Bolseiros angolanos endividados "à deriva" no Brasil
12 de maio de 2015Setenta e dois estudantes angolanos foram enviados para o Brasil pela empresa Litis Petróleo Company, situada em Luanda, capital de Angola.
O grupo candidatou-se a supostas bolsas de estudos para licenciaturas nas áreas de Engenharia e Ciências Económicas. A seleção ocorreu no segundo semestre de 2014 e, em setembro, embarcaram para o Brasil. Eles foram estudar em duas universidades situadas na região sul do país, a UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense, localizada na cidade de Criciúma, e a Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), situada em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul.
Cada estudante desembolsou cerca de cinco mil dólares como co-participação para garantir o benefício. Além disso, cada candidato teve que pagar a sua própria passagem de Angola até o Brasil. A empresa, segundo os bolsistas, ficaria responsável pelo pagamento das mensalidades, durante os cinco anos de curso. Pagaria também uma verba adicional para custear a estadia, alimentação e transporte, entre outras necessidades básicas. Após a conclusão do curso no Brasil, o estudante retornaria ao país de origem onde trabalharia por mais cinco anos na empresa contratada.
"Essa empresa deixou-nos à deriva e estamos sem saber o que fazer", diz um dos estudantes que está a viver na cidade de Criciúma, no Estado catarinense, e prefere não se identificar.
Despejados de casa
O jovem angolano conta que, na sexta-feira, 8 de maio, ele e os colegas tiveram de deixar o apartamento onde residiam por falta de pagamento - a empresa Litis Petróleo Company não repassou o dinheiro para a imobiliária que alugou o imóvel. A dívida dos estudantes estrangeiros vem crescendo a cada dia que passa. "Estamos com uma dívida alta: o valor da mensalidade, que já é alto, além das dívidas que a própria empresa tinha com a Universidade", refere.
Diplomatas da Embaixada de Angola no Brasil estiveram recentemente em Criciúma para inspecionar a situação dos estudantes. No entanto, não se pronunciaram sobre o assunto. Outro estudante angolano que está em Criciúma, e que também prefere não ser identificado nesta reportagem, pede apoio às autoridades responsáveis.
"Não têm cumprido com as cláusulas do contrato, não temos apoio e necessitamos de apoio", afirma. "Encerrámos o contrato. Cada um está por sua conta. Estamos negociando a dívida com a Universidade."
Sem dinheiro. E agora?
Em entrevista à emissora de televisão pública angolana TPA, Maria Francisco, a mãe de um dos alunos enviados para o Brasil perguntava: "Com essa idade, onde vou conseguir os 1.600 dólares para pagar à Universidade e o dinheiro para ele continuar a estudar?"
Procurada pela DW África, a Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre confirma a matrícula de quatro estudantes angolanos nos cursos de Engenharia Elétrica e Administração. O grupo é bolsista da empresa Litis Petróleo Company, em Luanda, que não paga as mensalidades desde o início do ano letivo. O valor devido não foi revelado pela Universidade, que alega estar em contato com a Embaixada de Angola no Brasil e o Consulado-Geral de Angola para resolução do caso.
A direção da Litis Petróleo foi procurada pela DW, mas não atendeu aos pedidos para dar explicação sobre o assunto.