Arranca em Bissau julgamento de caso de tráfico de droga
25 de fevereiro de 2022A PJ guineense acredita que a droga terá chegado à Guiné-Bissau, a partir de uma rede internacional, com ramificações na Bolívia, passando pelo Brasil, Senegal, Gâmbia, Serra-Leoa até Bissau.
A operação de novembro passado foi denominada pela Polícia Judiciária de "RED". Trata-se de um dos casos de tráfico de droga mais mediáticos no país, tendo sete pessoas como suspeitas, entre as quais um oficial da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e um funcionário de uma das companhias áreas que operam na Guiné-Bissau.
Depois de mais de sete horas de discussão, na primeira sessão de julgamento do caso, Mussa Sanhá, advogado de três dos sete réus, fez o ponto de situação aos jornalistas: "Aconteceu a detenção dos suspeitos que estão a ser acusados pelo crime de tráfico de droga. Mas o que foi objeto da primeira discussão a nível do julgamento, os elementos que foram apresentados e discutidos foram totalmente diferentes dos elementos que constam da acusação."
A primeira sessão do julgamento dos suspeitos do tráfico de droga foi suspensa, esta quinta-feira (24.02), para ser retomada na próxima semana, no dia 3 de março.
Rede desmantelada pela PJ
Os suspeitos começaram a ser julgados cerca de três meses depois de a rede do tráfico, da qual alegadamente fazem parte, ter sido desmantelada pela Polícia Judiciária.
O jurista Cabi Sanhá enaltece a "vontade" das autoridades guineenses em combater o tráfico de droga no país. "É um processo tão complexo; e com os parcos meios investigativos de que dispomos, estamos a falar de um prazo de menos de três meses e o processo já está em fase de julgamento."
"As autoridades deram um prenúncio de quererem fazer alguma coisa e demonstrar à comunidade internacional que estão efetivamente empenhados em resolver e combater, de facto, esta problemática de droga", elogia Cabi Sanhá.
Problema continua
Apesar do início do julgamento, Abílio Có Junior, secretário executivo do Observatório Guineense da Droga e Toxicodependência, diz que o problema continua.
"Sem sombras de dúvida, a questão do consumo e tráfico de droga é um problema sério na Guiné-Bissau, porque nós vemos muitas pessoas, sobretudo elementos das forças da defesa e segurança, políticos e empresários envolvidos no tráfico de droga e crime organizado", sublinha.
Para Abílio Júnior, é preciso "levar a sério" o combate ao tráfico de droga, um fenómeno que "está a levar este país para o caos", diz. "Vamos chegar a um determinado ponto em que a lei da selva é que vai imperar na Guiné-Bissau e as redes do tráfico de droga vão tomar conta do país", alerta.
Preocupado com o problema, o governo guineense criou, em 2018, uma comissão técnica para a elaboração do plano nacional de luta contra o tráfico de droga. A equipa era constituída por magistrados judiciais, PJ e membros das organizações da sociedade civil.