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Cabo Delgado: Erosão dos solos ameaça comunidades de Pemba

DW (Deutsche Welle)
19 de junho de 2024

Moradores de Pemba enfrentam a crescente ameaça da erosão dos solos, que põe em risco casas e escolas. Construções desordenadas e falta de drenagem agravam a situação, enquanto especialistas buscam soluções urgentes.

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Sempre que chove, os moradores de Mahate perdem o sono. Eles não sabem o que está por vir devido à erosão constanteFoto: DW

Milhares de moradores da cidade de Pemba, em Cabo Delgado, Moçambique, enfrentam a crescente ameaça da erosão dos solos, que se agrava a cada ano. Engenheiros e ambientalistas apontam as construções desordenadas e o déficit no sistema de drenagem como principais causas, e propõem medidas para evitar um desastre iminente.

Ermelinda Paulino, residente do bairro Mahate, relata a situação crítica que enfrenta. Perto de sua casa, uma enorme cratera coloca em risco a segurança de sua família.

"Aqui a situação é muito delicada por causa dessa cratera. Essa cova, quando começou, era uma coisa pequena, mas com o passar dos anos está a aumentar e há risco para as crianças; mesmo os adultos podem ter acidentes", disse Ermelinda.

Ermelinda conta ainda que várias casas na região desabaram devido às chuvas, que intensificam a erosão dos solos. Matias Abdala é vizinho de Ermelinda, mas a cratera separa as duas residências e impede um contacto regular entre as duas famílias.

"Isto é uma ilha, e é por causa disso que muitos moradores abandonaram aqui", afirmou Matias.

Casas em risco de desabar por causa da erosão, Bairro de Mahate
Casas em risco de desabar por causa da erosão, Bairro de MahateFoto: DW

Casas em risco

Também há crateras nos bairros de Metula e do Alto Gingone. Neste último, duas escolas, afetadas pela erosão, correm risco de desabar. Cacilda Nhamba, diretora da escola Básica Amizade Moçambique-China, diz que "esta escola básica praticamente está sitiada numa ilha, porque a erosão não só está de um lado, está também do outro lado. A escola fica no meio de duas crateras".

E a diretora está preocupada: "É muito difícil lidar com isto porque havia uma via de acesso na parte exterior da escola e já não existe mais; a comunidade passa no recinto escolar. Isso, em algum momento, perturba o ambiente".

Escolas ameaçadas

Muanlimo Remane, engenheiro civil, aponta as construções desordenadas e a falta de um sistema de drenagem eficiente como causas da erosão. Entretanto, avança soluções: "Uma das formas de mitigar esse fenómeno é construir muros de contenção, criar valas de drenagem e, se for possível, pode-se replantar árvores".

Serafino Mucova, docente da faculdade de Ciências Naturais e especialista em salvaguardas ambientais na Universidade Lúrio em Cabo Delgado, destaca outras causas naturais e humanas que tornam a cidade de Pemba propensa a erosão: "É um efeito antropogénico [causado pelo homem]".

E logo de seguida avança outra causa: "Mas também há um efeito natural, principalmente com a questão dos ventos que se fazem sentir ao nível da costa devido à localização desta cidade próximo ao canal de Moçambique, e é lá onde são ativados muitos dos eventos extremos que são transportados e amortecem na zona costeira em Pemba".

Augusta Lobo da ONG "We World" condena a construção à beira-mar e defende sensibilização das comunidades para as alterações climáticas
Augusta Lobo da ONG "We World" condena a construção à beira-mar e defende sensibilização das comunidades para as alterações climáticasFoto: DW

Soluções propostas

Muanlimo Remane alerta que, sem intervenção, muitas casas desabarão e famílias pobres perderão suas moradias.

Algumas organizações não-governamentais estão a ajudar o município na preservação da cidade de futuros eventos extremos. Uma delas é a "We World", que sensibiliza as comunidades a cuidarem do mangal, através de um do projeto denominado "Clima de Mudanças".

"O mau uso da orla marítima está a causar erosões. Estamos a formar jovens para que façam limpeza de valas de drenagem e façam sensibilização ao nível das escolas sobre como criar resiliência nas comunidades", afirmou Augusta Lobo, da We World.

Satar Abdulgani, presidente do Conselho Autárquico, garante que a edilidade de Pemba tem feito "o máximo" para combater a erosão e envolver a comunidade.

"Com a ajuda de parceiros, tivemos uma intervenção de raiz na escola Maria Mazarelo/Amizade Moçambique-China que estavam em situação de iminente desabamento naquele tempo de chuva", afirmou Abdulgani.

Para outras regiões afetadas, há um projeto aprovado aguardando financiamento para mitigar a erosão antes da próxima época chuvosa.

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