Capital da Guiné-Bissau em estado de sítio
8 de fevereiro de 2019Todas as instituições do Estado fecharam as suas portas e a presença das forças de segurança nas ruas de Bissau foi reforçada. Mesmo assim, várias viaturas, casas e lojas foram vandalizadas. Um fumo negro e espesso tomou conta da cidade devido às centenas de pneus incendiados nas rotundas das principais avenidas da capital guineense.
Celso de Carvalho, Comissário Nacional da Polícia da Ordem Pública, em declarações à imprensa sobre a atual situação disse que cerca de 20 jovens foram detidos esta sexta-feira (08.02.) devido a atos ilícitos praticados nas manifestações de alunos em Bissau.
O responsável disse também que, pelo menos, dois agentes da POP ficaram feridos quando tentavam dispersar os jovens que ocuparam ruas de Bissau, durante o dia de hoje, impedindo a circulação de automóveis e queimando pneus nas estradas.
Os cerca de 20 jovens detidos estão a ser ouvidos na sede da POP em Bissau para determinar as suas motivações, disse o general Celso de Carvalho.
Polícia apela os jovens para abandonarem as ruas
Celso de Carvalho afirmou que tentou demover os alunos a não realizarem as manifestações, mas ao perceber da sua determinação colocou os agentes nas ruas. O oficial da polícia lamentou o rumo que as manifestações dos alunos tomaram a partir de um certo momento."Sempre chamamos a atenção de que sabemos como iniciam as manifestações desse género, mas nunca se sabe como acabam", defendeu o comandante da POP, que disse ter visto nas manifestações "caras de pessoas que não eram alunos".
O dirigente da polícia apelou para que os jovens abandonem as ruas e prometeu que os agentes têm ordens para usar a força "se for necessário" para reporem a tranquilidade na cidade de Bissau.
"Vamos pôr ordem, mas se alguém ficar lesionado não é da nossa responsabilidade", avisou o general Celso de Carvalho.
De acordo com o oficial, a POP não tolerará atos de vandalismo ou de perturbações da ordem pública, até porque, disse, o Governo já se comprometeu em atender "todas as reivindicações" dos professores e dos próprios alunos, frisou
Alunos guineenses demarcam-se de atos de vandalismo
O porta-voz do coletivo Carta 21, que reúne alunos de liceus da Guiné-Bissau, Inácio Goia Badinca afirmou à DW África que a sua organização não esteve envolvida nos atos de vandalismo que ocorreram em Bissau, com vários pneus queimados nas ruas.
"Inclusive ouvimos dizer que alguns manifestantes tentaram invadir a casa do primeiro-ministro quando já não estávamos nas ruas", afirmou Inácio Badinca, salientando que a sua organização sempre realizou manifestações pacíficas, mas sempre alertou as autoridades que "qualquer dia a situação podia descambar".
"Pensamos que houve infiltrados nesta nossa manifestação de hoje", observou Inácio Badinca.
Um comandante da polícia "disse que viu um jovem que saiu da prisão há três dias", mas que estava nas manifestações dos estudantes, acrescentou Badinca, que anunciou que os alunos vão continuar a sua luta até que o Governo pague as dívidas aos professores e estes retomem as aulas nas escolas públicas.
LGDH estranha ausência da polícia em protestosTambém, o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto da Silva, disse estranhar a ausência de polícia nas ruas de Bissau, onde alunos queimaram pneus e impediram a circulação automóvel, em protesto pela falta de aulas.
Augusto da Silva, que se mostrou solidário com as reivindicações dos alunos sobre o direito a terem aulas, condenou os atos de vandalismo que tiveram lugar em vários pontos da cidade e criticou a ausência das forças de ordem perante os distúrbios.
"Não se compreende esta ausência da polícia, perante os acontecimentos preocupantes que ocorreram hoje nas ruas de Bissau", observou o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos.
Augusto da Silva salientou que o Ministério da Administração Interna coordena as várias forças policias e tem a responsabilidade de garantir que a tranquilidade pública não seja posta em causa, mas que "estranhamente remeteu-se ao silêncio" perante os distúrbios pela cidade de Bissau.
Apelos à calma e contençãoO dirigente da Liga disse ter dito pessoalmente aos alunos que concordava com as suas exigências do fim da greve dos professores, mas que não estava de acordo com o fecho das estradas e muito menos que queimassem pneus pelas ruas de Bissau.
Augusto da Silva indicou aos alunos que com a sua ação de protestos estavam a colocar em causa os direitos que também assistem a outras pessoas de andarem livremente pela cidade.
O líder da Liga Guineense dos Direitos Humanos pediu calma e contenção aos alunos, exortou a polícia a repor ordem na cidade e apelou os professores para que sejam razoáveis com as suas greves.
Os professores guineenses estiveram em greve entre outubro e janeiro e os alunos das escolas públicas não tiveram aulas durante todo o primeiro período do ano letivo.
Os três sindicatos de professores iniciam segunda-feira mais um período de greve de 30 dias para reclamar os pagamentos de salários e subsídios em atraso há vários anos e aplicação do Estatuto de Carreira Docente.