Bissau: Cada vez mais alunos abandonam as escolas públicas
27 de abril de 2023O setor do ensino público é um dos mais instáveis da Guiné-Bissau. A razão? As sucessivas greves dos professores que, entretanto, reclamam melhores condições de trabalho, pagamento dos salários e a aplicação dos diplomas a seu favor.
Desde o ano letivo 2015/2016, o ensino guineense mergulhou numa das mais longas crises, com o agravante de as escolas estatais agora possuírem menos alunos - eles recorrem, cada vez mais, ao ensino privado para aprender.
O diretor dos recursos humanos do Ministério da Educação Nacional, Moisés da Silva, culpa as sucessivas greves dos professores pela fuga dos alunos.
Alunos desacreditados
"Muitos alunos desacreditaram das escolas do Estado e saíram para as escolas privadas. [Nos liceus] Rui Barcelos da Cunha e Agostinho Neto, [por exemplo, o número de alunos diminuiu] de seis mil para três mil alunos", explicou.
"Significa que muitos professores nestas escolas estão sem horário para continuar a lecionar por falta de alunos", disse.
Mas Alfredo Biaguê, presidente do Sindicato Democrático dos Professores (SINDEPROF), aponta outro motivo para a fuga dos alunos das escolas públicas para as privadas.
"Culpa é do Governo"
O sindicalista acusa o Governo de abandonar o ensino público e diz que esse "abandono levou à fuga dos alunos do ensino público para o privado, e ainda com a facilidade de implantação das escolas privadas, sem gregas nenhuma", disse.
"Por isso temos as escolas privadas em todos os setores [do país], e as condições que nós verificamos na maioria dessas não contribuem para uma aprendizagem condigna", acrescentou.
Para o setor da educação, os dados não são favoráveis à Guiné-Bissau.
Segundo os últimos Inquéritos aos Indicadores Múltiplos (MICS), das crianças que conseguem entrar no sistema educativo guineense, pouco mais de 25% conseguem concluir o primeiro ciclo do ensino básico.
E apenas 17% concluem o terceiro ciclo, equivalente ao nono ano de escolaridade.
Desmantelamento
Segundo o sociólogo Dautarin da Costa, está em curso um processo de desmantelamento do sistema educativo nacional.
"Isto que está a acontecer, basicamente, é o resultado da falta de projeção, de visão e de vontade política para colocar a educação como 'a prioridade das prioridades'", argumenta.
Mas Dautarin da Costa pede seriedade política sobre a questão do ensino e explica que é preciso garantir o funcionamento das escolas públicas para que as pessoas tenham a confiança no sistema.
"As pessoas não saem das escolas públicas porque estão com o dinheiro para ir para o ensino privado, mas saem porque as escolas públicas não funcionam", concluiu.