua como rapper e faz músicas de protestos, conta como ocorreram as gravações.

“Os artistas aqui de Angola, a maioria gravou em nossos estúdios próprios. Nós temos um representante em Luanda através dos nossos parceiros, no caso o Akônituz e o Absinto”, diz. “Então enviamos lá alguns artistas para fazerem a captação dos áudios e depois o material era enviado aqui para Cabinda para ser masterizado e mixado. Já do outro lado, enviavam as músicas já feitas. Aí misturamos e masterizamos o projeto como um todo”, finaliza.

Além da contribuição como produtor, Néfilim também tem uma música sua na coletânea, a Factos (2010-2011) que aborda a falta de democracia, a injustiça e a repressão no seu país.

Rap com Reggae

E esse intercâmbio cultural só se deu mesmo graças à Internet. Faixas de diversas partes do mundo chegaram aos estúdios em Luanda, até mesmo do Brasil.

[No title]

Faraó Chave Mestra conheceu diversos músicos angolanos pela Internet, inclusive Néfilim, que pediu ao pernambucano para gravar uma faixa especial para a coletânea.

Além de mandar um abraço para todos os colegas lusófonos durante a entrevista, Faraó conta um pouquinho mais sobre a composição “Em Busca da Vida”, a faixa 14 do projeto.

“A gente acabou fazendo uma mistura de rap com reggae, usamos um sample do Bob Marley e no finalzinho a versão da música do próprio Bob Marley e mandamos a música para o Néfilim, mas foi tudo produzido aqui em Pernambuco. As vozes foram mescladas e masterizadas aqui e nós mandamos para ele o projeto pronto”.

Rap de salto alto

O projeto ficou ainda mais interessante com a atuação da única MC mulher, Khris, que canta para reivindicar os seus direitos de poder ser ao mesmo tempo rapper e feminina.

“Eu sofro preconceitos assim como outras mulheres que fazem rap. Já tive problemas por já ter ido de salto atuar e as pessoas pediram para eu me descalçar, como se fosse obrigatório, por fazer rap sendo mulher ou não ter que usar ténis e calças largas, esquecendo o meu lado feminino”, pondera Khris.

Bildergalerie 12 Tranfusons Khris Mc
Khris Mc mostra os seus “Skills em Saltos Altos”Foto: Khris Mc

Com a faixa “Skills em Saltos Altos”, Khris pretende mostrar exatamente isso. “Independentemente de fazer o estilo rapper, pode-se ser 100% feminina, pode-se usar salto alto, saias e vestidinhos”, protesta a rapper. Daí o nome da música, o “salto alto que e mulher usa”, explica.

O produtor Tino Vinil também identifica um certo machismo na cena do rap e acredita que nos próximos projetos haverá uma presença maior de mulheres apresentando seus trabalhos musicais.

“Os rappers são mais machistas e não aceitam que o rap seja feito por mulheres. Então o nosso propósito era trazer mulheres para dentro do projeto para mostrar que elas também podem. Para o próximo, acho que vamos ter mesmo muitas mulheres ou muito rap feminino”, diz Tino.

Casada, com dois filhos e estudante de direito, a MC não se deixa abalar pelas dificuldades desse ambiente ainda tão marcado pelo sexo masculino. Acha tempo para se dedicar à música e nunca deixa de correr atrás de seus sonhos. “A mensagem que eu deixo é que os jovens continuem a lutar pelos sonhos, pelos seus objetivos, ir à luta com esforço e dedicação”, finaliza.

Bildergalerie 12 Tranfusons
Lista de músicas da MixtapeFoto: Gelmiro Pireza