Cimeira da SADC vai decidir saída da SAMIM em Cabo Delgado?
17 de agosto de 2023Os chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) realizam hoje (17.08) em Luanda a 43.ª cimeira ordinária da organização regional. O Presidente moçambicano Filipe Nyusi participa na cimeira, onde é esperado que seja debatida a retirada da força da SADC (SAMIM - Missão Militar da África Austral) de Cabo Delgado.
Em entrevista à DW, o especialista em política internacional Wilker Dias diz que é "prematura" a saída das tropas no próximo ano. Isto porque, acrescenta, as forças moçambicanas não estão ainda preparadas para assumir o controlo da região. Aos microfones da DW, o analista começa por explicar quais os riscos inerentes a esta saída.
DW África: Qual o risco desta saída para a região?
Wilker Dias (WD): Se formos avaliar, existem ainda algumas bolsas dos ataque terroristas e principalmente nos últimos tempos, que têm sido mais contra bases militares, governamentais ou de qualquer outro grupo, e isto pode constituir um certo perigo, porque os terroristas tentam a todo custo abastercer-se de armamento ou de qualquer outro mantimento, para que possam reagrupar-se e posteriormente efetuar ataques.
DW África: Portanto, na sua opinião, não estão ainda reunidas as condições de segurança para esta retirada...
WD: Não vejo ainda as forças moçambicanas ou as tropas moçambicanas com capacidade suficiente para poder assumir o controlo daquela região. Por mais que tenhamos as tropas do Ruanda no terreno, não creio que seja suficiente para já, para garantir a paz na sua efetividade. Isto pode ser perigoso para a própria região.
DW África: O prazo da SAMIM deveria ser prorrogado…
WD: Eu acredito que venha a ocorrer, de certa forma, esta prorrogação. Mas tudo vai depender também muito daquelas que são as condicionantes financeiras, porque nós sabemos que isto exige uma logística extremamente alta e nós estamos apenas verificando, por exemplo, no início do ano, a SADC a poder atuar e fazer um reforço operacional. Quando se fala no reforço operacional, não é apenas na vertente daquilo que são os homens, precisam também ter equipamentos, munições, condições relacionadas a logística alimentar e etc. Tudo isto envolve custos e não há praticamente ainda uma grande fonte de rendimento, por isso é que nós temos visto grandes apelos à União Africana e aos outros órgãos internacionais, porque se nós não tivermos um apoio à SADC ou às tropas da SAMIM, neste caso, como é expectável que ocorra, é uma saída precipitada por parte das tropas e isto vai ser mau para o nosso país.
DW África: Em que é que tem Moçambique de se focar para garantir a segurança na região após esta retirada?
WD: Moçambique deve focar-se, numa primeira instância, na preparação em termos de gestão dos recursos humanos. Os recursos humanos para este tipo de eventualidade constituem uma das prioridades máximas. Um outro aspeto muito importante é o equipar daquelas que são as forças de defesa e segurança do país. E falo do caso concreto de armamento e falo no caso concreto dos barcos, de meios aéreos...Portanto, é importante que nós equipemos com todos os meios que nós temos esta força. Eu falo no caso concreto dos meios terrestres, dos meios aéreos e dos meios marítimos. É importante que haja este equipar e Moçambique não verificou este pressuposto desde aquele que foi o período pós-independência, o período pós-guerra civil, não houve investimentos nesta área. E outra coisa não menos importante, é a questão do controlo das próprias fronteiras.