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CIP: "A FRELIMO tornou-se um partido de gangsters"

3 de novembro de 2023

Em entrevista à DW, Edson Cortez, diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), denuncia roubo de milhares de votos e acusa a Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique de favorecer a FRELIMO nas autárquicas.

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Marcha da FRELIMO em Chimoio
Foto: Bernardo Jequete/DW

O CIP afirma que a CNE afastou a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) em cinco cidades, roubou 180 mil votos e adicionou eleitores-fantasma para favorecer o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

O CIP diz que investigou os dados eleitorais e constatou que em Maputo houve o "roubo mais óbvio e flagrante", acusando os órgãos eleitorais de atribuirem cerca de 130 mil votos da RENAMO à FRELIMO, retirando mais de 60.000 votos à RENAMO.

Matola, Nampula-cidade, Chiúre e Quelimane são outras autarquias onde o CIP entende que a RENAMO foi roubada para beneficiar a FRELIMO.

Em entrevista à DW, Edson Cortez, o diretor da ONG que observou as sextas eleições autárquicas de 11 de outubro e o processo de contagem de votos em todo o país acusa os órgãos eleitorais de não serem isentos.

DW África: Como explica estes dados?

Edson Cortez (EC): Os presidentes das mesas de votação e os diretores do STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral] fizeram de tudo para dificultar a vida dos observadores eleitorais e encher as urnas de votos, desviar editais, destruir editais verdadeiros para repo-los com editais falsos. E nós conseguimos recolher os editais e fazer a contagem paralela com os nossos observadores. Constatamos que os números não batem com os números da CNE e do partido FRELIMO. Mas os números da RENAMO e do MDM batem.

CIP acusa CNE de favorecer a FRELIMO

DW África: Acha que este cenário mostra uma certa fragilidade do sistema eleitoral moçambicano?

EC: As fragilidades não, a forma como o partido, em vez de preocupar-se em criar políticas públicas para o desenvolvimento de Moçambique, cada vez mais pensa na fraude como um meio de sobrevivência e meio de manutenção no poder. E eu tenho dito e não tenho vergonha de dizer que a FRELIMO tornou-se um partido de gangsters, uma máfia que controla o Estado moçambicano e controla não só os órgãos eleitorais, controla o Executivo legislativo e judicial e vai manipulando a seu belo prazer para se manter no poder.

DW África: Se é assim, porquê essa expectativa sobre a decisão do Conselho Constitucional?

EC: Desta vez, sinceramente quem foi roubado não foram os partidos políticos da oposição. Quem foi roubado foi o povo moçambicano. O povo está farto, está cansado deste grupo de gangsters que dirige o Estado moçambicano para, acima de tudo, preservar os seus interesses individuais. Nestas eleições, as pessoas foram votar para dar um cartão vermelho a estas pessoas, a este grupo de mafiosos. Mas eles, não percebendo, vivendo num mundo à parte, não percebem isto. Usam da fraude e depois estão surpresos por as pessoas estarem a ir à rua, por estarem a reclamar.

DW África: E acha que estas manifestações da oposição têm pernas para andar? Vão mudar alguma coisa?

EC: A paciência do eleitor vai-se esgotar e o país tem todas as condições para entrar numa situação de conflito pós-eleitoral, que até pode não ser causado pela RENAMO, porque a RENAMO entregou as armas supostamente depois do DDR. Mas conflitos pós-eleitorais a nível urbano urbano das pessoas, do cidadão comum que não tem emprego, não tem saúde de qualidade, não tem educação de qualidade, tem um governo a nível central totalmente incompetente e que acha que é o maior visionário e que deve continuar a gerir o país a seu bel prazer. Não é possível, com a forma como Moçambique está, a FRELIMO ter vencido em 64 municípios. É tecnicamente impossível e as pessoas na rua estão a mostrar isso. O braço armado da FRELIMO, que é a Polícia da República de Moçambique, jogou um papel crucial no roubo de votos e de urnas, de fazer desaparecer editais. Então, neste momento, temos um partido armado e esse partido armado é o partido FRELIMO.

Moçambique: As consequências do "desastre eleitoral"