Chade à beira de eleições vive aumento de tensão
7 de março de 2024Max Loalngar, líder exilado da Liga Chadiana dos Direitos Humanos (LTDH), está revoltado com o assassinato do opositor Yaya Dillo: "Não tenho palavras, estou destroçado. Penso que esta morte é de todos os democratas, de todos nós que lutamos pelos direitos humanos".
E lembra: "Hoje estamos a falar da morte a Yaya Dillo, poderia muito bem ser a minha ou a de outra pessoa nestas circunstâncias, neste país - a menos que se faça alguma coisa para respeitar a dignidade do ser humano, para afirmar e proteger as liberdades".
Dillo, de 49 anos, que era primo de Mahamat Deby, foi morto quando as forças de segurança atacaram a sede da sua formação política, o Partido Socialista Sem Fronteiras (PSF), na capital do Chade, N'djamena, na passada quarta-feira (06.03). As circunstâncias da sua morte ainda estão por esclarecer.
Mas, o Governo do Chade diz que as forças de segurança atuaram em legitima defesa. Abderaman Koulamallah é o porta-voz do Governo: "Yaya Dillo e os seus partidários estavam a ser seguidos para serem presos. Quando quiseram prendê-los, usaram armas pesadas contra as forças de segurança, que fizeram uso do seu legítimo direito de defesa e atacaram e prenderam essas pessoas".
"Houve quatro mortos do nosso lado, três do lado dos agressores e Yaya Dillo morreu na sequência dos ferimentos", acrescenta.
Eleições à porta
Esta escalada ocorre numa altura em que os chadianos se preparam para votar, a 6 de maio, para pôr fim a três anos de transição após a morte do antigo Presidente Idriss Deby, em abril de 2021. Embora não tivesse anunciado a sua intenção de concorrer às eleições presidenciais, Yaya Dillo estava alegadamente a preparar a sua candidatura contra o Presidente interino Mahamat Deby, filho do falecido Presidente, Idriss Deby.
"Foi claramente um assassínio político", disse à DW o advogado e politólogo chadiano Baidessou Soukolgue, que criticou o período de transição vigente no país: "É evidente que a transição não foi perfeita, mas as autoridades parecem ter controlado a situação. Com o calendário eleitoral recentemente publicado, havia a esperança de sair desta transição."
"Mas este assassinato surge no último momento e terá, sem dúvida, um impacto na confiança da população no processo de transição e nas eleições", antevê.
A morte do proeminente político aconteceu exatamente três anos depois de a casa de Dillo ter sido atacada e a sua mãe morta, disse ainda Soukolgue, diretor executivo do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África (EISA).
A analista política alemã Helga Dickow regressou recentemente de uma viagem ao Chade, onde se encontrou com Yaya Dillo, dias antes da sua morte.
Conta que "Yaya Dillo tinha pedido um inquérito sobre a morte de Idriss Deby e Salaye Deby sempre disse que sabia o que tinha acontecido. Os dois queriam um inquérito sobre as circunstâncias da morte de Idriss Deby, o que Mahamat Deby rejeita."
Helga Dickow diz ainda que "no Chade, há quem afirme que tanto Mahamat Deby como o seu assistente pessoal, Youssouf Boy, desempenharam um papel na morte de Idriss Deby."
Agravamento da ditadura?
Em 2021, o Exército chadiano estava a combater uma insurreição no norte do país. O Presidente Deby terá morrido na linha da frente, depois de ter sido ferido.
A analista do Arnold Bergstraesser Institut, Helga Dickow, disse que deixou N'Djamena em estado de emergência.
"A Internet está constantemente a ser desligada, as casas são invadidas, a eletricidade é desligada durante a noite. Tudo isto são indícios de que estão prestes a acontecer coisas más. Se Mahamat Deby sobreviver a isto, não há dúvida de que ganhará as eleições de 6 de maio. Ele quer livrar-se da palavra "transição” na sua designação", revela.
A analista alemão não visualiza uma mar de rosas: "Penso que vamos assistir a uma ditadura ainda mais brutal do que a do seu pai, porque o rumo está traçado – desde que nada de extraordinário aconteça nas próximas semanas".
A ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) afirmou que "o assassinato de um potencial candidato presidencial" como Dillo levanta "sérias preocupações sobre o ambiente para as eleições previstas para 6 de maio próximo".