Vítimas continuam a sofrer efeitos das chuvas de fevereiro
20 de julho de 2023Seis meses depois das intensas chuvas em Maputo, há famílias afetadas pelas chuvas de fevereiro passado que continuam a viver em centros de acomodação e relatam cenários de falta de condições básicas.
Anabela Nhantumbo é uma delas: "Só desenrascamos", conta ao repórter da DW África, e adianta: "Ás vezes levo as crianças a casa na minha prima, por causa do espaço que não ajuda. Recebemos alguma ajuda às sextas-feiras e ontem deram-nos um pouco de peixe. A ajuda é mínima. Quando estávamos nas nossas casas dava para alguma coisa. Aqui basta sair e ficamos sem receber apoio. Quem não está, perdeu.”
Já Helena Manuel, que vive no bairro de Hulene, a norte de Maputo, preferiu permanecer na sua residência, apesar desta ter ficado completamente inundada. Agora também enfrenta dificuldades: "Não conseguimos dormir, tens que pisar esta água, não há como ir à casa de banho e as camas estão em cima das caixa. Estamos a passar mal.”
"Água continua à altura das janelas"
Cansada da vida no centro de acomodação, Anabela Nhantumbo tentou regressar à sua residência, nas Mahotas, a norte de Maputo: "Chegamos lá... por causa das cheias a nossa casa está ainda inundada. Hoje mesmo fomos ver e a água ainda chega à altura das janelas.”
David Pedro é obrigado anualmente a viver no centro de acomodação sempre que as águas inundam a sua residência. Conta que faz esta rotina há mais de quatro anos: "Está muito mal isto, toda a estrada está cheia de água. Esse é o problema: o nosso bairro das Mahotas está todo cheio de água e falta o escoamento das águas.”
No centro de acomodação no bairro das Mahotas encontramos Manuel Carlos, que vive no local, desde abril deste ano, e pede ao município que atribua novos espaços às vítimas das cheias: "As famílias que estão aqui precisam de talhões. Começámos a estar aqui desde dia nove de Abril deste ano. Há outras famílias que entraram no ano passado e que já completaram um ano aqui. Nós nunca tivemos essa promessa de talhões.”
Município de Maputo procura soluções
A vereadora de saúde e ambiente no Município de Maputo, Alice de Abreu, diz que a edilidade está à procura de pouco mais de um milhão de euros para resolver a situação de acomodação das famílias desalojadas pelas chuvas na capital: "Fizemos um plano de reassentamento, devidamente orçamentado em cerca de 100 milhões de meticais, e neste momento decorre o processo de busca deste valor para garantir o reassentamento destas famílias.”
Os impostos cobrados no município de Maputo não chegam para cobrir o valor necessário e, segundo Alice de Abreu, há que procurar alternativas: "Tendo em conta que internamente o município não dispõe deste valor, está a trabalhar com o governo central e parceiros para garantir que seja feita esta alocação.”
As chuvas intensas que caíram na cidade de Maputo no dia 8 de fevereiro afetaram pouco mais de duas mil famílias.