Burkina Faso realiza eleições sob ameaça de jihadistas
20 de novembro de 2020Na capital Ouagadougou, a preferência do eleitorado para as eleições deste domingo (22.11) é clara. Roch Marc Christian Kaboré, eleito Presidente em 2015 no Burkina Faso, concorre a um novo mandato. Os outros 12 candidatos pouco são notados. Kaboré está bem à frente nas pesquisas com mais de 42% das intenções de voto, segundo o Instituto Apidon.
O comerciante Sore Ouesseni decorou a sua loja com pôsteres e fotos do atual Presidente. "No dia 22 de novembro, votaremos em massa para escolher o Presidente Roch Marc Christian Kaboré. Ele tem que vencer as eleições de 2020. Achamos que é bom, porque trabalha muito", diz.
Durante a governação de Kaboré, houve um aumento exponencial da violência jihadista. Desde 2016, o Burkina Faso sofre ataques de grupos terroristas como o "Estado Islâmico” e o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (JNIM), do Mali.
O bloqueio jihadistas
Nos últimos 12 meses, mais de 2,7 mil pessoas foram mortas. Os ataques constantes, sobretudo no norte e no leste do país, também resultaram em mais de um milhão de deslocados.
O conselheiro da Comissão Nacional Eleitoral burquinense (CENI), Issaga Kampo, explica que a violência jihadista vai impedir a votação de milhares de cidadãos. Segundo Kampo, isto não terá um grande impacto no resultado das presidenciais.
"Esta é apenas uma pequena porcentagem. 1.334 assembleias de voto de um total de quase 22.000 provavelmente não vão abrir. O impacto não é particularmente grande. É preciso aceitar isto, razão pela qual a lei eleitoral foi alterada. O que faríamos se as eleições não ocorressem?"
Ainda não está claro quantos deslocados internos poderão votar. São mais de 1 milhão de pessoas afetadas, segundo a ONU. Muitos deixaram as suas casas sem documentos.
Como acabar com a violência?
O maior desafio das autoridades é garantir a segurança no dia das eleições. Na semana passada, 14 pessoas morreram num ataque a um comboio militar. Devido à situação precária de segurança, defensores voluntários passaram a proteger as aldeias contra roubos. As milícias de autodefesa se ofereceram para participar na segurança das assembleias de voto.
A questão chave da campanha eleitoral é como acabar com a violência. As operações militares não foram capazes de resolver o problema. Cada vez mais políticos da oposição se manifestam a favor do diálogo com os terroristas.
Sandrine Nama, coordenadora de programas da ONG Diálogo para a Justiça e Segurança no Burkina Faso, diz que a maioria dos candidatos fala em negociações com os terroristas. "Para eles, essa solução está em primeiro plano. Muitas famílias são afetadas pela violência. Portanto, uma solução deve ser encontrada com urgência e todas as opções serem esgotadas”, opina Nama.
Sore Ouesseni, o comerciante da capital Ouagadougou, não se opõe a negociações com os extremistas. "Isso tem que ser decidido pelo nosso Presidente. Se ele conseguir negociar a paz com os terroristas, por que não?”.
Entretanto, ainda não está claro o que exatamente poderia ser negociado com os extremistas e quem poderia liderar as negociações.