Cabo Verde: Como combater a criminalidade na Praia?
9 de janeiro de 2023Uma Praia segura em 2023. Este é desejo dos moradores da capital cabo-verdiana, o maior centro populacional do país, que sofre com a criminalidade urbana. O medo e a insegurança reinam no seio da população, que tem assistido a crimes violentos.
Em entrevista à DW, o presidente da Associação Cabo-verdiana de Criminologia, Keven Teixeira, admite que "a situação de insegurança e da criminalidade na capital do país é muito crítica e complexa" e está a agravar-se.
Keven Teixeira confirma que "os cidadãos estão com medo e não acreditam, de certa forma, nas respostas [que estão a ser dadas] pelas autoridades".
2022 foi um ano tenso na capital de Cabo Verde. Foram registados vários assassinatos, assaltos à mão armada, tiroteios e roubos em residências. Muitos desses crimes são cometidos por grupos de jovens delinquentes.
As autoridades dizem estar a adotar medidas para estancar o problema. Aumentaram as operações policiais nos bairros e foi feita uma revisão da lei das armas e munições, com o agravamento das penas.
Medidas "insuficientes"
Contudo, para a Associação Cabo-verdiana de Criminologia, as medidas são "insuficientes" e têm-se revelado incapazes de garantir a segurança dos cidadãos.
"Nós acreditamos que o Estado deve garantir a segurança de todos. Percebe-se que em Cabo Verde tem-se adotado uma política de tolerância zero contra a criminalidade, mas a população continua a reclamar da justiça", diz Keven Teixeira, que frisa que as ofensivas das autoridades contra a criminalidade não têm intimidado aqueles que praticam o crime e que provocam a desordem social.
Também ouvido pela DW, o professor e sociólogo Henrique Varela entende que as medidas punitivas não são "o caminho" para travar a violência. Isto porque, defende, "a criminalidade combate-se com a prevenção e não com a punição. É como a vacina e a injeção".
"Nós tomamos a vacina para não adoecermos, porque ela evita que as doenças cheguem a nós. Mas, se não a tomarmos, vamos adoecer e temos que tomar a injeção. Contudo, não temos nenhuma garantia de que tomando a injeção, nos vamos curar", exemplifica.
Face ao cenário de violência e ineficácia das medidas do Estado, a questão que se põe é: qual o caminho a seguir para tornar a Praia mais segura?
Tanto para a Associação Cabo-verdiana de Criminologia, como para o sociólogo Henrique Varela, a solução passará pela aposta na polícia de proximidade, educação e pelo combate à desigualdade social.
"Temos que investir, sobretudo, na educação. A família deve funcionar como uma verdadeira escola de valores. Ela é a primeira e a principal responsável pela educação moral e social do indivíduo. Se a família funcionar como base da formação do indivíduo, esse indivíduo, quando chega à sociedade, vai ser uma pessoa tolerante e pacífica, que nunca vai partir para a violência e criminalidade, diz o sociólogo.
Para além disso, acrescenta Keven Teixeira, "é preciso criar medidas preventivas, como por exemplo, empoderar mais as associações comunitárias, porque, se o Estado tiver uma grande parceria com essas associações, no sentido de procurar ajudar os mais vulneráveis no reforço escolar e no emprego, ajudará a minimizar a criminalidade nos bairros da Praia".
Há cerca de um mês, o Presidente da República, José Maria Neves, manifestou que a criminalidade na cidade da Praia estava a atingir níveis "dramáticos", classificando o cenário como preocupante. Na mesma ocasião, José Maria Neves apelou à união de todos para a criação de uma cultura de paz e não-violência.