FRELIMO apela a mobilização geral contra o terrorismo
14 de maio de 2021"Os ataques terroristas em Cabo Delgado desafiam todos os moçambicanos, independentemente da tribo, etnia, raça e religião, a empenhar-se contra esta barbárie", afirmou o chefe da bancada da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Sérgio Pantie, no encerramento da sessão parlamentar, esta sexta-feira (14.05).
Os moçambicanos, prosseguiu Pantie, têm "a responsabilidade primária da defesa da soberania", sendo que os parceiros internacionais irão complementar a luta contra os grupos armados que protagonizam ataques na região norte do país.
"O problema do terrorismo em Cabo Delgado é um problema de Moçambique, mas é também da região da África Austral e cada país deve assumir as suas responsabilidades", enfatizou Sérgio Pantie.
O chefe da bancada da FRELIMO defendeu o apetrechamento e modernização das Forças de Defesa e Segurança (FDS) para estarem à altura dos desafios de segurança, manifestando confiança na vitória final contra o "terrorismo".
"Unidos, vamos vencer o terrorismo, a nossa soberania é inalienável", destacou.
Sérgio Pantie também exortou a sociedade moçambicana a reforçar a solidariedade para com as vítimas da violência armada na província de Cabo Delgado.
Após três meses de reuniões plenárias, a terceira sessão da legislatura (e primeira do ano civil) terminou hoje.
As reuniões plenárias ordinárias regressam em outubro, caso não seja convocada qualquer sessão extraordinária, nos termos da lei e do regimento do órgão.
"Que soberania é essa que deixa o povo morrer?"
A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força na Assembleia da República, criticaram o executivo na condução da luta contra os grupos insurgentes na província de Cabo Delgado, durante os discursos de encerramento da sessão parlamentar.
"Os masoquistas deixam o povo morrer e depois pedem apoio internacional. Quem sofre com a guerra em Cabo Delgado é o povo e os membros do Governo não mandam os filhos para combater", disse o líder da bancada da RENAMO, Viana Magalhães.
Magalhães acusou o executivo de ter usado o argumento da defesa da soberania para recusar o apoio internacional para o combate aos grupos armados que atuam no norte de Moçambique.
"Que soberania é essa que deixa o povo morrer?", questionou.
O chefe da bancada da RENAMO classificou a reação inicial do executivo aos ataques em Cabo Delgado - que começaram em 2017 - como uma "inação" centrada no argumento de clivagens entre setores do islão nos distritos afetados pela violência, ignorando a vulnerabilidade dos jovens ao aliciamento pelo extremismo, devido "à pobreza extrema".
Quanto custa a guerra?
Por seu turno, o MDM acusou o executivo de "falta de transparência" nos custos com a guerra em Cabo Delgado, imputando à Assembleia da República responsabilidades na conduta do executivo.
"Questionar os custos e gastos financeiros na contratação de empresas de segurança para fazer face à situação militar que se vive na província de Cabo Delgado não é nenhuma abordagem de estratégia militar. Nós entendemos que a abordagem da situação militar de Cabo Delgado deve ser holística, envolvendo todos os saberes", afirmou o líder da bancada do MDM, Lutero Simango.
Simango rebatia o argumento já apresentado pelo Governo, quando questionado pelos custos, de que a "estratégia militar" em Cabo Delgado não pode ser discutida em público.
"É por demais estranho que enquanto parlamentares, no nosso país, estejamos sujeitos a autocensura na abordagem de problemas que afetam militarmente a província de Cabo Delgado e quanto a inquietações legítimas do envolvimento de empresas privadas de segurança com caráter militar e bélico", declarou Lutero Simango.
O combate ao "terrorismo", prosseguiu, está a ser conduzido com opacidade e pode criar condições para a corrupção, como aconteceu com o "escândalo das 'dívidas ocultas'".
"Esperamos que amanhã não sejamos surpreendidos com outras operações financeiras sem conhecimento da Assembleia da República, pois entendemos que a presença destas empresas [de segurança privada] não é grátis, tem custos e dividendos", afirmou Lutero Simango.
O líder da bancada do terceiro partido moçambicano referia-se ao envolvimento assumido pela empresa de segurança privada sul-africana Dick Advisory Group (DAG) na guerra contra os grupos armados em Cabo Delgado.
A firma anunciou no início de abril ter deixado o território moçambicano, porque o executivo não renovou o contrato que com ela mantinha.