Cidadãos libertados no Bengo: "Fomos maltratados na prisão"
30 de maio de 2023O tribunal em Caxito recusou-se a pegar no caso por erros de forma, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) viabilizou hoje a libertação dos cidadãos através do pagamento de uma caução de 15 mil kwanzas (o equivalente a 24 euros).
Simão José, um dos cidadãos detidos, diz que, na prisão, viveu dos piores momentos da sua vida: "Fomos maltratados, tanto que eu pedi assistência médica e não permitiram", contou em declarações à DW África.
O caso
Os cidadãos foram acusados de danos materiais e de agredirem funcionários da administração e agentes da polícia durante a demolição de dezenas de residências na zona do Bucula, no sábado (27.05).
Segundo o porta-voz da Polícia Nacional, no Bengo, Paulo Miranda de Sousa, dois efetivos ficaram feridos. "Mesmo com a presença da polícia, criaram barricadas, e a polícia foi chamada a repor a ordem. Foram recebidos com objetos contundentes", disse.
Agora, depois da libertação dos 14 cidadãos detidos no sábado, o advogado de defesa, Zola Bambi, promete processar o Estado.
"Destruíram bens pessoais e, com os danos morais causados, haverá uma ação competente. Além disso, vamos instruir o processo para responsabilizar os agentes sobre as agressões que muitos sofreram", informou.
Demolições
Enquanto isso, as famílias desalojadas queixam-se de não ter para onde ir, dias depois das suas casas serem demolidas. Lembram que as residências foram demolidas sem qualquer aviso prévio.
"Estou desalojado, não sei onde posso ir passar a noite", afirmou um cidadão.
As autoridades justificam que iniciaram, a 27 de maio, a demolição das residências na zona do Bucula por estas terem sido erguidas de forma "ilegal". Ressaltam ainda que, a breve trecho, vão requalificar a zona, que fica ao lado de uma centralidade e de um hospital, com projetos sociais.
Os críticos olham para o projeto com ceticismo, pois duvidam que a população afetada seja compensada.
Ao mesmo tempo, o analista Teixeira de Andrade considera que as autoridades têm de dar mais explicações à população sobre o que aconteceu no sábado: "O relato que temos das pessoas que estavam lá no Bucula é que um jovem saiu em coma e nem conseguia ser reconhecido, porque foi espancado pela própria polícia", diz.